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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

2996 - joelho de padaria


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5246                                 Data:  06 de dezembro de 2015

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ACONTECEU NO DIA 06 DE DEZEMBRO

 

Mais um domingo sem o Sérgio Fortes no Rádio Memória. Diria alguém, de humor cortante, recorrendo a uma expressão do mundo futebolístico, que ele é da turma do chinelinho. Maldade, pura maldade, apesar de a justificativa do Sérgio Fortes para a sua ausência fosse problemas no joelho; contusão que, contada por ele, tomou as proporções da ruptura do tendão patelar que quase tirou o Ronaldo Fenômeno da Copa do Mundo de 2002. Aqui, faz-se necessário um adendo: a nossa comparação com um jogador de futebol não quer dizer de modo algum que também achamos que o parceiro do Jonas Vieira seja da turma do chinelinho.

Assim, parecia que o Rádio Memória desse 6 de dezembro seria editado sem o calendário. Jonas Vieira abriu os trabalhos anunciando a presença de um convidado ilustre, o ator, dentista biógrafo, autor do livro “Dez Vidas – Meu Olhar Sobre Elas”, Lino Corrêa, e mais Simon Khoury, sumido há uns dois meses. Nós, ouvintes do programa, já estávamos com saudades da versão brasileira da dupla Jack Lemmon e Walter Matthau, os dois vizinhos que passaram a vida brigando.

Como três das dez mulheres reverenciadas no livro são cantoras – Carmela Alves, Ademilde Fonseca e Wanderléia - nada mais cerimonioso que delas ele escolhesse a programação musical, mas o Simon Khoury passou por cima da etiqueta e pediu uma gravação do Henry Mancini.

-Simon Khoury e Henry Mancini foram amantes na outra encarnação. – garantiu o Jonas Vieira.

-Fomos – admitiu o Simon Khoury – mas eu por cima.

Quando o Rádio Memória chegava a nel mezzo del  camin, Jonas Vieira nos surpreende com a notícia de que teríamos o calendário logo após os anúncios da emissora.

Sérgio Fortes, ao telefone, antes de passar para as datas, referiu-se ao seu problema no joelho e citou o Fred do Fluminense. Logo o Fred, Sérgio, o líder da turma do chinelinho?... Assim, toda a defesa que fizemos, no início deste texto, foi por água abaixo.

-Sérgio, vamos ao calendário? – apressou-o o Jonas Vieira.

-Aqui vai uma data que achei interessante: em 6 de dezembro de 1768 é publicada a primeira edição da Enciclopédia Britânica. Jonas, daqui a pouco ninguém saberá o que representou a Enciclopédia Britânica. As coisas somem na poeira do tempo.

-Sérgio, o Artur Xexéo escreveu, nesta semana, sobre várias coisas tão presentes, no passado, de que não se fala mais.

-Existia até a profissão de vendedor da Enciclopédia Britânica, da Enciclopédia Barsa.

Após essa lembrança, o Homem-Calendário prosseguiu:

-Em 1868, ocorre a Batalha de Itororó, na Guerra do Paraguai, entre cinco mil paraguaios e treze mil brasileiros comandados pelo então Marquês de Caxias. Jonas, a proporção é desigual, mais de dois por um.

Naquela época, era quase fatal para os sedentos confundir Tororó com Itororó.

-Aquelas fotografias dos soldados paraguaios andrajosos, Jonas: horríveis.

-Em 1880, Buenos Aires é declarada capital da República Argentina.

Jonas Vieira exultou tanto que, por pouco, não cantou o tango de Gardel “Mi Buenos Aires Querido”, provavelmente as presenças do Simon Khoury e do Lino Corrêa o detiveram.

 

 

 

 

-Em 1901, o presidente dos Estados Unidos William McKinley é baleado por um anarquista. Jonas, aqui no papel (um impresso internético) está que ele iria falecer em 14 de setembro. Eu estranho, porque é muito tempo, são nove meses depois.

-Muita coisa, Sérgio.

