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quinta-feira, 17 de julho de 2014

2650 - Dois choros pela metade



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4900                      Data:  10 de  julho de 2014
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CHORO E CLARINETE NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II

-E aí, Sérgio?
-Vamos ouvir...
Corrigiu-se, porque o Jonas Vieira, ficou entendido, tem ojeriza ao clichê “vamos ouvir”.
-Vamos prosseguir com dois monstros sagrados da música popular brasileira, Ary Barroso e Luiz Peixoto.
-Ótimo.
-Luiz Peixoto compôs não sei quantas revistas musicais de costume. Era um compositor de escol...
E foi inevitável o trocadilho com a bebida, ainda mais que, há pouco, falaram em chope na companhia de passarinhos.
-Não sou muito chegado a ela, é a única cerveja com que não me dou bem. - comentou o Jonas.
-Há uma discussão em que se diz que a cerveja na garrafa é melhor do que na latinha. - disse o Sérgio.
Então, entrou em cena o degustador Jonas Vieira:
-Com certeza; a lata absorve muito o líquido.
 E continuou:
-É como o disco CD, o LP tem qualidade muito melhor.
-Isso você pode medir; há aparelhos que medem as frequências sonoras. O som do CD é mais achatado. - manifestou-se o Sérgio Fortes.
-O LP abre o som. - salientou o Jonas Vieira.
Se ainda estivesse vivo e lá, no Rádio Memória, o maestro Sergiu Celibidache repetiria o que sempre disse, que as gravações deturpam as apresentações ao vivo e que Herbert von Karajan, que tanto gravou por interesses comerciais, era “tão famoso quanto a Coca-Cola”.
 E retornou o degustador Jonas Vieira ao cotejar CD com LP:
-É como o uísque de 8 anos e o de 18 anos, a diferença de qualidade é clara.
-O nosso técnico, que faz gravações na Orquestra Sinfônica Brasileira, é apaixonado pela fita cassete. - disse o Sérgio.
-Sem dúvida. Eu, vez ou outra, escuto fita cassete. Ela, antigamente, gravava o LP e tirava as impurezas.
E finalizou o Jonas Vieira com uma recomendação de ouvinte experiente: quem tiver fitas cassetes não se desfaça delas.
-Eu tenho fitas cassetes, mas o som ficou abafado. Ah, o Peter, aqui, me deu uma dica: avançar toda a fita e depois rebobinar que tudo se acerta.
-Faça isso, Sérgio, vai e volta que limpa a fita para que seja ouvida. - confirmou o Jonas Vieira.
Antes da “Pausa para Meditação”, Jonas Vieira elogiou este periódico – agradecemos penhorados – mas nos alertou que o Milfont do Fernando e do Gilberto é com “t” no final, e não com “d”. Prometemos a ele, de agora em diante, não agir como o Hortelino Troca-Letras do desenho animado.
“O Suplício dos Deuses”, este foi o tema do Fernando Milfont para a nossa meditação.
Do clarinete para a flauta. Jonas Vieira enalteceu Benedito Lacerda, o mesmo que, há pouco, descera a fralda no Luiz Americano, e que, quando jovem, passara em primeiro lugar num concurso tocando toda a parte da flauta da ópera “O Guarany”, de Carlos Gomes.
-Sou fã ardoroso das suas composições, de sua maneira de tocar. Ele foi um gênio juntamente com Altamiro Carrilho.
Jonas Vieira se reportou ao conjunto regional por ele montado com músicos do calibre do Dino Sete Cordas, Canhoto do Cavaco e outros, e, assim, acompanharam Carmem Miranda, Mário Reis, Francisco Alves.
-Ele compôs e interpreta “Doidinho”.
E a flauta de Benedito Lacerda, que exerceu influência no Altamiro Carrilho, reinou absoluta.
-Que espetáculo!- brandiu o Sérgio Fortes.
Era a vez dele o próximo atrativo musical:
