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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

2698 - os rounds de Andrea x Moacir



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4948                                  Data: 17 de  setembro de 2014
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ANDREA LEMBRA MOACIR SANTOS NO RÁDIO MEMÓRIA
        
Com as expressões com que abre e fecha o Rádio Memória, Jonas Vieira iniciou o programa desse domingo, 14 de setembro de 2014:
-Muitíssimo bom-dia, senhores ouvintes. Um demorado abraço.
E seguiu em frente:
-Hoje, com uma de nossas maiores flautista, Andrea Ernest Dias. (*)
Dessa vez, ele não falou em surpresa que depois seria revelada, o que me fez suspeitar da presença do Simon Khoury que, costumeiramente, frustra os pequenos segredos do titular do programa; e não me enganei.
-Com a presença do Simon Khoury. - anunciou o Sérgio Fortes.
Simon Khoury, que dizia sempre “andar com ele é certeza de chegar”, mudou o seu “marketing”.
-Simon Khoury, o “Crocante Inesquecível”.
-Que dá engasgos. - lançou o Jonas Vieira a sua farpa.
Sem lhe dar direito de resposta, anunciou logo o calendário. Sérgio Fortes prontamente arregaçou as mangas:
-14 de setembro de 1752, a Inglaterra adotava o calendário gregoriano.
O fato de o rei Henrique VIII ter rompido com o papado, no século XVI, não era argumento para ignorar uma medida inteligente da Igreja Católica que vigorava desde 1582 e que até os fiéis do bispo Macedo aceitam.
-Em 1867, foi lançado o primeiro volume de “O Capital”, de Karl Marx.
-Um fato de muita importância. - comentou o Jonas Vieira com a concordância do Sérgio Fortes.
-Em 1956 – prosseguiu o Homem-Calendário – foi filmada a cena do filme “O Pecado Mora ao Lado”, em que o vento do metrô levanta a saia da Marilyn Monroe.
-Isso abalou o mundo. - comentou em seguida.
-Um mulheraço. - aflorou a libido do Jonas Vieira.
Parecia que tinham engolido o “Crocante Inesquecível”, pois ele não se manifestava.
-Em 1905, nascia Ismael Silva; em 1922, Zizinho.
E se voltou para o Jonas Vieira:
-Viu o Zizinho jogar?
-Era o meu ídolo, o meu botão.
-Eu vi, Jonas, a raspa do tacho. Não sei se no Bangu...
-Ele encerrou a carreira no São Paulo, onde foi campeão. Zizinho quebrou as duas pernas e ainda voltou a jogar futebol.
E prosseguiu:
-Um diretor do Flamengo me contou que Zizinho, no intervalo dos jogos, bebia meio copo de cachaça.
-O Gérson fumava nos intervalos das partidas. - lembrou o Sérgio Fortes.
Em vez do Simon Khoury, quem contou um causo foi o Jonas Vieira.
-Zizinho foi técnico do Vasco da Gama no tempo em que o Agartino Gomes era o presidente. Eu fui fazer um trabalho lá e fiquei deslumbrado quando o vi. Aproximei-me dele e lhe disse que era meu ídolo, meu botão favorito. Zizinho, então, me olhou com desprezo e disse: “É mesmo”?...
-É o chamado contravapor. - comentou o Sérgio Fortes.
Depois de aludir ao nascimento de Cyl Farney, em 1925, o Homem-Calendário, com a voz em ré menor, a mesma do Réquiem de Mozart, apresentou os falecimentos em 14 de setembro.
-Em 1321, falecia Dante Alighieri, autor da Divina Comédia.
Evidentemente que logo nos veio à mente a ópera Gianni Schicchi  baseada no Canto XXX do Inferno, da Divina Comédia. O poeta procurou se vingar daquele que surrupiou a herança da sua esposa lançando-o nas chamas do demo, mas o tiro sairia pela culatra, pois Gianni Schicchi caiu na simpatia de todos com a música de Puccini.
O barítono Paulo Fortes foi um grande Gianni Schicchi, mas ele só seria recordado mais tarde.
