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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

2699 - o segundo round


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4949                                     Data: 18 de  setembro de 2014

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ANDREA LEMBRA MOACIR SANTOS NO RÁDIO MEMÓRIA

PARTE II

        

Quando o Jonas Vieira informou que, na gravação da música do Pixinguinha, prefixo do Rádio Memória, a flauta é tocada pela Andrea, Sérgio Fortes ficou abismado.

-É mesmo?!...

-Seu nome... Ernest?... - expressou o Simon Khoury a sua dúvida.

-Ela explicou que o seu avô era mauriciano, das Ilhas Maurício, onde os colonizados adotavam os nomes dos colonizadores, no caso, os ingleses.

E acrescentou que aconteceu algo parecido no Brasil, avassaladoramente com os escravos, que aqui desembarcaram sem identidade, mas ela não tocou nesse ponto.

-Andrea, a sua obra tem muito a ver com a sua mãe...

Por não citar Odette Ernest Dias, nascida em Paris, concertista e flautista da Orquestra Sinfônica Brasileira, Simon Khoury foi repreendido pelo titular do programa, o que gerou mais uma rusga entre eles.

Sérgio Fortes acalmou os ânimos com uma reminiscência:

-Andrea fez um espetáculo com papai, no Teatro Rival, há alguns anos. Era uma garotinha, frise-se. E foi um espetáculo emocionante, um sucesso, era para ficar uma semana, e ficou seis meses.

-Lindo! “Ternas e Eternas Serestas”.

Ela citou o disco, que teve algumas faixas tocadas no programa “As Melhores Vozes do Mundo”, como “Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda”, cuja história da composição de Lamartine Babo foi contada pelo Sérgio Fortes na época.

 Lembraram um lundu, criação história de Joaquim Calado, gravado pela convidada, e o Simon Khoury não conteve a sua curiosidade.

-Andrea, onde você encontrou essa peça do Calado?

-Através da minha mãe. O lundu é a base da música popular brasileira. Era uma música de terreiro e Joaquim Calado levou esse gênero musical para o salão de concertos. Ele compôs um lundu que para concertistas, é muito difícil de ser tocado pelo seu virtuosismo.

E informou que essa peça do criador do primeiro grupo de choro chegou à sua mãe através do violonista e principalmente musicólogo, Mozart de Araújo, que escreveu o livro “A modinha e o lundu no século XVIII – uma pesquisa histórica e bibliográfica”, que é sempre consultado por todos os estudiosos dessa matéria.

-Mozart da Araújo puxou a partitura do seu acervo e minha mãe fez a gravação. Eu sempre estudei essa partitura, a nossa versão ficou diferente da dela, nós realçamos ainda mais o ritmo. - assinalou.

Peter imediatamente acionou as carrapetas do áudio e a composição de fundamental importância para a música popular brasileira, de Joaquim Calado, reinou absoluta. Inicia-se dolente, em seguida, se torna buliçosa, bem ritmada, como a flautista havia dito.

-O lundu está na origem do choro.

Jonas Vieira não citou o maxixe porque interrompeu a si próprio diante daquela virtuose da flauta.

-Que maravilha! Como você toca bem!

A elogiada agradeceu e assumiu a sua timidez.

-Você começou pela flauta? - voltou o Simon Khoury a reviver, mais uma vez, o seu tempo de entrevistador do Jornal do Brasil.

-Eu comecei pelo piano, com a professora Salomé Gantra, no PROARTE, e continuei em Brasília.

Citou o nome da sua mestre de piano, em Brasília, cujo nome, infelizmente, nos escapou.

-Do piano, eu pensei em passar para o cravo, mas me decidi, com doze anos de idade, pela flauta.

Antes de seguirmos adiante com a resenha do Rádio Memória com a Andrea Ernest Dias, vamos fazer uma pausa para que o tempo do Jornal do Brasil também seja revivido por nós.

Alguns anos antes de eu fundar o Biscoito Molhado, trabalhei no Jornal do Brasil, precisamente em 1977, quando lá entrei como estagiário. Como meu avô e meu pai eram jornalistas, eu me vi na obrigação de manter a dinastia.  O Jornal do Brasil me atraía pela sua história, chamava-se “Jornal do Brazil” desde 1891, ano da sua fundação, até que, dois anos depois, Ruy Barbosa assumiu o cargo de redator-chefe e a sua primeira medida foi tirar o “z” de Brazil e todos passaram a escrever o nome do nosso país corretamente, menos os estrangeiros.

E não foi só isso que Ruy Barbosa fez nessa sua missão jornalística: publicou o manifesto do contra-almirante Custódio de Mello, na Segunda Revolta da Armada. Sentindo-se afrontado, o presidente/ditador Marechal Floriano Peixoto mandou prender Ruy Barbosa e o Jornal do Brasil ficou fechado por mais de um ano.

Já falamos muito de Ruy Barbosa, falemos agora de mim e do Simon Khoury.

Quando lá cheguei, o Jornal do Brasil estava instalado no faraônico prédio da Avenida Brasil,  500. Se a memória não me trai, o andar dos comes e bebes era o quarto, onde todos se encontravam. Não vi o Simon Khoury, e sim, o Carlos Eduardo Novaes e aquele que para mim era, como colunista esportivo, o que o Zizinho era para o Jonas Vieira como jogador de futebol: João Saldanha. Como a Andrea, sou tímido, por isso, não abordei o meu ídolo, técnico do Botafogo campeão em 1957. Ser tímido tem as suas vantagens, como vimos com a decepção do Jonas Vieira causada pelo Zizinho.

Quantas vezes eu devo ter cruzado com o Simon Khoury naqueles corredores sem saber, pois, para mim, ele era apenas uma voz.

A política do jornal era defender o empresariado e criticar a estatização, o que desagradou o General Geisel, que criou mais de setenta estatais no seu governo. Por isso, as verbas de propaganda de órgãos públicos diminuíram – dizia-se na seção em que trabalhava.

Com o Jornal do Brasil, aprendi que não se deve investir em instalações suntuosas, pois os leitores não pagam dízimos, apenas o preço do jornal.  Passaram poucos anos, o Jornal entrou em crise financeira (já estava, apenas veio a piora) e fechou.

Com o aprendizado, fundei o Biscoito Molhado sem instalações faraônicas, com apenas uma mesa, uma cadeira e um computador, e o Simon Khoury certamente concorda comigo.

Mas voltemos a exímia flautista Andrea Ernest Dias mostrando a sua arte refinada no Rádio Memória.

Agora, não, pois o Jonas Vieira anunciou a “Pausa para meditação” com a crônica do Fernando Milfont.

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