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terça-feira, 15 de julho de 2014

2648 - culpados e culpados



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4898                      Data:  07 de  julho de 2014
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SABADOIDO NAS SEMIFINAIS DA COPA

-Carlão, agora, eu entendo por que a Holanda perdeu a decisão da Copa de 2010 para a Espanha?
-Por que?
-Porque, no próprio hino da Holanda, eles se colocam abaixo da Espanha.
-Não foi o que aconteceu nesta Copa. - interveio o Claudio.
-Com as letras dos hinos traduzidas, enquanto são tocados, constatamos que não é nosso hino que tem uma má poesia. - comentei.
Nesse momento, o Daniel, cantou o estribilho do hino do Chile caricaturando a bravata dos chilenos.
-Os melhores versos do hino brasileiro foram tirados da “Canção do Exílio”, do Gonçalves Dias.
E os citei:
“Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida, mais amores”.
-E há um cacófato: “heroico brado”; cobrado. - disse o Claudio.
-Eu não sei, até hoje, quem ouviu o heroico brado. - entrou a Gina na conversa.
-Foram as margens do Ipiranga. - disseram.
-O Dudu, nosso primo, dizia isso, mas ele estava errado, pois há uma crase: às margens do Ipiranga. - interveio o Cláudio.
-Ouviram... o sujeito é indeterminado. - manifestei-me.
-Na verdade, não houve Grito do Ipiranga algum, por isso, não existe sujeito. - falou o Daniel.
Bem, acho que todos aqui concordam que a pior letra é mesmo do Hino da Holanda.
-Carlinhos, o páreo é duro. - disse a Gina.
-Nesta Copa, saem engrandecidos os torcedores japoneses, que limparam os lixos que produziram nos estádios. - enfatizei.
-Por isso, não, pois o Roberto teria limpado o estádio inteiro. - evocou o Claudio o saudoso cunhado da Gina.
-Perto do Roberto, os japoneses seriam sujismundos.- reportei-me ao personagem de animação da campanha educativa do governo militar na década de 70.
-Vocês viram as piadas no Facebook?
-Que piada, Daniel?
-A que diz que os brasileiros deixarão os estádios limpos levando japoneses com eles.
-Se você vir um lugar muito sujo, em Copacabana ou na Vila Madalena, em São Paulo, serão vários os suspeitos: argentinos, chilenos, brasileiros, colombianos, equatorianos...
-Só os torcedores da América do Sul?! - protestou a Gina, voltando-se para mim.
-Não se trata de preconceito, e sim de um fato. Nos países onde a educação é mais apurada, a sujeira é quase nenhuma.
Daniel foi para o quarto tocar teclado, enquanto os polemistas logo se assanharam, argumentando que os países mais ricos são os maiores poluidores do planeta, o que desvirtuava o que eu dissera.
De repente, esbarrei no copo em que eu bebera água, minutos antes, e o mesmo se estilhaçou no chão.
-Já está fazendo sujeira, e você não trouxe um japonês.- não deixou meu irmão a piada escapar.
-Por coincidência, assisti, ontem, ao filme “As Damas de Bois de Boulogne”, de Robert Bresson, em que há uma cena em que uma personagem deixa o copo cair assim como eu. Disseram, então, no filme, que isso era sinal de sorte, que a pessoa desastrada fizesse um pedido. - manifestei-me.
-Faça, então, um pedido, Carlinhos. - alfinetou-me o Claudio.
-Ou o Brasil, campeão da Copa do Mundo, ou o PT fora do poder nas eleições de outubro. - propôs a Gina.
-Não penso duas vezes: o PT fora do poder.
-Eles, fora do poder, farão aquela oposição feroz do passado. - previu o Claudio.
-Antes, eles posavam como os paladinos da moralidade, agora, com toda a corrupção em que se envolveram, nestes últimos 12 anos, perderam muito da sua força oposicionista. A máscara caiu; enganarão só os trouxas. - diagnostiquei.
-Mas são muitos os trouxas, Carlinhos. - disse a Gina.
-Carlão! - era o Daniel que desistira do teclado e voltava à cozinha.
