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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

2757 - Pompeia de Hitchcock


 

 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5007                                      Data: 21  de  dezembro de 2014

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SUSPENSE NO SABADOIDO

 

-Assistiu ao “Hitchcock”, Claudio?

-A que filme dele?

-Refiro-me ao filme que realizaram sobre a vida dele.

-Esse que o Telecine vem levando: Não.

-Na verdade, fizeram um corte temporal...

-Corte Temporal?!... Isso é jargão de historiador. - aparteou.

-Consideram apenas o tempo da vida dele em que filmou “Psicose”.

-Esse filme levou no Cine Cachambi.

 -Não me esqueci, Claudio. “Psicose” mais “E Deus Criou A Mulher” foram os únicos filmes que o Secreta impediu a minha entrada no cinema.

-Mas ele deixou a Suzete entrar. - citou a nossa irmã.

-Ela viu “Psicose” porque acompanhou a Dona Salete do apartamento acima do nosso.

-Eu sei, Carlinhos, a vizinha do 202.

-Suzete e Dona Salete foi uma rima e uma solução, pois conseguiu entrar no cinema mesmo com 15 anos de idade.

-Depois, ficou com medo de tomar banho.

-Não foi nada disso, Claudio.

-Tudo bem; mas a Janet Leigh confessou que, depois dessa cena, não conseguiu mais tomar banho de chuveiro sem ficar apreensiva.

-Nesse “Hitchcock”, do Telecine, como a Janet Leigh não demonstrava o pavor na intensidade desejada pelo Hithcock, ele pegou o facão e desferiu várias apunhaladas de cima para baixo.

-O Anthony Perkins como o assassino Norman Bates... não é este o nome do personegem?

Depois de eu confirmar, prossegui:

-Como Norman Bates, ele esteve muito bem. Creio que foi o melhor papel da carreira dele, embora eu não tenha assistido ao “Processo”, de Orson Welles.

-O Norman Bates, doentiamente ligado à mãe, tinha uma sexualidade fora dos padrões; Alfred Hitchcock convocou, então, o Anthony Perkins para vivê-lo na tela.

-Hitchcock tinha um olho clínico, pois, naquela época, os atores escondiam a sua preferência sexual por homens. - comentou.

-Quanto às mulheres, Alfred Hitchcock sempre preferiu as louras.

-Janet Leigh, Grace Kelly, Joan Fontaine, Kim Novak, Doris Day, Tippi Hedren...

-Tippi Hedren?!... - estranhei.

-A personagem principal de “Os Pássaros”.

-Sei que o filme é baseado num livro da Daphne du Maurier, autora também de “Rebecca”, que Hitchcock também transformou em celuloide.

-Nós vimos “Rebecca” no Cine Cachambi, Carlinhos.

-Dizem que Daphne du Maurier plagiou o romance “A Sucessora”, de Carolina Nabuco. Não houve, porém, processo judicial.

Após esse meu comentário, Claudio retomou a palavra.

-A esposa do Alfred Hitchcock não estranhava de ele só colocar louras como protagonistas das suas fitas?

-Numa briga de casal, ela bradou que sempre suportou os amores platônicos dele pelas atrizes, portanto, ele não tinha o direito de sentir ciúmes dela.

-Ela gostava de homens louros? - brincou meu irmão.

-Essa fita prendeu a minha atenção desde a primeira cena porque começa com aquele seriado televisivo de suspense...

Entusiasmado, Claudio me interrompeu:

-Eu assistia a todos “Hitchcock Apresenta”, só não sei precisar o canal, mas acredito que seja o 13, a TV Rio.

-Quando ouvi a música-tema desses seriados, estremeci na cadeira: “Há mais de vinte anos que não ouço essa joia musical!”

-Qual era?

-”Marcha Fúnebre para uma Marionete”, de Gounod. Só descobri o nome depois de pesquisas; a música, mesmo depois desse tempo todo, eu poderia assoviar nota por nota.

-Não assovia, não, Carlinhos. - suplicou.

-Quem também nutria amores platônicos pelas atrizes das suas obras era o Nélson Rodrigues.

-Não duvido. - disse o Claudio.

-O Ruy Castro conta que a Maria Della Costa...

 -Outra loura. - cortou-me meu irmão.

-Quando ela se preparava para pisar o palco, o Nélson Rodrigues entrava no camarim dela e lhe dizia: “Como vai proeminente figura?” Não era proeminente, mas vai esse adjetivo, já que a memória não me ajuda.

-E o que ela respondia?

-Senta, Nélson Rodrigues.

-Ele sentava para dar instruções a ela de como representar a sua personagem?

-Não, Claudio; ele ficava para contemplá-la embevecido. A atriz era sua musa, como a Claudia Cardinale no “Fellini Oito e  Meio”.

Nesse instante, meu sobrinho surgiu na cozinha.

-Daniel, chegou a propósito. Estamos aqui numa terrível polêmica: quem foi a atriz principal de “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock?

Meu sobrinho sacou o celular do bolso da bermuda, tocou o dedo aqui e ali, e, em menos de um minuto, respondeu:

-Melanie Daniel.

Sem tomar fôlego, manifestou-se:

-Daniel?”... Que negócio é esse? Nós somos atores, não, atrizes.

-Procure “Tippi Hedren”. - pediu-lhe o Claudio.

Acionado de novo o celular, veio a explicação.

-”Tippi Hedrin” era o nome artístico da Melanie Daniel. Agora sim, a coisa se acertou. Meu nome não pode ser de atriz.

-Eu não erro em matéria de cinema. - vangloriou-se meu irmão.

-E você, Daniel, qual o último filme a que assistiu: - perguntei-lhe.

-”Pompeia”.

-Eu também vi, mas na televisão, animado pelo enredo histórico. Ao perceber que era cinema-catástrofe, não havia mais tempo para eu fugir, tive de ir até o fim.

-Não gosta de cinema-catástrofe, Carlão?

--Tenho ojeriza a efeitos visuais e, nesse caso, há uma overdose. Películas com muitos efeitos visuais têm muita casca e pouco miolo.

-Há “Os Últimos Dias de Pompeia”, do Sérgio Leone. - evocou meu irmão.

-No dia anterior à decisão do campeonato carioca de 1960, Fluminense e América, vi um cartaz com o nome dessa fita, num cinema de São Cristóvão e disse para a minha mãe que, no domingo, acabaria Pompeia.

-Infelizmente, Carlão, não acabou.

-O goleiro do América não foi o Pompeia, e sim, o Ari. Ele até espalmou um pênalti batido pelo Pinheiro, que, pegou o rebote, e meteu o gol, mas não bastou. - trouxe à tona essas tristes reminiscências para os tricolores meu irmão.

-Depois, o América empatou, mas o empate dava o título ao Fluminense. Então, o Nilo bateu uma falta, o Castilho bateu roupa, como dizia o Oduvaldo Cozzi e o Jorge, que era lateral direito, enfiou o gol do título.

-Como você se lembra disso tudo.

-Porque seu avô queria dar chinelada na televisão, Daniel.

-Era o primeiro campeonato do Estado da Guanabara; a Capital Federal já havia sido transferida para Brasília. - assinalou meu irmão.

E a conversa mudou das telas do cinema para os campos de futebol.

 

 

 

 

 

 

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