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terça-feira, 27 de agosto de 2013

2453 - botaram a pipa do Gago na cesta



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4253                                Data:  18 de  agosto de 2013
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165ª  CONVERSA COM OS TAXISTAS

-Amigo, passei com o meu táxi pela sua rua, nesse último sábado... Que confusão! - disse o Meu Nobre, quando eu me acomodava ainda no cinto de segurança.
-Ah, sim, houve um festival de pipas na Praça Manet e arredores. - lembrei-me logo.
-A confusão foi entre uma moradora da Modigliani e um daqueles barbados que soltam pipas. - acrescentou.
-Eu vi a discussão, quando eu chegava, com os policiais presenciando tudo. Depois, ela se foi, no carro deles para dar queixa. - informei-lhe.
-Parece que o problema foi com o cerol da linha, que é uma arma. Conheço um motoqueiro que quase ficou sem o pescoço por causa dessas linhas de pipa, que não são vistas. Se não fosse o capacete...
-É uma guilhotina! - exclamei.
-No meu tempo de garoto, nós colocávamos lâmpadas nos trilhos dos bondes, depois pegávamos o vidro moído e colocávamos na cola de madeira que derretíamos em casa. Hoje, compra-se uma tal de linha chilena que já vem com um cerol muito mais cortante, uma lâmina.
-No nosso tempo, eram os garotos que empinavam pipas, hoje são os marmanjos. - juntei minhas observações às dele.
-Eu, como muitos meninos, não trocava a pipa pela bola e o tempo das pipas eram as férias escolares.
Como ele abriu a porta das reminiscências, eu entrei:
-Quando não havia cerol nas nossas linhas, nós gritávamos que estávamos “puros”.  Certa vez, quando eu tinha uns nove anos de idade e meu irmão, oito, soltávamos pipas, no quintal do nosso apartamento, sem cerol na linha e o José Augusto, irmão mais novo do Otávio Gaguinho...
-Onde foi isso? - pediu mais detalhes.
-Na Rua Cachambi, n° 533, precisamente. Entre nosso prédio e a garagem, que ainda existe, havia um terreno baldio...
-Já localizei. - garantiu.
O José Augusto, que soltava a pipa dele da garagem, sabia que estávamos “puros”, mesmo assim, ele, numa só manobra, cortou as linhas da minha pipa e a do meu irmão, as duas se foram, lamentavelmente, para longe de nós emboladas nas rabiolas.
-Que sacanagem! - expressou sua solidariedade regressiva.
-Como o safado vibrava!... Considerou uma façanha cortar duas pipas ao mesmo tempo, mas foi uma covardia.
-Covardia mesmo. - concordou.
-Fiquei, sentado no muro, observando o “inimigo”. Em dado momento, observei que deixara uma pipa no chão, enquanto continuava com a outra, a que nos cortou, no céu. Notei que, às vezes, empolgado com a guerra colorida no ar, afastava-se muito dessa pipa, que era dele. Pulei, então, do muro, esgueirei-me como um felino, pus a mão nessa pipa e disparei de volta para casa com ela.
-E ele?
-Ele ficou com a mesma cara que eu e meu irmão ficamos quando nos tirou a alegria de soltar pipa.
E completei:
-Como eu me orgulho desse roubo!
-Rua Modigliani. - avisou, enquanto parava o carro.