-Carlão, você viu que, quando o Júlio César se machucou contra a Colômbia, quem se aqueceu foi o Vítor?... E nós que imaginávamos que Jéfferson fosse o segundo goleiro da seleção.
-Se o Jéfferson jogasse, sofreria as mesmas críticas que o Fred vem sofrendo por pertencer a um clube brasileiro.
-Por isso, não, pois o Vítor joga no Cruzeiro. - aparteou o Daniel a fala da mãe.
-Eu já havia dito isso antes ao Claudio. O fato de o Jéfferson ser um goleiro negro como o Barbosa, com a agravante de a Copa ser disputada no Brasil, despertaria a superstição dos malucos e dos racistas.
O Barbosa foi o único brasileiro que nunca foi anistiado, morreu como culpado da perda da Copa de 1950. - repetia sempre meu irmão.
-Ele foi impedido de entrar na concentração brasileira, na Granja Comary, que se preparava para a Copa de 1994. Disseram que ele era ave agourenta. - lembrou o Daniel.
-Na véspera da decisão de 50, arrancaram os jogadores da tranquilidade da concentração da Barra da Tijuca e levaram para São Januário, que se transformou num caldeirão. Era época de eleições e os políticos aproveitadores assediaram os jogadores para serem fotografados com eles. Os jornais, antes da partida, já prepararam manchetes com o Brasil Campeão do Mundo de 1950. O prefeito Mendes de Moraes colocou ainda mais pressão dizendo, no seu discurso: “Eu lhes dei o estádio, vocês nos deem a Copa”. Depois de todo esse descalabro, pegaram o Barbosa, que julgou que o Ghiggia ia cruzar uma bola, quando ele chutou direto ao gol, marcando 2 a 1, como o culpado de tudo. -tagarelei.
-E o pior que essa pecha de culpado ele carregou até a morte. - revoltou-se meu irmão.
-Assisti às últimas partidas da carreira do Barbosa. Que grande goleiro! - afirmei.
-Lembro-me do papai xingando o Barbosa, já no fim de carreira, quando ele espalmou uma bola do Róbson, do Fluminense, na última gaveta. - disse meu irmão.
-Não sei quem disse onde o goleiro passa não nasce grama.
-Foi o Neném Prancha, Carlinhos.
-Há frases do João Saldanha e do Armando Nogueira que são atribuídas ao Neném Prancha.
-Carlão, essa frase não significa que os goleiros tinham a mania de marcar o meio do gol afundando as chuteiras no chão com toda a grama sendo arrancada?
-Daniel, se um goleiro faz isso hoje é punido.
-Eu sei velho, por isso eu disse tinham a mania – tonificou bem as últimas palavras.
-E pensar que o Lula falou que a Inglaterra foi desclassificada das eliminatórias porque não estava acostumada a jogar em bons gramados- conduzi a conversa para os dias atuais.
-Ele é um idiota. - bradou o Claudio.
-Vá ver que o Thomas Belluci não se dá bem em Wimbledon por causa da grama ruim de lá.
Depois dessa piada, voltei ao tema de que tratávamos:
-Diz-se que, por onde o goleiro passa não nasce grama, a meu ver, porque ele é uma espécie de mordomo de romance policial, o culpado.
-Nem sempre. - discordou a Gina.
-Veja o Júlio César; saiu erradamente do gol, na peleja contra a Holanda e foi incriminado pela derrota do Brasil, enquanto o Felipe Mello agrediu alopradamente um holandês, foi expulso, mas não foi tão execrado pela mídia e pelos torcedores quanto o goleiro.
-Foi sim. - replicou a Gina, talvez por birra.
-Bem, o Felipe Mello passou a atuar no melhor time da Turquia...
-Galatasaray. - ajudou-me o Daniel quando me viu titubear.
E continuei:
-Enquanto o Júlio César foi agarrar num clube mediano da Inglaterra e, agora, é goleiro no Canadá, que está longe de ser um grande centro futebolístico.
-Ele agarrou no Queens Park Rangers e foi para o Toronto. - interveio o meu sobrinho sempre bem informado com o futebol atual.
-Importa que ele agarrou dois pênaltis contra o Chile e se reabilitou.- manifestou-se o Cláudio com a aprovação de todos.

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