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quarta-feira, 18 de julho de 2012

2185 - entre riquixás e vinagretes


O BISCOITO MOLHADO
Edição 3985                                     Data: 14 de julho de 2012
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DA  ORIGEM  DO  TÁXI  AO  BOB  ESPONJA

A caminho da estação de Maria da Graça, aproveitando que havia espaço no vagão do metrô para eu colocar um livro à minha frente, tratei de ler, no caso, a origem dos táxis. Eis o que aprendi nos poucos minutos de leitura.
O serviço de táxi começou, praticamente, com a civilização. O primeiro, ao que parece, foi o riquixá, carro de duas rodas puxadas por um só homem, que vemos nos filmes sobre a Antiguidade.
Na Roma Antiga, surgiram as liteiras levadas por dois ou quatro escravos que transportavam quem pedisse seus serviços e, obrigatoriamente, seus donos. Foi na Roma Antiga que despontaram os veículos com rodas, mas esses “táxis” não eram utilizados na sua função por causa das movimentadas vias de comunicação da metrópole.
A Queda do Império Romano do Ocidente representou o fim do transporte público e privado.
Na Idade Média, apareceram as carruagens, ainda rudimentares, movidas à tração animal, que assegurou o transporte de pessoas. No Renascimento, as carruagens foram mais bem elaboradas, receberam ornamentos, coberturas e até cortinas.
Em Londres, 1605, precisamente, fizeram-se presentes as primeiras carruagens de aluguel, as Halkneys; vieram, em seguida, as Sociables, em Paris. Os Landaus e os Landaulets são carruagens alemãs desse tempo. Pouco depois, na França e na Inglaterra, lançaram os Gigs, Tilbury e Cabriolet.
O primeiro táxi motorizado foi visto em 1896, na cidade alemã de Estugarda. Em 1897, Freidrich Greinar abriu uma empresa concorrente, na mesma cidade, com uma diferença fundamental: os seus carros estavam equipados com um sistema de cobrança, o taxímetro.
A implantação dos táxis foi generalizada em 1907. Nesse mesmo ano, em Paris, todos os carros de aluguer tinham de possuir obrigatoriamente, por lei, um taxímetro. Antes da Primeira Guerra Mundial, já todas as grandes cidades americanas e europeias tinham serviços de táxis legais e pintados com cores diferentes. Desde então, as alterações foram poucas, as mudanças eram no próprio carro.
Com a chegada do trem do metrô em Maria da Graça, guardei o livro na mochila e rumei para o ponto de táxi da Rua Domingo de Magalhães. Saindo da última rampa, vi grande parte da turma de taxistas no seu posto à espera dos passageiros. Lá estava o Machado.
Será que o Machado, em vidas passadas, foi carregador de riquixá?...
E o Dedão do Arqueiro Inglês, será que ele transportou Júlio César numa liteira?
Bob Esponja, não sei por que, parecia-me que foi cocheiro de Tilbury e levou, sem saber, Jack, o Estripador ao seu destino.
Eram essas as minhas perguntas e minhas cismas sobre as vidas passadas até atravessar a Rua Domingo de Magalhães e entrar no táxi 045 do Gordinho.
Ele é um personagem bissexto nas edições do Biscoito Molhado sobre os profissionais da cooperativa Metrô-Táxi, fiquei, por isso, em dúvida: sabe ele ou não o meu destino?... Ainda assim, aguardei que ele tomasse a iniciativa. Como o Gordinho se manteve calado durante parte da corrida, intuí que ele soubesse que eu queria ir para a Rua Modigliani. Quando uma viatura policial passou por nós em sentido contrário, ele quebrou o silêncio.
-Eles deveriam estar a três quilômetros daqui, no Jacarezinho.
-Soube que houve uma escaramuça entre policiais e traficantes do Jacarezinho. - manifestei-me um tanto timidamente, pois não atento muito para o noticiário de crimes.
-Prenderam o traficante da favela, o Diogo. Então, a turma dele invadiu a 25ª DP, para resgatar o sujeito.
-Pelo que ouvi no rádio, conseguiram. - aparteei.
-Conseguiram, mas a polícia invadiu o Jacarezinho e já matou quatro.
-Por isso, um colega meu, que chega ao trabalho de bicicleta, informou-me que as coisas estavam pretas pelo lado do Jacarezinho.
-Bandido é muito burro, por causa de um, já perderam quatro. Esse Diogo não dura muito também.
-A pouca inteligência desses traficantes é indiscutível. - concordei.
O Gordinho se animou.
-Você viu na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão?... Eles desafiaram a polícia e viram cair sobre eles a polícia militar, a polícia civil, o BOPE, o Exército...
-A Marinha, não esqueça a Marinha que, com aqueles tanques de fabricação suíça, ultrapassou os obstáculos que eles colocaram no caminho. - acrescentei.
-Bem lembrado, a Marinha.
-Rua Modigliani. - falei como se colocasse um ponto final na nossa conversação.
No dia subsequente, peguei o carro do Bob Esponja.
-Estou mais ou menos. - antecipou-se a uma pergunta sobre ele que eu não fizera.
-Levei o rádio do meu táxi para o conserto e a coisa vai ficar em 280 reais. Vou ter de rodar muito para cobrir esse prejuízo.
-O táxi, desde a implantação do taxímetro, recebeu poucas modificações, mas uma delas foi a entrada do rádio através das cooperativas. - manifestei-me com o cuidado de não me mostrar erudito.
-Sem o rádio, temos de pegar o passageiro da maçaneta.
-É aquele passageiro que sinaliza para o taxista na rua?...
-Esse mesmo; a minha sorte é que um amigo me emprestou o rádio.
Como o Bob Esponja fala muito e escuta pouco, prosseguiu:
-Para tirar o meu prejuízo, tenho como quase certa uma corrida para Campo Grande, serão 200 reais na minha caixinha.
Pensou em voz alta nas outras maneiras de conseguir em curtíssimo prazo os 280 reais até me deixar no meu destino.
No dia seguinte, embarquei no carro do Cláudio, o Gaguinho, antes, porém, um dos seus colegas esticou o braço e pediu para que eu não entrasse logo no carro. Em seguida, espanou com a mão a suposta poeira que havia no banco em que eu sentaria.
-Agora sim, o carro está em condições de receber o meu amigo.
Quando ele se afastou com a expressão de quem exagerara na cerveja, comentei com o Gaguinho.
-O pessoal do ponto do ônibus, ali em frente, olhou espantado para o que ele fazia.
Gaguinho reagiu com um balançar desolado de cabeça.
Como ele é a pessoa em que mais confio de todos ali, contei-lhe sobre as peripécias do 081.
-Entrou naquela rua à esquerda, que vamos passar agora, mesmo eu lhe dizendo que era contramão.
-Ele é maluco. - diagnosticou.
Quando parou em frente à minha casa, o carro dele retrocedeu e bateu numa falha do asfalto, porque o freio de mão estava escangalhado.
-Ele é maluco. - insistiu o Gaguinho.
48 horas depois, estava eu de novo no carro do Bob Esponja;
-E o rádio do táxi?
-Amigo, o defeito não foi o imaginado: em vez de 280 reais, o conserto ficou em 30. Papai do céu ajuda quem trabalha.
Nesse instante, tirou o celular do bolso, deu uma olhada no visor e fez cara feia.
-São essas mulheres que a gente pega na internet; agradam por alguns momentos, mas, depois, falam muito. Mulher é uma desgraça quando abre a boca.
E passou toda a corrida sonhando em voz alta com as mulheres mudas.

