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sexta-feira, 23 de maio de 2014

2621 - lendas de terror



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4871                                        Data:18 de  maio de 2014
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SABADOIDO PROGRAMADO-SE PARA O BOLÃO

-Daniel, você que é programador...
Nem me deixou terminar:
-Então, vou fazer o seu programa para hoje; pedale de manhã na Lagoa, almoce no La Mole ou no Lo Duro...
Não intervim com outra pergunta para não lhe dar oportunidade  de jorrar mais comicidade surrealista.
-Daniel, a Copa do Mundo se aproxima, e penso em fazer um bolão no meu trabalho.
Às minhas palavras, percebi que seus olhos faiscaram.
-Ainda não pensaram isso na Casa da Moeda?...- supus.
-Carlão, deixa-me pegar papel e lápis.
Claudio, acomodado na sua cadeira de ler O Globo, que neste sábado foi entregue cedo, fingia não se importar conosco.
-Na Copa de 1998, fizemos um bolão, no Departamento de Marinha Mercante, aberto até para os familiares dos funcionários. A cada rodada, era fixado na parede a colocação dos apostadores. No final, o primeiro colocado ficou com 70% do rateio, o segundo, 20% e eu, 10%, pois fui o terceiro colocado. - lembrei, enquanto o Daniel me aguardava para o início dos seus cálculos.
-Não tivemos mais um programador como aquele, e não houve mais bolão da Copa do Mundo.
-Mas agora, vocês tem o Daniel. - disse o Claudio, em tom jocoso, baixando as páginas do jornal abaixo do nariz.
-Hoje, o pessoal do meu trabalho corre para bater o ponto eletrônico; naquela época, corria-se para ver a listagem da colocação dos apostadores afixada na cozinha.
E continuei com as minhas reminiscências:
-A relação ficava no caminho para a sala do nosso chefe, que era gorducho. “Vou ver o bolão”, dizia-se. “Quem, o nosso chefe?”, perguntava-se. “Não, o da Copa do Mundo”.  Escrevi esse diálogo no Biscoito Molhado.
-Vamos lá, Carlão. De quanto será a aposta?
-20 reais.
-Carlinhos, é pouco. Vocês lá ganham bem.
-Claudio, você não conhece aqueles unhas de fome do meu trabalho.
-Posso colocar 30 reais, Carlão?
-Pode, Daniel; se a cobrança for feita no início do mês, eles não se queixarão muito.
Enquanto ele anotava, eu prossegui:
-O acerto do placar vale 5 pontos, o do número de gols do derrotado ou vencedor, 3 pontos, e do vencedor apenas, 1 ponto.
-Carlão, vamos facilitar: acertou o placar, 3 pontos, o vencedor e o empate, 1 ponto.
Mal escreveu esses valores, pulou da cadeira com papel e lápis nas mãos.
-Vou para o computador.
Saiu o Daniel, e entrou a Gina em seguida; parecia teatro. Com a atenção voltada para o visor do seu tablet, trocou saudações comigo ligeiramente e se acomodou nas almofadas do sofá de alvenaria.
Eu tinha de falar alguma coisa interessante para o casal, pois os meus concorrentes de papel e de chips eram poderosos.
-Assisti a um documentário sobre a favela da Mangueira, no Canal Curta, em que um morador, bastante espevitado servia de cicerone. Ele parava para mostrar os seus vizinhos que mais se destacavam por um ou outro motivo, porém, o interesse maior era a favela. “Onde há lugar para construir, constrói-se, por isso, vamos passar por becos.” - avisava, enquanto a câmera o seguia. O que se via, eram ruas transformando-se em becos, e becos em corredores.
-Eu já estive na favela da Mangueira com o Reinaldo; passamos pelo Buraco Quente. Se não houver um guia, você se perde lá dentro. - interveio o Claudio, largando o jornal sobre a mesa.
-O que me impressionou foi um espaço que esse cicerone mangueirense  nos exibiu. Era amplo, com praça para as crianças, um campo de futebol com um gramado verde impecável. O local era de uma limpeza austríaca.
-Carlinhos, como eles sabiam que a televisão apareceria por lá, trataram de varrer. - alfinetou a Gina, baixando os olhos do visor do tablet.
-Não; acredito que aquele espaço de primeiro mundo no meio da favela seja decorrente de investimentos de uma multinacional. Recordam-se que, em 1997, o Bill Clinton esteve lá, com o Pelé e até bateu pênalti...
-E ficou feliz como pinto no lixo, segundo o Jamelão. - acrescentou a Gina.
-Não seria o favela-bairro do César Maia ou do Luís Paulo Conde?...-apresentou o Claudio a dúvida.
Rapidamente, a Gina consultou o tablet e nos esclareceu a questão.
-Trata-se da Vila Olímpica da Mangueira, um projeto social. A Xerox ajudou no financiamento, por isso, o presidente dos Estados Unidos, com a Hilary, foi lá.
Nesse instante, o Daniel retornava do seu quarto:
-Não consegui baixar o programa; mas, não haverá problema, poderei fazer esse bolão da Copa do Mundo no Excel.
E aditou:
-Agora, vou pedalar.
E saiu. Logo depois, o Luca avisava que já rondava a redondeza para mais uma sessão do Sabadoido. E a mesma, segundo a ata de reunião, se iniciou com apenas três integrantes.
-Eu ouvi, no meio da correria, o Rádio Memória sobre o Dick Farney. Apesar da resposta do Dieckmann, eu ainda tenho dúvidas se aquela voz cantando “Uma Loira” era do Dick Farney.
-Quanto ao fato de a resposta ser curta e grossa, não se apoquente, pois o Dieckmann é chamado pelos amigos de “Troglodieck”. - contemporizei.
-Se o que mais se vê são louras falsas, porque as vozes daqueles que as cantam não são também? - ironizou a Gina.
-Ele respondeu com o nome do disco, do número da faixa...
-Não me convenceu, Carlinhos.
-Muitas vezes, quando remasterizam um disco vinil para CD, a voz não fica a mesma. - manifestou-se o Claudio.
-Isso é verdade. Ouvi um desses CDs em que o Jussi Bjorling mais parecia o Luciano Pavarotti. - comentei.
-A locução do Dieckmann é excelente. - elogiou o Luca.
-Ele ombreia com os melhores locutores da mídia, mas é só. - assinalei. (*)

-E você, Carlinhos, o que diz: foi Dick Farney, ou outra pessoa que cantou a loira? - cobrou-me a Gina uma definição.
-No momento da loira cantada, no Rádio Memória, eu tinha ido ao banheiro. Como diz a Rosa, eu inundo.
-Você é o Manequinho.
-Pela Rosa, eu lembro mais a Fontana de Quattro Fiumi.
-Falando na Rosa, tenho duas cartas dela para você. - informou-me o Luca.
-Ela tem a mesma idade do Sílvio Santos e do Fernando Henrique Cardoso, não é?
-No meio da minha pergunta, meu irmão anunciou que apanharia os copos da caipirosca.
-83 anos. - calculou a Gina.
-Gina, você já leu o livro de 1200 páginas que ela lhe deu?
-Carlinhos, só quando eu chegar a essa idade é que terminarei de ler.
(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO sempre que percebe uma provocação, mesmo quando involuntária, corre até o ofendido e oferece a retaliação. Neste caso, o Dieckmann, do alto de sua grandiosidade, generoso e complacente como um Gandhi do Século XXI, declarou que mais água iria passar pelo Ganges em um ano do que o tempo necessário para aborrece-lo.






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