-Há um bom tempo que não pego seu táxi, - disse antes de sentar no banco do carona do carro do Gaguinho.
-É mesmo.
 -Logo hoje, que saí mais cedo do trabalho.
-Mas eu tenho estado aqui às quatro, cinco horas da tarde.
-Eu sei; tenho visto o nº 009 do seu carro, mas sempre há uns táxis na frente do seu quando eu apareço.
-Hoje foi dia de você voltar mais cedo?
-Saí às onze e meia para almoçar e a Avenida Rio Branco estava fechada. Retornei ao serviço uma hora e a Avenida permanecia sem trânsito, a não ser aqueles veículos que apenas a cortam, como na rua Buenos Aires, Assembleia, Nilo Peçanha... Por volta das duas horas, eu estava diante do computador, digitando um parecer, quando entrou uma funcionária informando que corria o boato de fechamento do metrô. Não pensei duas vezes, peguei minha mochila e vim embora.
-Se fecharem, vai ser uma loucura completa. - aparteou.
Veio-me à mente o calvário dos peregrinos, que pretendiam ir a Copacabana, com o metrô parado durante duas horas, na visita do Papa.
Mas mudei de assunto.
-E o seu filho com o handebol?
-Vai muito bem; ele estuda e treina muito, por isso, vai às seis horas da manhã para o colégio, em Realengo e volta para casa de noite.
-Nos gloriosos tempos do Visconde de Cairu, anos 60, o time de basquete era sensacional, eu soube depois que era, praticamente, a equipe do clube Mackenzie, que disputava campeonato carioca. Nós nos recusávamos a voltar para as salas de aula, depois do recreio, se o Cairu estivesse no ginásio jogando.
-As escolas daqui deveriam fazer como nos Estados Unidos.
-Lá, os colégios, mormente as universidades são os maiores celeiros de atletas. - concordei.
-Você vê os grandes jogadores de basquete de lá. - assinalou.
-Sim; eles disputavam olimpíadas com universitários e ganhavam tudo, praticamente.
E concluí:
-Mas perderam para o Brasil no Pan Americano...
Como eu titubeei em precisar o ano, ele interveio mesmo gaguejando:
-Mil novecentos e oitenta e sete.
-Foi uma das maiores vitórias da história do basquete brasileiro. - afirmei.
-A maior, pois o basquete masculino dos Estados Unidos nunca tinha perdido em casa.
-Esse Pan Americano foi onde?
-Em Indianápolis.
Quando chegou à última sílaba do nome da cidade, já estávamos na Rua Modigliani, onde saltei.

Por coincidência, no dia subsequente, peguei o táxi do Gaguinho.
-Depois de tanto tempo, agora será um dia depois do outro. - brinquei.
-Você, hoje, veio na hora habitual. - notou.
-Ontem, foram duzentos que pararam a cidade. Um absurdo. - esbravejei.
-Se a PM desce o cacete, reclamam. - disse.
Mas a conversa sobre o Pan Americano de 1987 ficou inacabada e tratei de reatá-la, pois concluí que ele era adepto dos jogos de basquete.
-Naquele Pan Americano de 1987, o Oscar fez um monte de cestas.
-Quarenta e cinco pontos. A maioria cesta de três pontos. Essa regra começara há pouco tempo e o Brasil se aproveitou dela.
-Eu me recordo que estávamos bem atrás no placar.
-O primeiro tempo terminou com os americanos vinte e dois pontos na frente.
Marcel jogava? - perguntei.
-E muito. Jogaram ele, o Israel, o Gérson.
-O Magic Johnson não estava nesse time?
-Estava o David Robinson.
E completou:
-Depois dessa derrota, os Estados Unidos passaram a colocar os profissionais para disputar as olimpíadas. - disse.
-Eu me recordo do Larry Bird. Eu ficava impressionado com a categoria dele. - manifestei-me.
-Era um craque.
-Também me lembro do Moses Malone, do Kareen Abdul Jabar.
Os nomes desses jogadores, que citei, animou-o a falar de outros.
-Tinha um que era o melhor de todos. Eu sempre torcia contra ele, mas não adiantava.
-Era como torcer contra o Pelé nas partidas de futebol?
-Isso. - concordou com a comparação.
-Como era o nome dele? - torturou-se com o esquecimento.
-Eu sei quem é, logo o nome dele vem às nossas cabeças. - falei, embora estivéssemos a menos de trinta metros da minha casa.
-Michael Jordan.
Foi o único nome americano que pronunciou, nessa corrida, sem gaguejar.







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