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terça-feira, 20 de agosto de 2013

2448 - melhor evitar



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4248                               Data:  10 de  agosto de 2013
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SABADOIDO NUM DIA DE PRAIA

-Claudio, a mamãe tem 87 anos de idade e você, depois de lhe dar “Cova Rasa” para assistir, dá “Um Estranho no Ninho!...”
-Carlinhos, são dois filmões.
-Mas ela reclamou com os malucos e malvados, malvada, no caso, aquela enfermeira, que apareceram. A mãe tem de ver coisas que a animem.
-Essa enfermeira-chefe de “Um Estranho no Ninho” é considerada a personagem mais cruel da história do cinema. - disse com a ênfase de quem se justificava.
-Creio que foi o John Rockfeller, o fundador da Standard Oil, o homem mais rico que o mundo conheceu, que, na idade da mãe, ou um pouco mais velho, mandou editar um jornal para uso exclusivo apenas com notícias boas. - lembrei.
-Já li sobre isso, mas não tenho certeza que foi o  John Rockfeller. - manifestou-se.
-Há um jornal britânico, não me recordo o nome, cujo lema, colocado num cartaz à porta da redação é “Bad News, Good News”, más notícias, boas notícias, porque são as notícias ruins que vendem jornais. Mas quando a pessoa está fragilizada pela idade, até o Rockfeller esteve, apesar dos 600 bilhões de dólares dele, quer ver e ouvir coisas alegres.
-Bem, eu dei para ela o DVD com o filme “Como Era Verde o Meu Vale”. Ela não vai poder reclamar. - disse em tom enfático. (*)
-Recebi anteontem, do Mercado Livre, “O Homem Mosca”, do Harold Lloyd que, apesar de filmado em 1923, está em excelente estado.
-Creio que passou na TV Globo, uma vez só, lá pela década de 70. - interrompeu-me.
-As gags são excelentes, aliás, ele se cercou da melhor equipe de piadistas da época, é o que dizem.
-É o filme em que ele escala um edifício e entra num relógio?... O Martin Scorsese faz uma menção a essa cena no “Hugo Cabret”.
-Harold Lloyd foi o precursor do Homem-Aranha, por isso não deveria se chamar “O Homem Mosca”, na verdade, o nome original é “Safety Last”.
-Ele faz aquilo tudo por causa da mulher que gostava. - aclarou-se mais a sua memória.
-Creio que as musas da tela não foram mais amadas do que no cinema mudo; é o Buster Keaton, em “A General”; o Harold Lloyd; em “O Homem Mosca”; e Charles Chaplin, em “Luzes da Cidade”.
-Talvez. - não mostrou a mesma certeza minha.
-Resumindo: entreguei o “Homem Mosca” para a mãe assistir e só ouvia as gargalhadas dela do meu quarto.
-Está bem, Carlinhos, na próxima vez, eu vou levar para ela os DVDs do  “Sexta-Feira, 13 Parte I, II... até a Parte XC.
-Falando sério, Claudio, “Sexta-Feira 13”  tem quantas partes até hoje?...
-Sei lá, “Sexta-Feira 13” tem mais partes do que os cadáveres que são esquartejados no filme.
-Carlão, como vai você? - entrou o Daniel na cozinha com a sua habitual alegria.
-E a Casa da Moeda, como vai? - devolvi.
-Ótima; você sabia que nós não trabalhamos no Dia de Santa Ana, porque é a padroeira da Casa da Moeda?... Até recebi uma camisa com a imagem da santa que vou dar à minha avó.
-Por que é a padroeira da Casa da Moeda?
-Vou ver, Carlão.
Ao dizer essas palavras, acionou o seu celular e me respondeu:
-A devoção à Santana vem de uma tradição de Portugal, onde os moedeiros de Lisboa administravam a Confraria de Sant' Ana da Fé. Assim, os moedeiros e oficiais da Casa da Moeda se colocaram sobre a proteção da santa.
-Mas a celebração foi em 26 de julho, já faz algum tempo, e o Daniel está atrasado. - interveio intempestivamente a Gina.
-Eu só não me atraso quando estou com o volante na mão. - reagiu o Daniel de maneira folgazã.
E prosseguiu:
-Carlão, com a visita do Papa, a Casa da Moeda confeccionou três medalhas: uma de bronze, 45 reais; outra de prata, 1600 reais; e uma de ouro, 16 mil reais. Vai querer alguma?
 -Gina riu com a pergunta e, depois, um pouco mais séria, acrescentou:
-As medalhas são vendidas dentro de um escrínio. Uma beleza.
-Vendem uma medalha do Papa Francisco por 16 mil?!... Logo ele que é refratário ao luxo! - verbalizei meu espanto.
-Ora, Carlinhos, Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo, e a figura deles é a mais comercializada que existe. - argumentou a Gina com ironia.
-Carlão, agora não adianta; todas as medalhas comemorativas da viagem do Papa ao Rio foram vendidas. Esqueci de lhe avisar antes.
-Falando em trabalho, no meu há um colega que é o sósia do Snowden.
-Aquele que entrou no avião do Evo Morales, Carlão?
-Entrou nada, Daniel. - admoestou-o o Claudio.
-Mas a Dilma ficou irritada com os Estados Unidos. - retrucou o Daniel.
-Isso é para inglês ver.
-Velho, vamos atualizar essa frase: - isso é para americano ver.
-Daniel tem razão: o Hugo Chavez vivia criticando os Estados Unidos, mas fornecia aos americanos todo o petróleo que Os Estados Unidos queriam.
-Nesse caso, Carlão, a frase é diferente: isso é para venezuelano ver. - pilheriou meu sobrinho.
-Falando em Evo Morales, ele fez com o ministro da Defesa do Brasil o mesmo que fizeram com ele na Europa e a Dilma não falou  nada, pelo contrário, abafaram o caso aqui no Brasil.
-O que você quer, Carlinhos; estamos na América Latrina. - interveio a Gina.
-E pensar que, quando eu li “Brasil, um País do Futuro, do Stefan Zweig, eu tive esperanças. - pensei em voz alta.
-Stefan Zweig não foi aquele que se matou?
-Foi, Claudio, em Petrópolis, juntamente com a mulher. - respondi.
-Lembro-me agora, o Alberto Dines escreveu um livro sobre isso: “Morte no Paraíso”.
-Quando estagiei no Jornal do Brasil, em 1977, o Alberto Dines era reverenciado como gênio. Hoje, quando escuto na Rádio MEC “Observatório da Imprensa”, com aqueles comentários chapas brancas, ou seja, petistas, imagino o Roquette Pinto, que não queria política na emissora que doou ao governo, revolvendo-se no túmulo. - manifestei-me.
-Franklin Martins, o sequestrador de embaixadores,  deve ter tomado conta do programa. - suspeitou meu irmão.
 -Daqui a pouco o Vagner telefona. - previu a Gina, enquanto colocava uma panela na trempe do fogão.
-E o Luca, será que vem? - perguntei.
-Por que?
-Porque a filha dele postou no Facebook que iria hoje à praia.
-A Carolina puxou a mãe, que adora uma praia como eu adorava nos bons tempos. - comentou a Gina.
-Mas é bem capaz de ele levar a filha ao Leblon e ficar sem tempo para vir ao Sabadoido.
-Ele virá. - assegurou meu sobrinho, que vive os bons tempos e, por isso, deveria estar, naquela hora, desfrutando uma boa praia.

(*) Vai reclamar sim. Há uma leva de Fordianos que é chegada à pieguice e não serve para animar mãe de ninguém. Este Vale e as vinhas da ira é melhor evitar.






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