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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

2753 - O Cavaleiro Solitário deixa de ser solitário


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5003                                         Data: 14  de  dezembro de 2014

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RÁDIO MEMÓRIA A CARGO DO SÉRGIO

PARTE III

 

-Jonas, vamos para a parte musical que você me incumbiu de cuidar.

Silêncio tumular. Jonas passava, agora, para o chá de hortelã inglês, mimo de Natal do Fernando Milfont, que acompanhava a garrafa de uísque.

-Vamos começar com um compositor deslumbrante: Wolfgang Amadeus Mozart. A ópera é “Bodas de Fígaro”, com uma ária que foi popularíssima na época, ”Voi Che Sapete”, cantada pelo maravilhoso soprano Tatiana Troyanos, que, infelizmente, morreu muito cedo.

Como todas as grandes divas, tinha as suas idiossincrasias e Sérgio Fortes se referiu a algumas delas.

Entrou a música e eu fui conduzido ao final dos anos 50, início dos 60, quando as manhãs de domingo, na minha casa, eram embaladas pelo programa Januário Ferrari da Rádio Guanabara; na primeira hora eram os “Cancioneiros Famosos” (napolitanos) e, na segunda, apenas óperas.

Enganei-me: a segunda atração era um musical da Broadway, “Showboat”, especificamente, de Jerome Kern e Oscar Hammerstein II. A cantora, uma soprano, tinha voz para não fazer feio em alguns papéis operísticos: Katryn Grayson. Ela cantou “Can't Help Loving That Man”.

Depois de comentar os problemas étnicos do enredo de “Showboat”, Sérgio Fortes passou para outra composição.

-Agora, uma cantora que fez um sucesso terrível (no bom sentido). Ela cantava com o Trio Los Panchos.

Pule de dez: Eydie Gormé.

-Composição de Pedro Buenaventura Jesus del Junco-Redondas, ou apenas Pedro Junco, “Nosotros”, que teve mais de 400 gravações. Esta gravação da Edith Gourmet com o Trio Los Panchos é de 1943.

Sem mais delongas, clichê que o Sérgio Fortes nem sempre evita, ele foi adiante.

-Agora, um compositor extraordinário, compôs dezenas de música para o cinema: Nino Rota.

Também escreveu óperas, uma inspirada opereta “O Chapéu de Palha”, concertos para os grandes teatros, mas Sérgio Fortes se ateve às suas criações mais populares.

-Ouviremos a música dele “Nino”, tocada pelo grande acordeonista  Richard Galliano.  Como ele é francês, aqui vai: “Gallianô”.

Dieckmann, que considera o acordeom um instrumento grandiloquente e critica o Sérgio Fortes por admirá-lo, deve ter torcido o nariz na Rua Triunfo em Santa Teresa. (*)

Logo em seguida, veio a nossa Kiridinha Te Kanawa.

-Com ela, “Smoke Gets in You Eyes”, de Jerome Kern e Otto Harbach.

Interpretação de levar ao esquecimento “The Platters” com falsetes e tudo o mais.

A “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfont”, uma espécie de intermezzo do Rádio Memória, com o tema “Raro Encontro”, se fez ouvir.

Jonas Vieira ainda bebia seu chá de hortelã inglês, por isso, não houve as suas costumeiras reflexões sobre a Pausa. Sérgio talvez tenha pensado no encontro entre o Jair Bolsonaro com a Maria do Rosário, mas não se manifestou, talvez porque ele não fosse tão raro assim.

A sexta música do Rádio Memória esteve a cargo de um cantor que, segundo o parceiro do Jonas Vieira, tem um lugar privilegiado na sua estante: o baixo cosmopolita Cesare Siepi.

-Ele é meio italiano, morou na Suíça, viveu nos Estados Unidos. Ele canta Begin The Beguine de Cole Porter...

Quebrou a sua frase para comentar a sua demora, neste domingo, em pôr criações de Cole Porter para se ouvir e continuou:

-Essa música foi composta quando Cole Porter estava num cruzeiro pelas Ilhas Fiji. Cole Porter compunha em qualquer circunstância.

Guardadas as devidas proporções, assim foi com Debussy, que compôs a suíte “La Mer” numa casa de campo no interior da França.

Outro compositor prodigioso deleitou os ouvintes que preferiram trocar a missa dominical das 8h da manhã pelo Rádio Memória: Michel Legrand.

