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quarta-feira, 25 de julho de 2012

2190 - o barato do biscoito

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3990                                          Data: 19 de julho de 2012
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OS TAXISTAS E OS  ASSALTANTES

-Está cada vez mais insuportável viajar de metrô. - desabafei no táxi 009, do Gaguinho, ainda com um zumbido nos ouvidos.
-Muito cheio?...
-Não é só isso; falam nos celulares aos berros; expõem a sua privacidade sem a menor cerimônia. Ora, eu não tenho nada com isso, e nem quero ter! Que falem baixo!
-Já notei que você não assiste ao Big Brother Brasil.
Desconheci o seu aparte e prossegui na minha indignação.
-Mesmo quando os passageiros conversam entre si, só se houve bobagem: pagode, baile funk...
-Não tocavam música clássica nas estações do metrô?
-Isso foi anos atrás quando, nos últimos meses, eu só ouvia duas composições: o primeiro movimento da “Sinfonia Titã”, de Gustav Mahler, e “Quadros de Uma Exposição”, de Mussorgsky.  Depois de ouvi-las todos os dias, eu imaginei que roubaram a discoteca do Metrô e só deixaram esses dois discos.
-Uma música que agrade aos nossos ouvidos é, pelo menos, um oásis no meio de tantas besteiras que se falam à nossa volta. - observou.
-Acabo me tornando um daqueles socialistas brasileiros que querem muito bem às pessoas do povo, mas eles aqui, nos trens do metrô e da Central do Brasil, e ele em Paris.
-E o Hugo Chávez que não conseguiu manter o Fernando Lugo, no Paraguai, mas meteu a Venezuela no Mercosul?... Para mim, um sujeito que se aproveita da batina para fazer filho nas carolas é muito safado. - disse ele.
-Eu não discuto isso; eu vejo o problema paraguaio por outro prisma. Existe meio milhão de brasileiros nesse país, chamados de brasiguaios, que cultivam a soja e transformaram o Paraguai no quarto ou quinto exportador mundial dessa mercadoria. O Fernando Lugo, em nome do seu socialismo estrambótico, não mexia uma palha em defesa dos brasiguaios, quando eles eram atacados pelos sem-terra de lá.
-A nossa política externa comeu mosca; aliás, nós sempre seguimos a vontade do Hugo Chávez. - observou.
-Dizem que ele ameaçou cortar a entrega de combustível ao novo governo do Paraguai, mas a Dilma Rousseff reagiu: se ele fizesse isso, o Brasil não deixaria os paraguaios desabastecidos.
-Se for verdade, eu aplaudo a presidente. - declarou.
-Por outro lado, aceitou a Venezuela no lugar do Paraguai, no Mercosul. Mas com esse protecionismo exagerado, principalmente da Argentina, o Mercosul está fadado ao fracasso. - manifestei-me.
-Soube que o dólar subiu alucinadamente na Argentina.
-A Cristina Kirchner afunda cada vez mais o seu país. O protecionismo lá chegou ao ponto de uma empresa, para importar 1 dólar, tem de exportar 1 dólar. Assim, empresas fabricantes de celulares, por exemplo, que necessitam de componentes de fora da Argentina, têm de exportar garrafas vinho. É a economia do uno por uno.
-Espero que o Brasil de amanhã não seja a Argentina de hoje. - disse, enquanto parava o carro na Rua Modigliani.
No dia subsequente, peguei o táxi 045, o do Gordinho.
-Podia aparecer o sol para, pelo menos, esquentar um pouquinho. - comentou.
-Está difícil fazer até a barba.
-Você molha o rosto, não molha? Eu jogo talco e, depois, passo o barbeador elétrico.
-Primeiramente, eu emplastro a barba com creme, mas antes eu pincelo a cara com água fria. Após isso tudo, raspo com uma lâmina inspirada na Gillette.
-A água fria fica distante da minha barba. - afirmou.
-De manhã cedo, eu caminho e como a friagem ajuda, eu acelero bastante as minhas passadas, assim, consigo entrar no chuveiro de água fria; não posso, porém, deixar o intervalo da caminhada para o banho chegar a cinco minutos, senão eu congelo.
-E a temperatura está por volta de 20º. - sorriu.
-Digamos que, na hora das minhas caminhadas, a temperatura esteja por volta de 17º.
-Eu também caminho de manhã, foi exigência do médico para eu emagrecer e controlar a pressão arterial.
-As caminhadas só trazem benefícios. - empolguei-me.
-Também para os assaltantes...
Atingido o objetivo dele de me deixar intrigado, esclareceu:
-Com a chegada do inverno, ainda está escuro às 6h da manhã. Eu caminhava por volta das 5h 30min pela calçada da igreja do bispo Macedo, quando vislumbrei um tipo suspeito um pouco à frente de mim. Estávamos separados por um tapume, pois aquela calçada está em obra.
-Será que virão pedras de Jerusalém? - aparteei.
-Não sei por que eu pisaria a terra, mas resolvi dar meia volta. De esguelha, vi que o sujeito também girou 180 graus. Continuei calmamente sabendo que seria assaltado. Ele então disse: “perdeu”, puxou o meu fone de áudio, plugado no meu radinho sintonizado na Ceci Melo, a locutora de notícias da Rádio CBN. Por instinto de defesa, segurei o fio e ele levou a mão à cintura. “Quer levar um tiro na cara?” Notei que ele olhava por cima da minha cabeça, demonstrando mais medo do que eu.
-Os vigias da igreja ficam por ali e com a escuridão, tornam-se invisíveis.
-Eu seu disso, por isso, eu torci mais do que o assaltante para que nenhum vigia estivesse ali, vendo o assalto, pois eles poderiam atirar e me acertar.
-E o assaltante com medo. - adiantei a narrativa dele.
-Com tanto medo, que não viu o meu relógio de 100 reais e o meu tênis de 200. Levou, apressadamente, o meu radinho e o áudio, que não devem valer 5 reais.
-Não valeria um pouco mais? - pus em dúvida a sua avaliação.
-Para você ter uma ideia, nesse mesmo dia, fui à Casa e Vídeo e comprei o radinho para enganchar no cós da bermuda e o fone de áudio  por 14 reais; o que o meliante levou  estava com o gancho partido e precisando de pilhas novos.
-Tudo por 5 reais.- resumi.
-Se os vigias do bispo Macedo estivessem lá, atirando, eu corria o risco de morrer por 5 reais. Quanto aos assaltantes, a vida deles não valem mais do que isso. - disse, enquanto me deixava na Rua Modigliani.


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