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segunda-feira, 2 de julho de 2012

2172 - implantes, perucas e bazófias

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3972                                    Data: 20 de junho de 2012
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LUÍS XALULU NO SABADOIDO
2ª PARTE

Falava-se ainda no Noel Rosa como o filósofo do samba, quando Luís Xalulu interferiu:
-Na minha escola, falaram em filosofia e eu disse: “Para mim, filosofia é a filha da Sofia”.
Assim, começou a participação especial do Luís Xalulu no Sabadoido do dia 16 de junho de 2012, conforme consta na ata.
Cabe aqui um esclarecimento: Luís Xalulu é professor de geografia. Tem os seus méritos: cuidou dos dois sobrinhos, na ausência do pai, encaminhando-os na vida e entrou na fila da matrícula do curso de pedagogia, no lugar do meu irmão mais novo, porque ele não gostava de esperar a vez.
Luís Xalulu, em seguida, pôs-se a falar das vantagens da velhice. Com o seu parecer sobre a filosofia, dado anteriormente, não esperamos nada que se assemelhasse às ideias que Cícero expôs na sua obra “De Senectude”.
-Aquele que tem mais de 65 anos, não paga entrada no Engenhão, paga meia entrada no cinema, tem abatimento no Porcão...
Luca, que pretendia se reportar a trechos de alguns recortes de jornal que trouxera, ficou quieto. De repente, Luís Xalulu emudeceu e o Cláudio foi pegar os copos de bebida.
-Aludiu-se de novo ao Nélson Rodrigues e o Luca citou o trecho do artigo do Ruy Castro sobre a proibição do livro “O Casamento” pelo Ministro da Justiça Carlos Medeiros, no governo Castelo Branco. Não falamos da reação do “Anjo Pornográfico” que, referindo-se ao fato de o mencionado ministro redigir a Constituição de 1967, escreveu que os pregoeiros anunciavam pelas ruas “A Nova “Prostituição” do Brasil”.
-O Fischberg vai almoçar com a gente depois de um tratamento para implante... - mudou o Luca de assunto.
- Implante de quê? - agitou-se o Xalulu de novo.
-De dente. - respondi.
-Não sei se, depois de passar pela cadeira do dentista, seria bom para o Elio almoçar. - expressou o Luca sua preocupação.
   -Luca, eu saía do tratamento do meu implante e, no dia seguinte, eu corria pelas ruas de 40 a 60 minutos. Apenas na cirurgia, quando o sangue espalhou pela minha cara com o uso do martelo cirúrgico, não pude correr e tomei uns remédios receitados pelo dentista.
-Hoje, não é mais assim. - bradou o Luís Xalulu.
-É verdade, o meu implante aconteceu há uns onze anos.
-Quantos dentes?
-Um dente só, Luís; eu corria no escuro pela Praça Avaí, tropecei no quebra-molas da cor do asfalto e o meu dente da frente pulou fora com raiz e tudo.
Notando a curiosidade do Xalulu, informei-lhe que o Cláudio implantara onze dentes em cursos dados pelos dentistas experientes em implantes aos profissionais que pretendiam se especializar.
  -Vou falar com o Cláudio para saber onde eu também posso servir de cobaia. - entusiasmou-se.
Um minuto depois, Cláudio reaparecia com dois copos de uma bebida de um dourado escuro e quem lhe perguntou onde implantara seus dentes fui eu, pois o Luís Xalulu se aquietou de novo.
-Não, Carlinhos, o dentista não era de Niterói, era da Tijuca.
-Vou embora. - ergueu-se o Xalulu da cadeira.
Meu irmão, como o molho de chaves na mão, onde se destacava o escudo do Fluminense, conduziu-o até a porta. Assim, encerrou-se a participação especial do Luís no Sabadoido.
