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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

3005 - SX o resenhador


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O BISCOITO MOLHADO

 

Edição 5254SX                                 Data:  08 de janeiro de 2016

 

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SAUDADES DO BISCOITO

 

 

Sobre o Carlos Nascimento me falou o Dieckmann, quando assumiu uma função importante na Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Carlos, economista concursado, trabalhava na ANTAQ. Em que ano isso aconteceu? Só o Dieckmann saberá precisar. (*)

 

Percebi o Bob (para os íntimos) muito empolgado. Disse que eu precisava urgentemente conhecer o Carlos Nascimento. Figura interessantíssima, culto, bem informado. Uma espécie de oráculo do Cachambi. Versado em diversos temas que me apeteciam, entre os quais música clássica e, particularmente, ópera. Era, ainda, um escriba de alta categoria, editor, redator-chefe, copy-desk, secretário e diagramador de um jornal que fazia muito sucesso, o “O Biscoito Molhado”.

 

Da empolgação do Dieckmann depreendi sua disposição de se engajar naquela empreitada. O que me causou apreensão. Associado ao projeto, era de se prever que meu impetuoso amigo iria querer disputar espaço com ”O Globo” e a "Folha de São Paulo". Estaria em risco o controle acionário do “Biscoito”. Lembrei - me do episódio da rasteira que o Chagas Freitas aplicara no Ademar de Barros, tomando-lhe o poder na “Luta Democrática”. Mas isso não aconteceu. O Dieckmann foi sempre, e tão somente, um aplicado distribuidor e revisor do “O Biscoito Molhado”.

 

        Queria porque queria que eu viesse a conhecer o Carlos. O mais rápido possível. Para me incentivar, disse-me que seu novo colega havia gostado muito de artigos que eu escrevera para “O Radiador”, publicação do nosso clube de automóveis antigos.

 

Cumprindo ordens, telefonei para o Carlos para agendar esse papo. Que aconteceu na recepção da ANTAQ, na Rua Rodrigo Silva. Por conta do cenário inadequado, a conversa foi mais ou menos rápida. Ficou a sensação de que seriam necessárias muitas horas de papo para esgotar nossos assuntos. 

 

Vi confirmado tudo o que me dissera o Dieckmann. Com cinco minutos de conversa comecei a achar que aquela figura tímida, supostamente frágil, muito simpática, era proveniente de outra galáxia. Em que caverna ele se escondera durante tanto tempo? Sobre o Teatro Municipal do Rio de Janeiro e o mundo da ópera, revelou conhecimentos que o colocavam no patamar do Paulo Fortes e do Mario Henrique Simonsen. Mostrou-se um ouvinte assíduo do "Clube da Ópera", programa que durante um bom tempo produzi e apresentei na Rádio MEC. Ele gravava os programas! Comentou inúmeras passagens dessas apresentações! O mesmo acontecia com “As Melhores Vozes do Mundo”, programa que o inesquecível Artur da Távola me convenceu a apresentar na Rádio Roquete Pinto.

 

E, para tornar aquela conversa ainda mais surpreendente, meu novo amigo passou a discorrer em detalhes sobre as transmissões de ópera ao vivo que a MEC fazia do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, nos anos 50 e 60. Revelou – se fã incondicional de meu pai. Também discorreu longamente sobre Assis Pacheco, Diva Pieranti, Araci Bellas-Campos, Alfredo Colósimo, Violeta Coelho Neto de Freitas e muitos outros grandes astros do período áureo do Teatro Municipal.

 

 Aquele aperitivo foi suficiente para me deixar tonto. Eu não sabia, mas aquilo era apenas o começo. Com o passar do tempo e já na qualidade de leitor inveterado do jornal, tomei conhecimento do incrível universo de personagens e situações de “O Biscoito Molhado". Curtia as conversas com os taxistas, as cartas dos leitores, as viagens com o Elio Fischberg, a erudição da Rosa Griecco, as reuniões do Sabadoido...

 

Em tempos mais recentes o Biscoito desandou a apresentar resenhas sobre o “Rádio Memória”, programa que apresento nos domingos pela manhã com o Jonas Vieira, na Rádio Roquete Pinto. Aquela era uma deferência que me honrava.

 

Ele me submetia seus resumos, antes que fossem publicados. Excepcionalmente bem feitos. Os acontecimentos do dia, apresentados na seção “Calendário”, recebiam acréscimos enriquecedores. Nas nossas trocas de e-mails, cansei de sugerir:

- Carlos, sua resenha é muito melhor do que o programa! Vamos acabar com o “Rádio Memória” e ficar só com o seu resumo...

 

Foram muitos anos de uma intensa e prazerosa troca de e-mails. Somente uma vez mais encontrei meu amigo. Almoço num restaurante japonês no centro da cidade, em que se comemorava um aniversário (do próprio Biscoito? do Dieckmann?). (**)

 

Ao final do ano horroroso de 2015 meu amigo deu por encerrada sua trajetória no planeta. Fiquei arrasado.

 

O Brasil, está comprovado, não é lá grande coisa. Tomado por populistas irresponsáveis, ladrões e despreparados. O que torna ainda mais chocantes as perdas de pessoas sérias, talentosas e bem intencionadas.

 

Dói quando aparece na tela do computador o endereço eletrônico do Carlos Nascimento. Não tenho coragem de apagar.

 

(*) Procurado pelo Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, o Dieckmann disse que foram para a ANTAQ em fevereiro de 2002 e, para a Rodrigo Silva, alguns meses depois. Cabe esclarecer que o Dieckmann conheceu, de verdade, o Carlos Eduardo quando foi para o Departamento de Marinha Mercante, em 1999. Nesse tempo ele era o Coordenador Geral, o capo de tutti i capi e as edições tiveram o maior apoio da Administração. O que satisfez tanto ao Carlos Eduardo que ele começou a elogiar a Coordenadoria. Foi o bastante para o Dieckmann lhe passar o único pito de sua vida:

- Elogio, Biscoito, elogio? Aonde você quer chegar com esse pasquim chapa branca? Quer perder todos os leitores? Respirando fundo, o que, segundo o Carlos Eduardo, era o que o Dieckmann fazia muito bem, ponderou as palavras e remendou:

- Lembre-se de que O BISCOITO MOLHADO é lido por todos, administrados e administradores, difunde conceitos e cultura geral. É fundamental que ele continue. Por favor, Biscoito, pau na administração!


(**) Almoço no japonês é aniversário do Dieckmann. Hachiko.

 

 

2 comentários:

  1. São tantas homenagens significativas de seus diletos amigos, que acho não seria profano chamarmos o BM, pelo Car(l)inhoso codinome de Biscoito hoMenageado.
    Ou talvez, Biscoito chaMegado, face a tantas manifestações de carinho de seus amigos e admiradores, que buscam manter acessa a chama e o brilho da muitas edições do seu BM.

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  2. Prezado Pinta e Borda: é tão bom o blog receber comentários que cabe esclarecer que o Biscoito tinha uma numeração, cinco mil e pedrada, com o título sempre inalterado e o blog, outra numeração. Pela legislação do blog, cabia ao Distribuidor botar o título que quisesse e normalmente havia uma menção ao texto. O conjunto de título do blog com título da edição era composto de maneira a irritar o leitor, o redator, ou a ambos, se fosse bem sucedido. O que muitas vezes acontecia.

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