-Vamos homenagear dois grande amigos e participantes deste programa, nossos médicos de plantão Fernando Borer e Luzer com “Ame” de Paulinho da Viola e Élton Medeiros.
-Élton Medeiros que está na escuta do Rádio Memória. - registrou o Jonas Vieira.
Antes de o Peter acionar as carrapetas, Sérgio Fortes assinalou:
-Destaque para o violão de sete cordas do Luiz Felipe de Lima.
-Palmas para o conjunto “Choro na Feira”, e um demorado abraço no Paulinho da Viola e no Élton Medeiros. - alardeou o titular do programa.
Era a sua vez:
-Agora, um convidado especial, extraordinário.
Criada a expectativa, anunciou Benny Goodman, o “Rei do Swing” que até o concerto para clarinete e orquestra de Mozart interpretou com elogios da crítica abalizada.
-Olhem Benny Goodman e sua orquestra tocando essa pérola “Aquarius”, de Gerome Ragni e Galt MacDermont.
De volta ao Brasil depois da passagem pelos Estados Unidos.
-Não conheço bem a história de Sinhô.
-Sim, sinhô; sem trocadilhos.
Mas era tarde demais, Jonas Vieira, depois do escol fizera outro. Bem, Mark Twain considerava o trocadilho a pior forma de humor, mas Groucho Marx fez muitos, para não citar Shakespeare.
-Talvez a sua música mais famosa seja “Jura”.
-Provavelmente.
-Essa versão é do “Choro na Feira” para “Jura” é sensacional. - garantiu o Sérgio Fortes.
-Vamos lá. - empolgou-se o seu parceiro.
Nós, do Biscoito Molhado, ouvíamos essa composição e éramos conduzidos à outra do Sinhô, “Fala, Meu Louro”, inspirada em Ruy Barbosa. O tribuno baiano tratava a arte popular com desdém, haja vista a sua indignação com o sarau que a Chiquinha Gonzaga deu no Palácio do Catete. No carnaval de 1919, Sinhô se vingou.
-Maravilha! - encantou-se ainda mais o Jonas Vieira.
-Destaque para o trombone de Roberto Marques. - ressaltou o responsável por essa escolha musical.
-Sinhô se intitula o Rei do Samba. - lembrou o Jonas Vieira de informar aos mais jovens.
Nunca é demais falar de Sinhô, que foi considerado por Manuel Bandeira o representante do “Brasil Profundo”, e que também redigiu uma tocante crônica sobre a sua morte prematura merecedora da leitura de todos.
Outro artista era, agora, evocado, Aristides Zacarias, nascido em São Paulo, que tocou com Severino Araújo e depois, dizia o Jonas Vieira, montou a sua própria orquestra, que marcou época, e foi uma das atrações do Casino da Urca.
-Olhem como ele toca o frevo “Vassourinhas”, de Matias da Rocha.
E ainda acrescentou:
-Ele faz três improvisações, uma mais bonita do que a outra.
Ressoada a última nota, os olhos do Jonas Vieira, imaginamos nós, ainda faiscavam:
-Que improvisação!
-Se eu estudasse 30 anos, talvez eu me comparasse ao pandeirista que toca ao fundo.
Ao escutar essas palavras do Sérgio, fiquei em dúvida se era modéstia ou ele pretendendo viver tanto quanto o Matusalém.
-Melhor do que isso, só um uísque de 18 anos. - era o degustador Jonas Vieira falando mais alto.
O programa se encerrou com a promessa de que a instrumentista convidada que faltara por motivos de força maior estaria presente no próximo domingo.
-Nosso lema: “promete com segurança e falhe com certeza.” - ainda teve tempo o Sérgio de ironizar os candidatos do PT. (*)

(*) Correção histórica deste Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO. Por mais que o PT se esforce para falhar, jamais será páreo para o Sergio Fortes neste quesito, que pratica seu lema muito antes do PT ser fundado.

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