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terça-feira, 3 de setembro de 2013

2458 - minha vida é uma canção



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4258                               Data:  28 de  agosto de 2013
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UM CONTO CHINÊS  NO SABADOIDO
PARTE II

No telefone, a voz do meu irmão estrondava:
-Luca, você tem de vir. O Carlinhos está aqui com cinco mamões, uma melancia e oito livros, verdadeiros tijolos, para você entregar à Rosa. Ah, você já chegou?... Estou indo para abrir o portão.
Depois de pôr o telefone no lugar em que se achava, foi realizar o que dissera.
Não me dirigi logo para o local da reunião do Sabadoido, mas escutava bem a voz do Luca.
-Claudiomiro, chicanista é a pior ofensa que se pode fazer no meio jurídico. O Joaquim Barbosa disse que o Lewandowski fazia chicana...
Quando lá cheguei, o meu irmão falava em chicaneiro.
-Pode ser, mas eu vi no dicionário chicanista. - frisou o Luca.
-Num desenho dos Simpsons, aparece um advogado querendo ganhar dinheiro fácil e uma das personagens pergunta se ele não era chicaneiro.
Enquanto eu falava, meu irmão que pegara o dicionário constatava que os dois vocábulos estavam corretos.
-Nos bastidores do Supremo Tribunal Federal, depois da sessão, o Lewandowski disse para o Joaquim Barbosa que lhe quebraria a cara...
-E ele replicou: “você não vai avacalhar a minha presidência.” - completei a informação do Luca.
-Um juiz não pode chamar outro de chicaneiro. - ponderou o Claudio.
-Certamente que as dores lombares de que sofre o Joaquim Barbosa contribuem muito para o seu mau gênio, além de ter de aturar a verborragia do seu desafeto que, nitidamente, pretende arrastar o julgamento e beneficiar os petistas.
-E por isso ele ofende os outros, como ofendeu aquele jornalista? -esbravejou o Claudio.
-Não estou justificando, estou compreendendo. - -tentei desfazer o mal entendido.
-Todos os pares deles ficaram contra o Joaquim Barbosa. - disse o Luca.
-Míriam Leitão escreveu uma das suas melhores colunas defendendo o Joaquim Barbosa nesse episódio. - lembrei.
Meu irmão interveio com uma argumentação que considerei definitiva, por isso me calei.
-Carlinhos, Míriam Leitão não defendeu o Joaquim Barbosa, ela refutou o artigo do Ricardo Noblat que enaltecia o Lewandowski e denegria o Joaquim Barbosa. É diferente.
-E o Ricardo Noblat?!... Defendia uma coisa, agora defende tudo diferente. - mostrou-se o Luca abismado com a transformação do jornalista.
-Vá ver que, depois de ter sido ameaçado fisicamente pelo Dias Tóffoli, num estacionamento em Brasília, passou a ser seu aliado. - comentei.
Mas os assuntos eram muitos e viramos a página do Mensalão.
-E a chegada dos médicos estrangeiros ao Brasil?
-Os médicos daqui não querem sair das grandes capitais.
-Sim, Luca, mas ir para o interior do Brasil sem condições de praticar uma boa medicina, não dá. - contra-ataquei.
-Chegaram médicos espanhóis, portugueses... Eu li no jornal. E trouxeram as famílias, muitas malas...
-Eu também li, Claudiomiro.
-Será que eles sabem o que lhes espera: hospitais, centros de atendimentos médicos sem os instrumentos necessários para se tratar um doente, caixas servindo de berçários? - perguntei.
E fui adiante:
-Os médicos cubanos, por já estarem acostumados com a miséria, teriam mais experiência do que os outros para improvisar nesses casos.
-Viram como eles vêm para cá?... Com grande parte do dinheiro deles indo para o governo de Cuba. - interveio meu irmão.
-Eles precisam se alimentar, de pagar o transporte de um lugar para o outro. Como vão viver no Brasil? - lançou o Luca essa questão.
-Vou pegar as bebidas. - anunciou o Claudio.
-Eu li sobre as melhores músicas que você escreveu no BM; é impossível apontar as dez melhores canções.
-Para mim, são mais de mil as melhores. - frisei.
-Você diz as dez e, logo depois, se arrepende de ter esquecido um monte delas.
E continuei:
-O Sérgio Fortes me pediu as dez melhores, mas, o que posso fazer é o mesmo que o Dieckmann fez na primeira vez que foi ao Rádio Memória: indicou aquelas que o marcaram no transcorrer da vida. (*)
-Assim fica mais fácil.
-Vamos lá. Quando eu era pequeno, minha mãe me levava para ver o carnaval na Avenida Rio Branco, então, para registrar essa época, eu escolheria “As Pastorinhas”, do Noel Rosa e Braguinha. Na minha fase infanto-juvenil, eu já me sentia atraído pela sátira na música, então, eu escolheria “Caixinha Obrigado”...
Luca, sem pestanejar, pôs-se a cantar a composição do Juca Chaves, surpreendendo-me por guardá-la na memória.
-Veja, Luca, como uma canção composta em 1960 ainda é atual hoje.
 Ele cantou mais alguns trechos, enquanto concordava com a cabeça.
-Como o Choro é o gênero musical de que mais gosto, optaria pelo “Urubatan”, com Pixinguinha e Benedito Lacerda.
-Tenho centenas de CDs de chorinho.
-As festinhas que frequentávamos todos, na nossa fase de adolescente, seria marcada por mim com a gravação dos Românticos de Cuba de “Siboney”, de Lecuona.
Fui interrompido pelo retorno do Claudio com dois copos de um líquido dourado.
-Claudiomiro, nós estávamos falando aqui das dez melhores músicas...
-Você viu as dos Luís Fernando Veríssimo?
-Vi, Claudiomiro, mas não me lembro de todas.
-Meu irmão lembrava e passou a nomeá-las.
-Ele enalteceu tanto “Senhorinha”, do Guinga e Paulo César Pinheiro, afirmando que só perde para as Bachianas de Villa Lobos, que a procurei no You Tube.
-Eu já conhecia “Senhorinha”. - assegurou o Luca.
-Eu a ouvi três vezes e o meu encantamento com a música ia num crescendo.
-Ele compõe há décadas, mas não faz sucesso. A música do Guinga é muito refinada. - manifestou-se o Claudio.
-O Arthur da Távola dizia que a música vem até os ouvintes, mas há aquelas músicas em que o ouvinte tem que ir até elas para se encantarem.
-E completei:
-Essas são as músicas que melhoram a cada vez que nós as ouvimos, é o caso das composições do Guinga.
 Claudio e Luca debatiam sobre quem tomou conhecimento primeiro da obra do Guinga, quando a Gina chegou do supermercado, convergindo todas as atenções.
-Gina, a Rosa escreveu uma carta em que fala de você.
-Luca, o que ela leu do Carlinhos para falar de mim?- reagiu com desconfiança.
-O Carlinhos só fala bem de você.
E passou para a carta.
-A Rosa, quando soube da sua atração pelo Charlton Heston, propôs que vocês duas o dividissem, pois ela confessa que seus alicerces ficavam abalados sempre que via o Charlton Heston na tela.
E, em seguida, pegou um papel do pacote que trouxera, e pôs-se a ler a tal carta.

(*) Contatado pelo Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, Dieckmann foi rápido no gatilho: “Claro, é só seguir o chefe, como nas brincadeiras da infância.”

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