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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

2551 - a casadinha da Pavuna



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4351                             Data: 22 de janeiro  de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-Quando ouvi, no Rádio Memória, o Almirante cantando “Pelo Telefone”, logo me recordei do “Na Pavuna” e, em seguida, da “Noivinha da Pavuna”, que respondia a perguntas com um prêmio em dinheiro como nos canais de televisão americanos. Eu não deixava de ver os programas do J.Silvestre na TV e, depois, na TV Tupi. Dieckmann.
BM:  Dieckmann, a “Noivinha da Pavuna” emocionou todo o país porque os patrocinadores do programa souberam, com muito brilhantismo, criar todo um clima de identificação popular com a humilde moradora da Pavuna que, noiva, necessitava do prêmio para casar e adquirir a sua casa. Isso tocou muito emocionalmente mais o povo brasileiro do que o programa da casa própria do BNH no governo Castelo Branco. 
Ela respondia sobre o poeta Guerra Junqueiro e, ao ser anunciada pelo J.Silvestre, soava a voz do Almirante cantando com a sua voz possante o samba “Na Pavuna”.
Ela respondia as questões apresentadas satisfatoriamente, programa a programa, aproximando o seu sonho cada vez mais da realidade, até que, quando só faltava praticamente o telhado da casa, ela errou. O choro da “Noivinha da Pavuna” e, certamente da maioria dos espectadores, além do constrangimento do J. Silvestre, comoveu o Brasil do Oiapoque ao Chuí. Como você, Dieckmann, já confessou por diversas vezes que derramou lágrimas copiosas com a morte da mãe do Bambi, creio que lágrimas correram pela sua face diante da televisão, quando a noivinha errou a resposta.
O presidente dos Estados Unidos, Calvin Coolidge, disse, na década de 20, que o negócio dos Estados Unidos são os negócios, também o negócio do Brasil são os negócios e o patrocinador do programa J. Silvestre, as Casas Sendas, calcularam que perderiam um imenso público de consumidores, digo, espectadores, se a “Noivinha da Pavuna” não mais aparecesse; então, como se diz na gíria esportiva, viraram a mesa. Na semana seguinte à catástrofe, a “Noivinha” reapareceu e J. Silvestre, para a alegria geral, anunciou que ela continuaria a responder sobre o poeta e que o sonho não acabara.
Voltamos a ouvir o Almirante a cantar o samba em que só dá gente “reúna” (Rosa Grieco diria gregária, mesmo sem rimar com Pavuna).
O final não poderia ser mais feliz: a “Noivinha da Pavuna” casou no próprio programa. Hollywood não faria melhor.


-Foi mesmo João da Baiana quem introduziu o pandeiro no samba? Jackson.
BM: Apesar de o pandeiro ser utilizado na ópera Carmen, em composições de Manuel de Falla, como “El Amor Brujo”, concertos de Prokofiev, era visto como um instrumento musical de vagabundos, no Brasil, como o violão, nas primeiras décadas do século XX.
Em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som, João da Baiana afirmou que sempre se dedicou ao pandeiro porque tinha amor ao ritmo, que os garotos formavam roda de samba, e era ele quem melhor tocava esse instrumento.
Em 1908, quando se apresentava na Festa da Penha, o seu pandeiro foi apreendido pela polícia, e isso o impediu de participar das reuniões de instrumentistas populares no “palácio” do senador Pinheiro Machado no Morro da Graça. Ao saber do que acontecera, o senador deu-lhe um pandeiro de presente com a inscrição “Com a minha admiração ao João da Baiana – Pinheiro Machado”. Era um salvo-conduto que permitia ao músico se apresentar onde quisesse, pois Pinheiro Machado era conhecido como o “fazedor de presidentes do Brasil”, e, na época, a expressão “turma da chaleira”, com o significado de puxa-sacos, surgiu por causa das pessoas que abasteciam de água quente o seu chimarrão.
O maior adversário político do senador Pinheiro Machado foi Ruy Barbosa, que não gostava das manifestações artísticas populares, haja vista a sua reação ao sarau da Chiquinha Gonzaga no Palácio do Catete, mas isto é outra história.

-O que o Biscoito Molhado tem a dizer da declaração pública do Sérgio Fortes de atirar o sapato na televisão indignado com a estupidez das programações? Elio
BM: Sérgio Fortes não seria o primeiro a recorrer ao sapato como forma de protesto. Em 1960, numa sessão da ONU, o Premier da União Soviética, Nikita Krushchev, indignado com o discurso do delegado das Filipinas, descalçou os sapatos e bateu com ele sistematicamente na mesa como se fosse um martelo. A sessão se transformou numa balbúrdia incontrolável, e o presidente da Assembleia teve de dar a sessão por encerrada.
Recentemente, Muntadhar al-Zeidi, jornalista iraquiano, arremessou dois sapatos  na direção do presidente Bush, filho durante a sua quarta e última visita surpresa ao Iraque em guerra.
No momento em que ele cumprimentava o Premier do Iraque, no escritório do líder desse país, na protegida zona verde de Bagdá, durante uma entrevista coletiva, os dois sapatos voaram, mas o presidente dos Estados Unidos demonstrou que tinha talento para ser esquivar; pelo menos, encontramos um talento nele.
Sérgio não foi o primeiro e nem será último a protestar com o sapato, embora, hoje em dia, quase todo o mundo use tênis.

-Eu li em um Biscoito Molhado sobre a maneira descontraída com que o apresentador do programa Concertos OSESP, da Rádio Cultura, anuncia as atividades da orquestra. O que foi mesmo que ele disse quando foi anunciada a “Sinfonia Doméstica, de Richard Strauss? CAT
BM: Eu contei uma parte, mas aqui vai toda ela, pois esse programa foi reprisado pela Rádio MEC. E parece que, dessa vez, escreverei corretamente o nome do descontraído apresentador: Carlos Heid.
Ele disse que Richard Strauss, não contente em ter composto anteriormente “Vida de Herói”, em que ele é o herói que luta contra os filisteus, ou seja, os inimigos da sua música, lançou a “Sinfonia Doméstica”.
-“A maior declaração de autoconfiança musical que eu conheço.” - disse Carlos Heid.
E prossegue:
-”Coloca 110 músicos, incluindo 8 trompas e 5 saxofones para mostrar as 24 horas da vida mundana de um gênio, ele, mais a mulher, a geniosa soprano Pauline, e o filho Franz apelidado de Bubby.”
 E informou que, na estreia vienense, Gustavo Mahler, que regeria a peça, ficou fulo da vida, quando soube do programa da “Sinfonia Doméstica.”
E acrescentou que o maestro Karl Richter declarou que a descrição musical do banho do “bebê bávaro” Bubby faz mais barulho do que todo o cataclisma da queda dos deuses do Walhala.
Depois de o bebê dormir, Richard Strauss passa para a cena de sexo; o motivo de Pauline fica em cima do seu motivo.
-”Há um clima de diferentes tons para caracterizar o orgasmo masculino e feminino.”
Caramba, se não fosse o descontraído apresentador dos Concertos OSESP, eu não saberia de tanto cabotinismo musical.

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