-Em 1927, falecia Isadora Duncan, bailarina norte-americana. Morreu com a echarpe que se enroscou na roda do carro.
Embora seja colecionador de carros antigos, Sérgio Fortes não disse que era umAmilcar CGS, apelidado maldosamente, na época, de Bugattinho dos pobres.
Simon Khoury tratou de recuperar o tempo perdido, ou seja, em que ficou calado:
-Em 1610, nascia que pessoa muito importante?
-Quem?- perguntaram candidamente.                                                                                  
-O Jonas Vieira.
O Homem-Calendário ainda se reportou a outra morte em que um carro esteve envolvido, o da Grace Kelly em 1982.
-Isso posto, vamos ouvir a nossa convidada, Andrea.
E ouvimos, naquela manhã de domingo de arrastões nas praias, a voz delicada, quase acanhada, da exímia flautista. Ela aludia ao seu último CD, chamado Muacy, que vem a ser o nome verdadeiro do grande músico, Moacir Santos, que ela homenageava com a sua arte.
Sérgio Fortes estranhou o nome a ponto de ela soletrá-lo. Ele exemplificou com o Millor Fernandes, que seria Milton, mas, foi registrado erradamente no cartório como Millor.
Andrea se fixou nesse CD, dizendo que foi feito com ela, na flauta; Paulo Braga, no piano; e Marcos Suzano, na percussão.
E prosseguiu:
-Nós formamos o Trio 3-63, porque nascemos todos em 1963. No nosso centenário, tínhamos de lançar um disco novo em grande estilo.
-Qual a primeira faixa? - indagou o titular do programa.
Era “Coisa nº 1”, de Moacir Santos e Clóvis Mello, cuja gravação logo foi ouvida.
-Andrea Ernest Dias e Moacir Santos, que dupla. - vibrou o Jonas Vieira.
Sérgio Fortes pediu a palavra para falar que, apesar de o Moacir Santos ser uma figura importantíssima da música brasileira, um músico que trabalhou nos Estados Unidos, só recentemente ressurgiu.
-Recentemente é relativo, pois só do ano 2000 até hoje, já se passaram 14 anos; e pode-se dizer que antecedeu um pouco o ano 2000. - contrapôs ela.
-Ele faleceu em 2004?
-Em 2006, com 80 anos.
Depois dessa correção, Andrea prosseguiu:
-Esse resgate ou reapresentação do Moacir Santos já datava dos anos 90, quando os músicos fizeram um tributo a ele depois de um AVC. Começou nos Estados Unidos. Houve, em São Paulo, com os músicos do Núcleo Contemporâneo um concerto no Memorial da América Latina. Em seguida, um projeto concebido e dirigido por Mário Adnet e Zé Nogueira deu uma alavancada, projetou a obra de Moacir Santos.
-Vinícius de Moraes costumava dizer que Moacir Santos não é um, são muitos. - reportou-se o Jonas Vieira ao “Samba da Bênção”, de Baden Powell e Vinícius.
-Moacir Santos saiu daqui para os Estados Unidos, foi trabalhar com Henry Mancini e Lalo Schifrin... O arranjo do “Passo do Elefantinho” é dele?  - interveio o Simon Khoury.
-Creio que é do Mancini mesmo. Há uma identificação dos grandes compositores que trabalham com o mesmo material, a mesma bagagem cultural. Eles trabalhavam juntos para o cinema. 
Jonas Vieira a interompeu:
-A segunda faixa do CD é uma obra-prima que eu não conhecia.
-É uma música de 68, 69, o início da fase dele nos Estados Unidos.
Logo, o Peter acionou as carrapetas do áudio, e ouvimos “The Beautiful Life”.
-Quem é o saxofonista, Andrea? - indagou o Jonas Vieira.
-Beto Cardoso; a curiosidade é que ele toca o sax-barítono que foi do Moacir Santos.

(*) Andrea é uma craque; além disso, foi vizinha do Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO na Rua Triunfo durante muitos anos e era um privilégio ouvir – baixinho – suas práticas. Vez por outra vai à feira da Rua General Glicério. Nota 10.

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