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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

2993 - fumando pra dedéu


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5243                           Data:  30 de novembro  de 2015

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SABADOIDO

 

-Claudio, sonhei com a Dilma.

-Erótico?...

-Eu falei sonho, não pesadelo.

-Como foi esse sonho.

-Havia várias pessoas sentadas, ao céu aberto, num local gramado e ela ia falar.

-Isso acontece muito nos Estados Unidos; é o que se vê nos filmes. - disse ele.

-Havia muita lama...

-A lama da Samarco. - interrompeu-me.

-Depois de eu contar, você procure decifrar.

E prossegui:

-Os sapatos dela estavam imundos, pareciam os do Mujica do Uruguai, mas só os sapatos. Eu, então, lhe ofereci o meu tênis para ela calçar. Ela segurou o meu tênis pelos cadarços, enquanto me olhava com uma expressão de repugnância. O mais marcante, desse meu sonho, foi a sua cara de asco, de desprezo, sei lá de quê mais?

-Isso é verdade, Carlinhos?

-Claudio, se eu fizesse análise, contaria, com essas mesmas palavras, este sonho ao psicanalista.

-Bem, Carlinhos, Freud faria uma relação do seu tênis com o pênis.

-Sem brincadeiras, Claudio; ele era austríaco e na língua alemã as palavras pênis e tênis não soam parecidas, julgo eu, pois nunca estudei essa língua.

-Carlinhos, você assistiu a “Um Método Perigoso” no Telecine Cult?

-Vi há oito meses, mais ou menos; na semana passada, aproveitei uma reprise e revi.

-O Jung, quando se encontrava com o Freud, narrava os seus sonhos e ele analisava, e vice-versa.

-Sim, Claudio, mas houve um sonho do Freud que ele só insinuou para o Jung, não contou “porque isso acabaria com a minha autoridade” - foi a desculpa dele. Eles já estavam à beira da ruptura.

-Como você disse que reviu, na semana passada, pode me contar do que se tratava mesmo o filme? Nem me lembro mais.

-Jung cuida de uma neurótica russa, filha de um milionário judeu, que a espancava, quando criança. O problema dela é que sentia prazer nesses espancamentos e cresceu com esse problema. Jung a cura, com o método de Freud e ela se tornaria também psicanalista.

-Lembro-me bem, Carlinhos, que o Jung faz sexo com ela sempre dando-lhe umas bordoadas para ela chegar ao orgasmo.

Sem tomar fôlego, continuou:

-Lembra o Valter, aquele vizinho que morava naquela casa entre a nossa e a das três irmãs piranhas?

-Claro; ele era o Lando Buzanca da Chaves Pinheiro.

-Ele tinha uma namorada em que batia com vontade. Ela berrava tanto que, certa vez, o motorista do Méier-Maria da Graça parou no ponto, em frente à casa do Adalberto, para ouvir, com os passageiros, a gritaria da mulher.

-E esse ônibus, Claudio, estava a uns cinquenta metros do local do “crime”.

-Com uma boa acústica, quem estivesse a cem metros, escutava. - observou.

-Por volta das 7h 30min da manhã, eu varria e lavava a varanda e o quintal da nossa casa. Sempre, Claudio, nos dias seguintes a esses espancamentos, os dois saíam para trabalhar de mãos dadas como dois pombinhos.

-Essa mulher, Carlinhos, devia ser igual àquela do Jung.

-Não era não; essa da Chaves Pinheiro era muito mais neurótica. Jung era sofisticado, dava umas taponas nas ancas da “paciente” e não passava disso. A namorada do Valter pedia porrada mesmo, aquelas de deixar as mãos ardendo.

-O Nélson Rodrigues dizia que mulher gosta de apanhar, Carlinhos.

-Em meados dos anos 60, numa entrevista, perguntaram ao Nélson Rodrigues se era verdade que mulher gosta de apanhar, ele confirmou. “Só as neuróticas reagem” - acrescentou.

-É o contrário. - observou meu irmão.

-A mulher do Pedro Paulo, candidato do Eduardo Paes a prefeito em 2016, reagiu.

-E perdeu um dente. - disse ele.

-Agora, Claudio, ela vir de São Paulo até o Rio de Janeiro, com o atual marido, para dar uma entrevista junto ao espancador e dizer que a imprensa está fazendo da vida dela um inferno... Eu não diria que ela gostou de apanhar, tanto que, na ocasião, fez queixa na polícia. Não há sexo por trás disso, é outra coisa.

-Freud e Jung passam longe dessa história.

-Passam. - concordei.

-Essa paciente do Jung escreve para o Freud tratar dela, não foi?

-Jung discordava que o sexo fosse o motor do nosso comportamento, por isso, rompeu com o seu mestre, mas Freud, ao contrário do Jung, nem tocou nela.

-Não deixa de ser irônico.

-Ela se tornou psicanalista, dizem até que a pulsão da morte atribuída a Freud foi concebida por ela e morreu, anos depois, fuzilada pelos nazistas.

-O filme diz isso no texto que corre pela tela no final.

-Mudando de assunto, Claudio, mas não totalmente, dando uma olhada no calendário que o Sérgio Fortes lê, aos domingos, no Rádio Memória, vi que a segunda esposa do escritor Norman Mailer, Adele Morales, que era artista plástica, morreu no dia 22 de novembro deste ano com 90 anos de idade.

-Mudou inteiramente de assunto. - criticou.

-Não mudei, porque, numa festa, o Norman Mailer não só bateu na mulher como a esfaqueou.

-Quantas histórias para a redação deste ano do ENEM: “Violência contra a mulher”. - comentou.

-Sabe por que ele enfiou a faca na mulher, Claudio? Porque ela disse que Dostoievski era mais escritor do que ele.

-Ele, então, vai esfaquear todas as mulheres do mundo. - ironizou.

-Norman Mailer andava empolgado com o sucesso alcançado pelo seu livro “Os Nus e os Mortos”, que escreveu com 25 anos de idade. Mais do que isso, ele já havia bebido alguns litros de uísque, a sua mulher também...

-Mas ela estava bem mais sóbria do que ele. - acentuou.

-Claro. - concordei.

E prossegui:

-Era um casal de festas e porres homéricos, e acabou mal.

-Veja: o Norman Mailer morreu, se não me engano, com 85 anos, e ela, você disse, agora, chegou aos 90. Então, essa história de viver comedidamente, com dietas ... muita gente, vive assim, e morre jovem.

-Sim, Claudio, mas você argumenta com a exceção, não com a regra.

-O Zanela (ele sempre cita o colega de trabalho do seu sogro nessa hora) fumava como uma chaminé e bebia como um gambá, e chegou aos 90 anos de idade como essa dona de que você falou.

Ouvimos ruídos: eram o Daniel e a Gina voltando do consultório do dentista.

 

 

 

 

 

  

 

 

 

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