-Carlinhos, quando eu disse para a Rosa que você publicou o poema dela sobre o Elio Fischberg, no Biscoito Molhado, ela levou as mãos à cabeça. Vendo o desespero dela, afirmei que o Biscoito Molhado era lido por toda ANTAQ, em Brasília...
Poderia dizer que, através dos canais de distribuição do Dieckmann, o nosso periódico já chegou a Portugal. - pensei sem me manifestar.
-Ela dizia que não caprichou nos versos...
 Eu ouvia o Luca e imagina que, para ela, os versos têm de ser bem metrificados, o que ela não fizera, por causa da pressa, o que não tornava anêmica a sua veia poética.
-Mais gelo no copo?
-Sim, Claudiomiro, pois eu não quero beber muito.
Enquanto o Cláudio retornava para o interior da casa com os dois copos que trouxera, eu me voltei para o Luca.
-Dá para sairmos meiodia e vinte, porque eu pretendo gravar um filme para a minha sobrinha?
-É claro; a hora que você quiser.
Quando o Cláudio devolveu o copo do Luca com um iceberg dentro, eu trouxe a Rosa à baila de novo.
-Rosa está encantada com os textos do Merval Pereira.
-Ela rasga elogios a ele, Claudiomiro. - corroborou o Luca.
-Merval Pereira escreve muito bem, não é à toa que pertença à Academia Brasileira de Letras. - comentou meu irmão.
-Cláudio, ele pesquisa, redige com embasamentos sólidos. Veja agora a coluna sobre as influências do poder executivo sobre o Supremo Tribunal Federal; Merval Pereira se reportou à Suprema Corte dos Estados Unidos e aos diversos governos. - manifestei-me.
-Ele é bom, mesmo – frisou o Luca.
-O artigo do Nélson Motta, de ontem, sobre as basófias do Lula merecem aplausos.
-Carlinhos, o Nélson Motta é um empedernido anti-Lula.
-E o que nós somos?- pensei, mas nada disse.
-Muito boa a participação do Miro Teixeira na CPI.
Dito isso, Luca prosseguiu:
-Membros da CPI que se encontraram com Fernando Cavendish, em Paris, votam contra a convocação dele e do Pagot. Como disse muito bem o Miro Teixeira é a Tropa do Cheque.
Cláudio pegou a palavra.
-O Cândido Vacarezza logo se encrespou. Como disse o Pedro Simon para ele: “Você foi vetado para líder, você foi vetado para relator da CPI, na hora de impedir a vinda do Pagot e do Cavendish você é escalado.”
-Cândido Vacarezza é um pulha. - resumi a questão.
-O Miro Teixeira teve uma reabilitação e tanto.
Cláudio, como advogado que lida com a prescrição,  estranhou que o Luca voltasse trinta anos no tempo.
-Por que reabilitação do Miro Teixeira?
-Ora, Claudiomiro, ele era chaguista.
Resolvi interferir:
-Quando a Proconsult apurava os votos da eleição de 1982, colocando o Moreira Franco na dianteira, o Miro Teixeira, como candidato do PMDB, declarou no rádio e na televisão que se considerava derrotado para o Leonel Brizola, que reconhecia como o novo governador.
-Não se deve esquecer que veículos do Dia, da Notícia, do governo Chagas Freitas faziam propaganda da candidatura Miro Teixeira. - inflamou-se o Luca.
Será que despencaremos numa discussão?- temi.
-Como se chama aquele político da Arena que dizia não haver torturas no Brasil e, depois, tornou-se opositor da ditadura?
-Teotônio Vilela, Luca.
-Isso.
Parece que a lembrança do menestrel das Alagoas acalmou a todos, neste tempo de Fernando Collor de Mello, que o assunto passou a ser música.
Falamos sobre a voz do Orlando Silva que, em algumas interpretações, como “Jornal de Ontem”, superou a do Frank Sinatra.
Os ponteiros do relógio se aproximaram das 12h 20min e o Luca, cumprindo a sua promessa, levou-me de carro até a minha casa.










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