(*) O Departamento de Pesquisas do seu O BISCOITO MOLHADO obteve na Wikipédia o seguinte texto:


A pintura de 1707 "Les deux carrosses" de Claude Gillot mostra uma carroça tipo riquixá em uma cena cômica. Essas carroças, conhecidas como vinagretes por causa de sua semelhança com os carrinhos de mão de produtores de vinagre, foram utilizados nas estradas de Paris nos séculos XVII e XVIII. (Fresnault-Deruelle, 2005) 


Os riquixás surgiram no Japão por volta de 1868, no início da Restauração Meiji. Eles logo se tornaram um meio de transporte popular, pelo fato de serem mais rápidos que as liteiras utilizadas anteriormente (e o trabalho humano era consideravelmente mais barato do que a utilização de cavalos).
A identidade do inventor (se houve um) permanece incerta. Algumas fontes citam o ferreiro estadunidense Albert Tolman, a quem é atribuída a invenção do riquixá por volta do ano de 1848 em Worcester (Massachusetts) para um missionário. Outros afirmam que Jonathan Scobie (ou W. Goble), um estadunidense missionário para o Japão, inventou riquixás por volta de 1869 para transportar sua esposa inválida pelas estradas de Yokohama.
Outros ainda dizem que o riquixá foi projetado por um pastor evangélico americano em 1888. Essa hipótese certamente está incorreta, pois um artigo de 1877 de um correspondente do The New York Times declarava que o "jin-riki-sha, ou carruagem de tração humana" estava sendo popularmente utilizado, e tinha sido inventado provavelmente por um americano em 1869 ou 1870.
Fontes japonesas frequentemente creditam Izumi Yosuke, Suzuki Tokujiro, e Takayama Kosuke, que teriam, segundo eles, inventado os riquixás em 1868, inspirados nas carruagens de cavalos que tinham sido introduzidas nas estradas de Tóquio pouco antes. Começando em 1870, as autoridades de Tóquio emitiram para esses três homens uma permissão para fabricarem e venderem riquixás. A assinatura de um desses inventores também era exigida em todas as licenças para operar um riquixá.
Em 1872, cerca de 40.000 riquixás estavam sendo utilizados em Tóquio. Eles logo se tornaram o principal meio de transporte público no Japão. (Powerhouse Museum, 2005; The Jinrikisha story, 1996)
Por volta de 1880, os riquixás apareceram na Índia, primeiro em Simla e, 20 anos mais tarde, em Calcutá. Lá eles foram utilizados inicialmente por comerciantes chineses para o transporte de mercadorias.






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