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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

2570 - Carta do Sergio



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4370                              Data: 26 de fevereiro de 2014
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CARTA DO  LEITOR

“Acontecimentos recentes me deixaram sem computador, impedindo-me de comentar/responder com a merecida presteza a excelente edição nº 2835 do Biscoito Molhado.
Sendo sincero, devo dizer que nem mesmo a disponibilidade desse diabólico artefato me assegura respostas rápidas. Meu limite tecnológico, hei que confessar, é o liquidificador Walita de três velocidades.
 Mas vamos lá. O que mais gostei naquela edição foi constatar que o amigo captou à perfeição os objetivos que busco alcançar ao conferir às “Melhores Vozes” a sua atual configuração.
Temi, durante algum tempo, estar completamente doido ao apresentar os textos mais ou menos “eruditos” que antecedem cada gravação. Tranquilizou-me um papo com Artur da Távola, que fez elogios rasgados ao formato do programa. Ressalte-se que aplausos do Artur deixam-me sempre um pouco desconfiado. Entre outras muitas qualidades, ele é um sedutor irresistível.
De qualquer forma, o “modelo” do programa me agrada. Eu não teria ânimo para atuar como um D.J. de música clássica. Tenho um trabalho danado, sou pago “a leite de pato', mas fico contente com a repercussão que o programa está alcançando de forma crescente junto à turma dos “bons tempos” que frequentava o Municipal.
Adorei suas observações a respeito de Lucho Gatica/ El Reloj e cia... Nunca havia me aprofundado no tema e o programa está me dando uma chance de fazer uma incursão nesse terreno. Sempre ouvi de meu pai referências elogiosas a cantores da chamada “música popular”. Ele era fascinado por Carlos Ramirez, segundo ele uma das mais lindas vozes que teve oportunidade de ouvir. Elogiava Pedro Vargas, Lucho Gatica, Gregorio  Barrios...  Ressalte-se que estamos falando, quase sempre, de gente que estudou canto. Carlos Ramirez  cantou ópera no Municipal de São Paulo. Pedro Vargas cantou uma “Cavalleria Rusticana” com 23 anos de idade.
Francisco Alves e Carlos Galhardo foram “colegas” de meu pai. Alunos, todos eles, do professor Murillo de Carvalho.
Quando Sérgio Cabral e André Midani (Presidente da Warner) chamaram meu pai para gravar “Ternas e Eternas Serestas”, o primeiro ficava até altas horas da noite na casa do velho para conversar sobre o repertório do disco. Tomou um susto ao constatar que o barítono conhecia tudo no ramo. Eram as músicas que ele cantava desde garoto, acompanhado ao violão por meu avô, engenheiro da Light.
Acertados os ponteiros quanto ao disco, Paulo Fortes sentiu-se na obrigação de estudar as partituras de todas aquelas músicas – Décimo-terceiro trabalho de Hércules, mas ele conseguiu achar todas elas. E tomou um susto. Como eram sofisticadas, e eventualmente difíceis, quando examinadas na pauta musical! Como eram, algumas, difíceis de cantar, nos tempos impostos pelo autor! Que complicados intervalos musicais tem “A Deusa da Minha Rua”! A começar pelo “A-Deusa...” em que a linda música começa... Tudo isso cantado com um pé nas costas pelo excepcional Orlando Silva, o “maior de todos”, na opinião de meu pai...
Queria ter a dicção do Sérgio Chapelin, para não ir muito longe e permanecer ao menos no departamento dos Sérgios. Faço força, tomo cuidado para não dar uma de “Jacy Campos” (lembra?) ou Domingos de Oliveira (outro que tem a dicção de um leão marinho) e tento me fazer entender. Mas nem sempre tudo dá certo. Em algum momento o chiclete trocou de molar e você entendeu que Fernando Corena correu atrás do seu (dele) cão em trajes de Eva. Não foi bem isso. Ele estava em trajes “de época”. Não significa isso que eu esteja conferindo um atestado de masculinidade ao célebre basso-buffo. Penso que ele era espada, mas sigo os ensinamentos de Pedro Simon. Não ponho a minha mão no fogo...
O movimento “Queremos Gigli” saiu-se vitorioso. Contratei o grande tenor para se apresentar nos dias 4 e 7 de julho.
Fico por aqui, reiterando minha admiração pela crônica  sensacional. Grande Abraço. Sérgio Fortes
BM:  Machado de Assis  escreveu um conto que intitulou “Papéis Velhos”. Ainda bem que sou machadiano e segui os seus conselhos, num dos seus romances,  de não jogar fora papéis velhos, por isso, encontrei essa carta datada de 18 de junho de 2007. Como a encontrei?...Escarafunchava eu as gavetas da minha mesa de trabalho, por motivo de mudança de sala, e lá estava a carta  manuscrita pelo Sérgio Fortes que, na época, olhava o computador com desconfiança, hoje, são amigos íntimos.
Apesar de datada, o texto não é datado; falamos de assuntos e pessoas nele aludidos  até hoje. Por exemplo: o Jonas Vieira não fica um Rádio Memória sem lembrar o Orlando Silva. Agora, com essa carta aberta (espero que o Sérgio não se aborreça) com a chancela do grande barítono Paulo Fortes.
Ao mencionado BM 2835 coube o título “Queremos Paulo Fortes”, porque, no seu programa “As melhores vozes do mundo”, Sérgio Fortes não colocara, até então, gravação do grande barítono. Lançamos, dias antes, essa campanha que até o Dieckmann abraçou.
Seriam pruridos de nepotismo que detinha o seu filho?... Bobagem, pois a palavra nepotismo, na sua origem, é católica (até demais) e se refere a sobrinhos, não a pais. Sendo mais claro: ao favorecimento dos sobrinhos do Sumo Pontífice.
No trecho da carta em que o Sérgio alude ao parágrafo do Biscoito Molhado em questão sobre a corrida do baixo Fernando Corena, pelo palco, atrás do seu cãozinho em trajes de Eva, assumimos o nosso rotundo erro. Sérgio culpou, generosamente, a sua dicção, mas, na realidade, o problema adveio da nossa audição que, por vezes, falha, hajam vista casos de surdez na minha família, talvez eu chegue um dia a ser um Beethoven  (num quesito, pelo menos),
Quando editamos o BM 2835, Sérgio Fortes já havido atendido à nossa campanha, colocando no ar a gravação da valsa “Eu sonhei que tu estavas tão linda”. Antes, no seu programa, Sérgio falou do desejo de Lamartine Babo em compor uma opereta, mas ele a pôs de lado quando Francisco Matoso, já doente, lhe mostrou a melodia de uma valsa que precisava ter algumas notas modificadas e de uma letra; Remodelada, Lamartine a entregou para Francisco Alves cantar. Quando imaginávamos que a ouviríamos com ele, veio a surpresa: o cantor era o Paulo Fortes.
E encerramos aquela edição liderando mais uma campanha “Queremos Beniamino Gigli.”
Reiterando: papéis velhos devem ser guardados.

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