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quinta-feira, 12 de julho de 2012

2182 - mulatos e mamelucos, um biscoito cafuzo


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3982                                       Data: 07 de junho de 2012
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CARTAS DOS LEITORES

-Tenho lido os versos que a Rosa Grieco tem escrito para o Elio Fischberg. Ele não retribui? Capitão Furacão.
BM: Retribui sim, caro amigo. Ela também inspira o seu “muso”, que larga, por momentos, o jargão jurídico e se dedica a contemplar a natureza e a escrever poesia. Eis os versos que ele nos mostrou, ainda envergonhado de os pôr aos olhos da sua musa inspiradora:
“Os versos que tu fazes para mim
Revelam-me uma Rosa de um jardim
Que, entre todas as flores, se salienta.
Mesmo distante sinto, quando venta,
O seu perfume que encanta e inebria.
 Rosa, eu penso em ti todo santo dia.”


Li a edição do Biscoito Molhado sobre a visita do Professor Maurício de Medeiros, mas me senti insatisfeito com o único parágrafo dedicado ao seu filho, combatente da Segunda Guerra Mundial. Capitão Aza
BM: Caro Capitão Aza, o Dieckmann pesquisou sobre os feitos de João Maurício Campos de Medeiros, na Itália e escreveu um extenso asterisco na edição que distribuiu. Como não são todos os leitores que recebem este periódico através do “Holandês Voador”, nós vamos transcrever a seguir o que foi redigido por ele.
“(**) 2º Tenente Aviador JOÃO MAURÍCIO CAMPOS DE MEDEIROS.
 Conhecido como "Boulanger" (padeiro, em francês), nasceu no Rio de Janeiro em 15/04/1921. O apelido lhe vem de Cabo Frio, quando andava pelos 15 anos e manteve uma transa com o pessoal feminino de uma padaria (boulangerie) local, que terminou em uma corrida noturna até o Rio.
Ainda criança, foi viver em Paris, onde completou o primário
retornando ao Brasil com 10 anos. Escolheu a agronomia como profissão,
tendo cursado até o 2º ano. Ao tomar conhecimento da criação do
Ministério da Aeronáutica (20 Janeiro de 1941) veio para o Rio tratar
de seu ingresso na Escola de Aeronáutica dos Afonsos. Seu curso foi brilhante, destacando-se na pilotagem como um dos melhores da turma. Por seu mérito, foi escolhido como instrutor de voo, quando saiu Aspirante Aviador. Declarada a guerra, foi voluntário para compor o 1º Grupo de Caça.  Em Aguadulce, já como integrante do Grupo, destacou-se principalmente no tiro aéreo, quando ocupou o primeiro lugar. Esportista, excelente dançarino, sempre alegre, foi figura de primeiro plano em todas as nossas comemorações. Obteve com o P-47, o mesmo
sucesso conseguido com o P-40 no Panamá. Medeiros, antes de embarcar para o Teatro Europeu, comprou em N.York um par de pantufas, um robe de chambre estilo chinês e um cachimbo. Iria inaugurar esse material no acampamento de Tarquínia... “Um espetáculo à parte no acampamento era a ida de Medeiros ao
banheiro. Calçava pantufas, vestia o robe chinês, punha um capacete de
aço na cabeça e marchava solene para o banheiro que, diga-se de
passagem, era a céu aberto. Enterrava as pantufas na lama e chamava a
atenção de todos... No dia 2 Janeiro de 1945, voando na ala do Dornelles, ao atacar uma locomotiva na estação de Alessandra, seu P-47 foi atingido mortalmente. Estava baixo, mas, em uma fração de segundos, abandonou o
aparelho. Antes do salto, ainda teve tempo de comunicar aos
companheiros que iria deixar a aeronave. Não havendo tempo nem altura suficiente para desviar o paraquedas dos fios de alta tensão, veio a chocar-se com os mesmos, sendo eletrocutado instantaneamente. A confirmação de sua morte, só a tivemos depois da Guerra.
 Ninguém da sua esquadrilha percebeu o detalhe do choque com fios de alta tensão. Para todos, o Medeiros estava salvo, indo passar o resto
da Guerra em um Campo de Concentração. Morreu lutando... Seu nome hoje engalana o Centro de Civismo da Escola Supletiva Cantagalo, no Rio de Janeiro”.  
Maj.- Brig.- Ref. Rui Barboza Moreira Lima – Extraído do Livro SENTA a PÚA.

-Manoel Bomfim foi citado nas visitas do Olavo Bilac e do Professor Maurício de Medeiros à casa do redator do BM, mas falar dele sempre é pouco. Gílson Amado
BM: Sim, sempre é pouco falar em homens como Manoel Bomfim, como o Professor Maurício de Medeiros e, no entanto, ninguém sabe, hoje, que eles existiram, enquanto a celebridade coroa tantas mediocridades.
Manoel Bomfim defendeu a miscigenação que ocorreu historicamente no Brasil, valorizou-a e se colocou contra a grande maioria dos intelectuais da época que consideravam o povo brasileiro infantil e semibárbaro, defendendo o branqueamento da população para neutralizar o “defeito de formação étnica” do brasileiro.
Manoel Bomfim via, acertadamente, na educação o remédio para o avanço do Brasil, para a emancipação das classes populares. O sentido libertário que atribuía à educação é um dos princípios básicos para a construção da cidadania.
Jovem, Manoel Bomfim lançou, em 1905, o livro América Latina, Males da Origem, e, com isso, defrontou-se como o denominado “rei da polêmica”, Sílvio Romero. Este defendia a teoria do embranquecimento da raça para a saída do Brasil do atraso. Manoel Bomfim desmontou peça por peca essa convicção que, como já dissemos, era de quase todos os intelectuais brasileiros da época.
Manoel Bomfim antecipou as ideias de muitos pensadores estrangeiros e do Brasil, entre eles, Gilberto Freire e Darci Ribeiro. Este considerou Manoel Bomfim o mais original pensador da América Latina.

-Você quis mesmo escrever, quase no final, “rega-bofe”? Nunca ouvi ou li assim. Lembrei-me de regabofe. Elio Fischberg
BM: Meu amigo Causídico Verborrágico se refere à edição do Biscoito Molhado sobre o “Último Baile da Ilha Fiscal”, que frequentamos como penetras.
Meu caro Elio, tenho de, mais uma vez, recorrer à frase do Caetano Veloso, atarantado porque confundiu acendo grave com agudo: “Ou foi falha de memória senil ou autossabotagem neurótica”. Explico.
Li uns quinze livros da saga da família Rougon Macquart, obra literária gigantesca de Emile Zola, que retratava o segundo império francês. Eu adquiri esses livros em sebões, por volta da década de 70, em edições portuguesas, ou seja, com a tradução na linguagem de Portugal. Assim, deparei-me com palavras como chichisbéu (galanteador), assarapantado (cheio de espanto), estopada (chatice), e com expressões como “Não me chegues a mostarda ao nariz” (não me provoque).
Li, entre outros, os romances “A Taberna”, “Naná”, “Germinal”, “A Obra-Prima”, “O Senhor Ministro”, “A Besta Humana”,  “A Derrocada”, “O Regabofe”... Sim, o romance de Zola, editado em 1871, “La Curée”, que significa no dicionário que eu comprei para ler as cartas da Rosa no original, “parte da caça que se dá aos cães”, foi traduzido como “Regabofe”.
Anos se passaram, e andei me deparando com rega-bofe em textos menos inspirados, e até no dicionário de português Michaelis; não é, ainda assim, desculpa para eu errar agora. Elio tem toda a razão de me corrigir. Ou não?...




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