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terça-feira, 2 de setembro de 2014

2683 - Agosto do Ditador 2

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4933                                      Data:  28  de  agosto de 2014
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MEMÓRIAS DE AGOSTO NO RÁDIO
2ª PARTE

-Bom-dia, David Ganc. - saudou-o o Jonas Vieira.
O convidado do Rádio Memória retribuiu as saudações dos anfitriões e enalteceu o programa em que estava, porque valoriza a boa música, aquela que é eterna.
-Esse lixo que está na mídia impede que as boas músicas apareçam. - rezingou o Jonas Vieira.
-Mas não vamos falar no que o Pixinguinha chamava de “não música”, vamos falar da boa música que é tocada aqui. - pediu o David Ganc.
-Vamos ouvir o quê?
Simon Khoury se interpôs.
-Ele gravou um disco com 14 músicas minhas...
-São minhas também. - contrapôs o Jonas Vieira.
Simon Khoury preferiu contar um momento na gravação do CD a discutir e revelou que não conseguia entoar uma nota para o entendimento do David Ganc. Depois de muitas peripécias que poderiam ser chamadas de “Em Busca da Nota Perdida”, foi interrompido pelo titular do programa:
-David, qual é a sua versão?
-São tantas notas que nem me lembro mais.
Foi Simon Khoury que apresentou a primeira atração musical:
-”Aroeira”, com arranjo magistral de Vittor Santos, com 4 saxofones, 1 clarone, piano, baixo e bateria.
-Essa é a faixa de abertura do disco, Simon?
-Não, o disco abre com uma valsa ibérica, depois vêm uma toada, um chorinho...
Jonas Vieira se voltou para o convidado:
-David, você tem vários CDs?
-Eu tenho 4 em meu nome, são mais de 190 faixas gravadas com instrumentais.
-Você trabalhou muito com Mário Sève? - inquiriu de novo.
-Sim; fizemos um trabalho sério de resgate do Pixinguinha, não só em CD, como em 2 livros didáticos sobre os contrapontos do Pixinguinha.
Coube ao Simon Koury pedir a segunda atração musical do programa.
David Ganc achou melhor fazer uma retrospectiva da sua carreira partindo do primeiro disco, “Baladas Brasileiras” que foi lançado no Brasil e na França simultaneamente.
-Temos a sorte de ser contemporâneos de um gênio, Hermeto Pascoal; eu fiz um arranjo para uma composição dele, “São Jorge”.
Entrou no ar “São Jorge” com a flauta reinando absoluta.
-Que fôlego! - abismaram-se todos.
-Eu comecei a tocar flauta porque fui um garoto muito asmático; então, obrigaram-me a fazer terapia com esse instrumento. A terapia acabou, mas a música ficou.
Jonas Vieira fez uma brecha para enviar demorados abraços para o Monarco, irmão e mais uma e outra pessoa. Simon Khoury também aproveitou a brecha, transformada em recreio, para contar mais uma das suas inúmeras histórias com o Carlão (o ator Carlos Kroeber), que não podemos reproduzir porque há crianças na redação do Biscoito Molhado.
-”São Jorge” é uma composição sua? - deu o Jonas Vieira a devida atenção ao convidado.
-Não, é do Hermeto; a minha  eu gostaria de mostrar agora. Ela é do disco seguinte: “Caldo de Cana”.
Entra “Caldo de Cana” que, na sua primeira frase musical, já agrada aos nossos ouvidos.
  -Esse nome “Caldo de Cana” por quê? - quis saber o Simon Khoury.
E ele logo esclareceu:
-Fiz uma homenagem ao “Zé da Flauta”; e também é uma homenagem ao nordeste com seus vários artistas. Essa minha música saiu de harmonias contemporâneas misturadas com a influência nordestina.
Simon Khoury interrompeu a digressão do David Ganc sobre a riqueza musical dessa região do Brasil, com uma pergunta:
-Qual a diferença entre pífaro e pífano?
-Nenhuma.
-A ignorância atravanca o processo. - alfinetou o Jonas Vieira seu parceiro.
-Pífaro ou flauta? - voltou à carga o Simon.
-São timbres diferentes, mas eu gosto de dizer que toco pife.
-Pífaro é a flauta nordestina.
-Isso, Simon.
Nesse momento didático e descontraído, Jonas Vieira interveio em tom sério.
-Vou pedir licença ao David para homenagear uma das maiores cantoras brasileiras, Aracy de Almeida. O centenário do seu nascimento é neste mês, e ela foi homenageada num show em São Paulo que teve gente “saindo pelo ladrão”. Aqui, no Rio de Janeiro, que é o berço dela, nada. Passa em brancas nuvens.
E quebrou a sua justa indignação voltando-se para o Simon Khoury:
-Você tem uma história com a Aracy de Almeida.
-Não dá para contar.
Para o Simon se conter, a coisa deve ser do arco da velha.
E Jonas Vieira retornou à seriedade.
