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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

2239 - octógonos e outros polígonos


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4039                              Data: 05 de outubro de 2012
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UM SABADOIDO QUASE EM FAMÍLIA
2ª PARTE

Nesse dia ensolarado, Lopo, meu irmão mais novo, trocou a cidade de Mangaratiba pelo Sabadoido e o Luca agiu à avessas: trocou o Sabadoido por Mangaratiba. Ainda no computador, eu não sabia disso, mas desconfiava que a voz que chegava aos meus ouvidos, grave e em pianíssimo, não era daquele que me trazia, entre outras coisas, cartas, recortes de jornais e presentes de aniversário da Rosa Grieco.
Quando cheguei à reunião, Vagner afirmava que o cavalo substituiria o seu ex-sócio da Loteria Esportiva a contento.
-É um peso de papel. - disse a Gina.
-Falando em papel, a ventania que aconteceu na semana passada foi de espalhar na China os papéis brasileiros.
-Os papéis comprometedores, Carlinhos, que não são poucos. - interveio o Lopo.
-Só do mensalão seriam 50 mil páginas dos autos. - acrescentou o Claudio.
-Mesmo com a papelada sob o cavalo que substitui o Luca, que é pesadinho, voava tudo com aquele vento. - comentou o Vagner.
-O cavalo voaria como Pégasus. - enveredei pela mitologia grega.
E prossegui:
-O Maurício de Nassau já havia feito um boi voar no nordeste do Brasil.
-E você, Lopo?- a pergunta do Vagner ao meu irmão trazia a intenção de mudança de assunto, mas a resposta dada continuou no tema.
-Eu terei de ir a Cabo Frio, pois aquela ventania vergou uma das toras que sustentam a varanda da casa de Cabo Frio, se ela cair, desce tudo com as telhas.
-Uma colega minha, cujo marido mora em Saquarema, viu uma grossa nuvem negra passar ao largo.
-Essa nuvem ia para Araruama e Cabo Frio causando aquele estrago todo. - interrompeu-me meu irmão.
-No jornal Extra, a manchete era que o vento atingiu 110 km/h em Cabo Frio.
-Eu li. - disse o Claudio.
-Até os tornados estão aparecendo no Brasil. - disse a Gina.
-O Lopo conhecia, até então, só o Toni Tornado. - lembrou-se o Claudio com um sorriso irônico.
-Depois eu falo sobre isso. - prometeu o meu irmão mais novo.
-Boto... - começou a falar o Vagner.
-Ah, sim, você me chamava no tempo da Rua Chaves Pinheiro de Boto em vez de Lopo.
-Boto, você se lembra daquele Grande Prêmio Brasil, no autódromo de Jacarepaguá, a que assistimos o treino?
-Claro que me lembro! Foi em 1984 ou 1985.
-Nós nos enfiamos em cada lugar, Boto.
-Nós conseguimos chegar a lugares das escuderias que nem as Marias Gasolinas conseguiram. - enfatizou o Lopo.
-Confundiram vocês com os varredores. - espicaçou a Gina.
-Não se esqueça que o Nélson Piquet limpava o box do Carlos Reutemann e, depois, se tornou três  vezes bicampeão do mundo. - recordou o Claudio.
-Impressionante ver de perto o estrago que o fogo fez na cara do Niki Lauda. As orelhas dele foram comidas pelas labaredas. - disse o Lopo.
-Nós ficamos quase cara a cara com o Niki Lauda, Boto.
-Só havia pilotos de primeira categoria ali, na Mac Laren, o Niki Lauda e o Alain Prost, havia mais o Nélson Piquet, o Aírton Senna, que começava a despontar...
Claudio foi interrompido pelo irmão mais novo, que comentou meio irado:
-E o Rio de Janeiro conseguiu perder a primazia de patrocinar um Grande Prêmio de Fórmula 1 para a São Paulo da Erundina da Silva.
-Vocês tem visto a minissérie da TV a cabo Boardwalk Empire? - mudei de assunto.
Claudio me respondeu de uma maneira oblíqua.
-Certamente, o Lopo assiste, pois não perdia um seriado da televisão das décadas de 60 e 70: Missão Impossível, Agente da Uncle, O Homem de Virgínia, Cimarrom, Rota 66, o Fugitivo...
-Acompanhei durante séculos o Fugitivo, a busca do Dr. Richard Kimble atrás do assassino da mulher, e quando chega no último capítulo, falta luz na rua Chaves Pinheiro.
-É muito azar. - lastimou o Vagner.
-Ainda consegui uma casa, onde havia luz, e assisti ao final de O Fugitivo.
-Eu não era assíduo como o Lopo em acompanhar o Richard Kimble da televisão, perdi o final, e, depois, vi o filme com o Harrison Ford, no início dos anos 90. -manifestei-me.
-Mas o filme deixa a desejar em relação ao seriado. - comparou o Lopo.
-Voltando à minissérie Boardwalk Empire...
-O que tem? - demonstrou o Claudio impaciência.
-Eu apreciei toda a primeira série, de dez capítulos, quanto à segunda série, vejo a reprise, que é transmitida no HBO 2.
-É mais uma história da máfia. - disse o Lopo.
-Atualmente, para mim, pelo menos, o enredo se refere à célebre luta de boxe entre o Jack Dempsey e o Georges Carpentier. Essa luta aconteceu em 1921 e foi a primeira a ser transmitida pelo rádio.
-O rádio não tinha nem chegado ao Brasil em 1921. - garantiu o Claudio.
-Depois eu vou averiguar isso no Google. - duvidou a Gina.
-Os espectadores eram 80 mil e o faturamento foi superior a 1 milhão de dólares. 
-A minissérie informa isso tudo? - estranhou a Gina.
-Boardwalk Empire mostra a luta através da transmissão radiofônica; sabe-se, assim, que estiveram presentes Henry Ford, Rockfeller, artistas célebres de Hollywood...
-Quem ganhou? - quis saber o Vagner.
-Jack Dempsey. - respondi.
-Hoje, o boxe perdeu espaço para o MMA. - declarou o Lopo.
-Lopo, isso não é a luta livre americana requentada que o a TV Continental transmitia?
-Há diferenças, Claudio. - retrucou.
-O papai, e mesmo a mamãe, se reportava a uma célebre luta entre o Hélio Gracie e o Valdemar Santana, vencida por este, que era bem mais moço. Há poucos meses, li uma crônica do Nélson Rodrigues sobre esse embate e a surpreendente derrota do Gracie. Segundo o Nélson Rodrigues, essa vitória lavou a alma dos mais fracos, que até os maridos que não diziam um ai, em casa, passaram a enfrentar a mulher.
-Sim, Carlinhos, mas as lutas do Valdemar Santana que presenciamos foi contra o Carlson Gracie, sobrinho do Hélio.
-Claro, Lopo.
-E foi o Rieckson Gracie, que não perdeu luta alguma das quatrocentas e tantas, que inventou o octógono, em vez do ringue quadrado e que está enriquecendo os promotores do MMA ou UFC. - afirmou o Lopo.
Subitamente, a folha de flandres da porta da garagem, onde estávamos, estrondou. Daniel, que chegara da sua caminhada, desferiu um potente chute na mesma. Sentiu-se ele, porém, decepcionado ao deparar-se com todos serenos em seus lugares.
-Cadê o Luca? - indagou.
-Não veio. - respondeu a Gina.
-Poxa, ele é a minha vítima preferida desses sustos. - lamentou.

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