Eis a falta que a Enciclopédia Britânica faz, ela restabelece a verdade dos fatos; pois nela se leria que o atentado contra a vida do presidente McKinley se deu em 6 de setembro, e a sua morte no dia 16 desse mesmo mês. A internet, que vem tornando obsoleta a Enciclopédia Britânica, estendeu dez dias de agonia para nove meses, uma gestação. O presidente americano, que fez um bom governo, segundo os historiadores, não merecia tanto “sofrimento”.

-Em 1951, Getúlio Vargas envia ao Congresso o projeto que cria a Petrobras.

-Hoje, a Petrobras... cortou o Jonas Vieira o seu comentário.

-Getúlio não sabia que, em 2014, 2015, o projeto a ser enviado ao Congresso seria sobre o fim da Petrobras, Jonas.

Conseguiram acabar com a maior empresa do país.

Um quase imperceptível gemido foi ouvido: talvez uma fisgada no joelho, talvez a dor pela queda dos preços das ações, talvez um mera estática de transmissão radiofônica, não se sabe bem.

Os corruptos levaram 103 anos para exterminar com o Lloyd Brasileiro (1894/1997), os corruptos de hoje, bem mais vorazes, precisaram de pouco tempo para arrasar a Petrobras, embora ela fosse muito maior que a empresa de navegação.

-Jonas, uma data terrível: o ex-tenente coronel Hugo Chávez é eleito presidente da Venezuela.

-Os venezuelanos não mereciam isso. – lastimou o Jonas Vieira.

Por coincidência, nesse mesmo dia, os venezuelanos votariam, era uma oportunidade de eles darem o primeiro passo para se livrarem do governo narco-bolivariano que gangrena o país.

-Nascimentos- impostou a voz o Sérgio Fortes.

-Jonas, você se lembra de Arnaud Rodrigues?

-É claro que me lembro.

-Ator, cantor, compositor e humorista, nasceu em 1942.

-Em 1946, nascia o último grande cantor que vimos cantar: Emílio Santiago.

-Jonas Vieira concordou, mas não se estendeu sobre a penúria de grandes vozes masculinas no cenário artístico brasileiro.

-Em 1949, nasciam dois irmãos geniais: os cartunistas Chico e Paulo Caruso.

Jonas Vieira concordou plenamente.

-Como diz um amigo meu: uma dupla de dois. - completou o Sérgio Fortes.

Ao contrário de Caim e Abel, Esaú e Jacó, Pedro e Fernando Collor de Mello, Pedro e Paulo de Machado de Assis, os irmãos cartunistas se dão maravilhosamente.

-Em 1961, nascia Antonio Calloni, excelente ator brasileiro.

-Falecimentos. - voltou a impostar a voz.

-Jonas, eu vou registrar apenas uma morte: em 1976, João Goulart.

-Convivi com ele, Sérgio.

-Sim, Jonas, você, como repórter de jornal, esteve, certamente, muitas vezes com ele.

-Sim.

-Jonas, hoje é Dia do santo padroeiro do Simon Khoury: São Nicolau, que vem a ser o Papai Noel.

-É por isso, Sérgio, que o Simon vive agarrado nele com uma listinha de presentes.

-Eu estou de saco cheio. - quebrou o Simon Khoury o seu silêncio.

Sérgio Fortes não prolongou o calendário (*), porque o convidado, Nino Corrêa, ainda não falara da metade das mulheres do seu livro; e desligou o telefone. Então, deu-se o inusitado: Jonas Vieira se colocou no papel de Homem-Calendário para enaltecer D. Pedro II que, em 49 anos de império, respeitou o dinheiro público e quando o usou foi para custear o aprendizado de Carlos Gomes e Pedro Américo. D. Pedro II nasceu, há 190 anos, em 2 de dezembro de 1825 e morreu, no exílio, em 5 de dezembro de 1891.

Muito bem, Jonas Vieira: essas datas têm de ser lembradas pelos brasileiros.

(*) E não contou que o barítono Paulo Fortes comemorou com efusivas loas líricas, seja lá o que isto queira significar, o nascimento de seu primeiro filho, Sergio, não acentuado, o mesmo que, 67 anos depois, frequenta ortopedistas de renome discutível, em busca da cura do joelho doído.

 

 

 

 

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