-Devemos a Araci o ressurgimento de Noel Rosa, que andava maio esquecido. Vamos ver se aqui, no Rio, alguém se anima e preste a homenagem que ela merece.
Isso posto, ouvimos a Aracy de Almeida cantando “Pela Décima Vez”, uma das 300 criações inspiradas do Noel Rosa.
Em seguida, agradeceu ao Fernando Milfont por ter cedido o tempo da sua crônica para que a cantora fosse lembrada.
-E agora, David?
-Seguindo a Araci... na mesma época, anos 40 e 50, o maior violonista brasileiro era o Garoto.
Então, David Ganc aludiu ao disco em que ele reverencia Tom Jobim com a ideia de mesclar as criações do grande compositor com flauta, cordas e percussão.
-A primeira música que gravei foi “Garoto”, uma homenagem do Tom Jobim a ele.
Depois de ouvida a dupla homenagem, do David Ganc a Tom Jobim e deste a Garoto, Jonas Vieira exclamou:
-Que beleza!
-É lindo misturar Tom Jobim com o um quarteto de cordas (no caso, o Quarteto Guerra Peixe).
Simon Khoury quando não conta um caso, pergunta, e,  dessa vez, perguntou:
-A flauta é mais difícil do que o saxofone?
-São dois instrumentos difíceis. Eu levei vantagem porque comecei com a flauta e, depois, o saxofone. As embocaduras são bem diferentes, e quem começa com o saxofone sai prejudicado.
-Você chama os músicos para uma gravação, e eles não perguntam quanto vão ganhar, trabalham por prazer, creio que até de graça se for o caso.     Há uma exceção, cujo nome não dirá. - manifestou-se o Simon Khoury.
-E agora, David?
-O meu próximo disco, com o Mário Séve, é uma homenagem ao Pixinguinha. Nós revivemos a dupla que ele fez com Benedito Lacerda. Trata-se de uma música bem alegre, “Seu Lourenço no Vinho”.
O vinho podia ser “Sangue de Boi”, mas Pixinguinha, com o seu talento, o transformou num “Chateau Margaux”.  E David Ganc demonstrou todo o seu virtuosismo como flautista.
Após a última nota ou gole do “Seu Lourenço”, David Ganc destacou a participação do Jorginho do Pandeiro.
-Foi do conjunto Época de Ouro, tocou com Dino Sete Cordas. - acrescentou o Jonas Vieira.
Então, o Simon Khoury abordou o convidado com uma elucubração:
-David, vamos supor que uma mulher riquíssima, com casa nas ilhas gregas, prometesse sustentá-lo por toda a vida desde que você largasse a música, o que você faria?
-Eu odeio a Grécia e amo a música. - foi a resposta.
-Como você faz uma pergunta com tal besteira? Você é um boboca.   - irritou-se o Jonas Vieira e parecia que a coisa era séria.
-Você não pode falar palavrões no ar. - censurou-o o Simon Khoury.
-Eu não disse palavrão, eu disse que você é um boboca.
-Eu entendi babaca.
-É um babaca mesmo.
Deus do céu! Cadê o Sérgio Fortes para desapartar?
Como os dois brigam há 50 anos, segundo o próprio Sérgio Fortes, a rusga foi logo contornada. Jonas Vieira passou a falar do verdadeiro circo dos horrores na atual campanha eleitoral, citando alguns dos nomes mais estrambóticos dos 25.366, candidatos para arrematar com a solicitação que todos os eleitores devem exercer conscientemente o seu direito do votar, evitando votos nulos e em branco que só auxiliam os corruptos.
Encerrado o minuto eleitoral, voltou-se para o seu convidado.
-Vamos fazer uma homenagem a um amigo...  disco que gravei nos anos 80, quando se iniciou a minha carreira.
O amigo era o Nando Carneiro, que na gravação a ser ouvida -disse – tocava violão e Mingo Araújo, percussão.
-A música instrumental, que não tem letra, às vezes diz mais do que um poema, porque o ouvinte pode levar a imaginação para onde quiser. - disse orgulhoso da obra que acabara de ser tocada.
-Qual é o nome?- quis saber o Jonas Vieira.
-”O Peregrino”, autoria do Nando Correia.  - respondeu.
-A pergunta seguinte, ele dirigiu ao Simon Khoury, uma temeridade.
-Quem é o nosso operador, Simon?
-Ele é gostoso... O Bolinho de Arroz.
-E para encerrar, David?
-Vamos voltar ao S.
O “S” era de Simon Khory  e ao CD que dera início à programação musical desse Rádio Memória de 24 de agosto de 2014.
 Confirmando o que o proeminente convidado dissera sobre a música instrumental, que instiga a imaginação e leva a pessoa  para onde ela quiser, Simon Khoury declarou que fora  levado para a Noruega com o Carlão e, por isso, chamou essa composição de “Cu de Foca” (sic).
O Rádio Memória se encerrou com o David Ganc, atendendo ao pedido do Jonas Vieira sobre os seus discos, onde são encontrados:
-www.davidganc.com.br

-E na Arlequim. - acrescentou o Simon Khoury, encerrando-se o programa antes que ele contasse mais uma história do Carlão.

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