-Ele compôs a canção “After The Rain”, que a minha querida Kiri Te Kanawa gravou.

Before, During, After The Rain, com Michel Legrand e Kiri Te Kanawa é puro deleite, ou “puro deuísque”, diria o Jonas Vieira.

-Voltemos ao musical “Showboat”, com dois cantores diferenciados, um deles já foi apresentado neste programa: Katryn Grayson, o outro é Howard Keel. Eles cantam o dueto “Make Believe”.

Cesare Siepi e Cole Porter foram, de novo, chamados à cena pelo Sérgio Fortes.

-Cesare Siepi fez um sucesso extraordinário nos anos 50 e 60. Ele esteve no Brasil na última temporada lírica, a de 1964, quando veio o elenco completo do Teatro São Carlos de Nápoles. Lamurientos, podemos declarar que há 50 anos não existem óperas para valer no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Nós, do Biscoito Molhado, não estávamos na plateia, como ele, mas colamos as orelhas na PRD-5, Rádio Roquette Pinto e ouvimos tudo. Fomos testemunhas auditivas do triunfo alcançado pela soprano Magda Olivera quando cantou e bisou a ária “L' Altra Notte In Fondo Al Mare”,  Enciumado, Cesare Siepi, que deveria colher os maiores aplausos do público,  pois era o protagonista do “Mefistófoles“, de Arrigo Boito, abandonou a temporada no meio, voltando para casa. Não são apenas as divas que têm idiossincrasias, os divos, também.

-Cesare Siepi vai cantar “So In Love”. - anunciou.

Levei as mãos aos céus, milhares de Rádio Memória com Cole Porter e nada do “So In Love”.

Antes da primeira nota, Sérgio Fortes fez uma pequena introdução:

-Ouço essa música e fico todo arrepiado. Ela fecha o filme admirável sobre a vida de Cole Porter, “De-Lovely”. Cole Porter canta para a mulher que está morrendo “So In Lovely”. Eu não sei se corresponde a verdade dos fatos.

Depois que essa canção foi ouvida, imaginei as reações dos diversos tipos de ouvintes.

Os mais jovens: “Sinistro!”

Os mais velhos: “Supimpa!”

Os menos intelectualizados: “É do balacobaco!”

Os mais intelectualizados: “Os efeitos sinestésicos do “So In Love”, do Cole Porter”, que sinto na alma, não posso reproduzir em palavras, por isso, emudeço.

Depois de deixar todo o mundo arrepiado como ele, o programador musical único desse  dia, partiu para os boleros.

-Lucho Gatica, grande cantor chileno, está com uns 125, 126 anos. O  que, Peter?... Para eu fazer um abatimento?... Vá lá: 90 anos de idade (na verdade 86 anos). Ele não canta como antes, mas para seus fãs, ele está cantando cada vez melhor. “Noche de Ronda”, de Agustin Lara, é o que ouviremos com ele.

Depois de acionadas as carrapetas pelo Peter, que, às vezes, ele chamava de Tonico ou outro nome parecido, entrou no ar a canção mundialmente conhecida.

-No terreno fértil dos boleros, vem Luís Miguel interpretar um dos meus favoritos “La Barca”.  Conheço umas cem gravações, mas me prendo mais ao Pedro Vargas, ao Carlos Ramirez,

Depois que a barca partiu, o programa se aproximou do seu desfecho.

-Jonas, esta é a minha seleção musical. Espero que tenha gostado.

Nesse instante, o titular do Rádio Memória acabava de sorver o último gole do chá de hortelã inglês.

-Claro que gostei, Serginho, você tem bom gosto, senão, não seria meu amigo.

Com os poucos segundos que ainda restavam, Jonas Vieira, revigorado, citou seus companheiros de copo de leite da Rua General Glicério e um casal de livreiros da Casa “A Letra Viva”, na Rua Luiz de Camões”, onde aliás, nós do Biscoito Molhado, compramos  o livro “Depoimento”, de Carlos Lacerda.

-Voltaremos, no próximo domingo, no horário das 8 horas britânico. - prometeu o Jonas Vieira.

Tratei, então, de acertar o meu relógio pelo meridiano de Greenwich.

 

(*) Dieckmann confirmou aqui para o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO: Torci mesmo! Sanfona, só as de Paris ou forró. E Nino Rota é repetitivo demais, xô!

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