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quinta-feira, 19 de julho de 2012

2186 - O nome do Biscoito


O BISCOITO MOLHADO
Edição 3986                                            Data: 16 de julho de 2012
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COMENTANDO OS E-MAILS
PARTE II

Dieckmann pendurou o seguinte asterisco na edição do Biscoito Molhado sobre o “Último baile da Ilha Fiscal” a propósito da frase “festerjar-se-á as bodas de prata da Princesa Isabel e do Conde D' Eu”:
-“O Distribuidor ficou embatucado e recorreu ao consultor de latim Dieckmann, já citado em edições anteriores por sua proverbial cultura e conhecimentos generalizados, que vicejam desde passeios na Lua até rebimbocas de automóveis antigos, tudo isso devidamente registrado nestas páginas cibernéticas. Muito solícito, o Dieckmann sugeriu que o verbo fosse escrito no plural, tendo em vista a origem etimológica de bodas (votum- promessa) e, portanto, ser bastante razoável que se celebrem as bodas ou os votos, sempre no plural, mesmo que seja um casamento só.”
Comentários:
Eu só conheço duas pessoas que falam de si próprio na terceira pessoa: Pelé e Dieckmann. Como Pelé disse que só existiu um Beethoven, assim como só existe um Pelé, eu acho que o Dieckmann está com toda razão. (*)

Recebi um e-mail sobre as maiores bibliotecas do mundo, aliás, não é o primeiro, talvez seja o quinto ou o sexto que me destinam desde que navego nas águas nem sempre confiáveis da internet.
Sobre as bibliotecas, propriamente dita, ninguém ainda me enviou alguma coisa até hoje, por isso, faz-se mister consultar uma enciclopédia, pois a matéria merece ser estudada.
A primeira biblioteca de que se tem notícia é a do faraó Ramsés II, do Egito. Outra biblioteca importante da Antiguidade foi a de Nínive, organizada entre 669 e 629 a.C. por Assurbanipal, na Assíria.
Perguntarão os eruditos leitores desde periódico sobre a Grécia de antigamente, dos grandes filósofos, historiadores e autores de peças teatrais. Calma, chegaremos lá.
A primeira biblioteca pública grega foi fundada em 571 a.C., por Pisístrato, mas as mais significativas pertenciam a particulares, sobretudo filósofos e teatrólogos.
A mais célebre das bibliotecas antigas era a de Alexandria, formada no século III a.C., que tinha cerca de 700 mil volumes, vítima de três incêndios, o último dos quais, definitivo. Famosa também foi a biblioteca de Bérgamo, com 200 mil volumes, incorporada à de Alexandria por Marco Antônio, como um presente à Cleópatra. Cabe aqui um comentário: existia uma incompatibilidade de gênios entre Marco Antônio e os livros, tanto que ele matou Cícero, um dos maiores intelectuais da época. Cleópatra, por outro lado, estava mais interessada nos produtos de embelezamento pra subjugar os comandantes de Roma do que em brochuras. Conclui-se, então, que a propriedade apenas de uma biblioteca já representava uma honraria.
Os romanos foram o povo da Antiguidade que mais se preocupou com a difusão e profusão das bibliotecas públicas, datando de 39 a.C. a criação da primeira, em Roma. Dentre todas, a mais importante era a de Ulpiana, fundada por Trajano, que, juntamente com a Palatina, formava a dupla mais notável das 29 bibliotecas públicas que Roma possuía no século IV a.C.
A Idade Média conheceu três tipos de bibliotecas: as monacais, as das universidades e as particulares.  Aos mosteiros e aos monges copistas deve-se a salvação e resgate, para o mundo moderno, dos escritores da Antiguidade. As bibliotecas monacais foram as grandes confeccionadoras de livros e guardiães do acervo existente, nelas apareceram os códices (livros escritos em folhas semelhantes aos livros atuais); com eles surgiram as estantes.
Quem leu “O nome da Rosa”, de Umberto Eco, ou assistiu ao filme, constatará a importância dessas bibliotecas como mantenedoras da cultura da antiguidade. Pela paixão do poeta argentino Jorge Luiz Borges pelos livros, Umberto Eco chamou de Jorge o personagem da sua obra que velava pela biblioteca, apesar de ele ser vilão, na trama.
A fundação das universidades representou um marco na história das bibliotecas, pois esses centros foram responsáveis pela laicização da cultura ocidental. A mais importante foi a de Oxford, chamada de Bodleiana; na França, a da Universidade de Paris, que mantinha acorrentados os livros do seu acervo (costume medieval para salvaguardar as obras).
A partir do século XVI, a biblioteca passou por uma grande transformação, devido a quatro fatores de mudanças fundamentais, a saber:
1- A laicização desde a Antiguidade até o Renascimento, a biblioteca tinha caráter religioso, não pelo conteúdo dos livros registrados, mas pela natureza de sua administração; na Renascença adquiriu caráter leigo e civil;
2- A democratização: antes fechada e restrita praticamente à classe sacerdotal, passou a ser realmente pública, aberta a todos; e além do seu antigo sentido (conservação), adquiriu um novo, o da difusão.
Um dos grandes beneficiários dessa democratização foi Karl Marx, que frequentou religiosamente a biblioteca de Londres, enfronhou-se, principalmente, nas páginas dos economistas clássicos ingleses, Ricardo e Adam Smith, e elaborou os seus textos que abalariam o mundo desde as últimas décadas do século XIX;
3- A especialização: a difusão implicou atender aos mais variados gostos e necessidades;
4- A socialização: de órgão passivo passou a ser dinâmico, desempenhando importante função junto à coletividade, dando a todos os cidadãos o direito de desfrutar dela.
Não há dúvidas de que a maior biblioteca do mundo de hoje é a do Congresso dos Estados Unidos da América, fundada em 1800, na cidade de Washington. No Brasil, desponta a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, criada em 1810 e, em São Paulo, a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, criada em 1925. Os leitores infanto-juvenis são atendidos pela Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, que oferece a maior quantidade de livros da América do Sul.
Atualmente, no Brasil, a maior biblioteca particular talvez pertença ao ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, Delfim Neto, com 250 mil livros em 2002 que, passados dez anos, aumentou ainda mais.
Disse Delfim Neto sobre o seu descomunal acervo de livros:
-Uso a minha biblioteca quando trabalho. Não tenho nenhuma edição especial. Tenho todos os clássicos, mas não tenho nenhuma primeira edição. Eu não sou um bibliófilo, sou um colecionador de livros. Tenho muito prazer nisso.
Como José Mindlin e Plínio Doyle, verdadeiros bibliófilos, ele não cultua as edições diferenciadas de um clássico.  Vê os livros como consultores, prontos a ajudá-lo num momento de dúvida.
Delfim Neto já se decidiu: doará a sua biblioteca para a Universidade de São Paulo.
-A USP vai ficar, eu não. - disse. (**)

(*) Ledo engano. Como economista que é, o redator do seu O BISCOITO MOLHADO não é muito afeito a números. É certo que o Dieckmann se refere a ele na terceira pessoa, só que o faz duas vezes, pois no período mencionado aparecem, pela ordem, o Distribuidor e o consultor de Latim Dieckmann.

(**) Às vezes, o seu O BISCOITO MOLHADO traz boas notícias, mesmo quando não retransmite os comentários dos taxistas de Maria da Graça.

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