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terça-feira, 23 de agosto de 2011

1995 - Marmelada e Goiabada

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O BISCOITO MOLHADO

Edição nº 3825 Data: 8 de agosto de 2011

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MEIA-NOITE EM PARIS E MEIO-DIA NO SABADOIDO

Daniel foi trabalhar no primeiro Sabadoido deste mês de agosto, o que não impediu que trocássemos palavras sobre a perseguição infligida ao jogador Fred, por torcedores “moralistas” do Fluminense, porque bebia de madrugada.

Explico-me: eu estava no computador, quando surgiu, na janela de bate-papo do provedor, a mensagem “Daniel está disponível”. Assim, eu, no seu computador, e ele, no computador dos Correios, iniciamos a nossa conversa.

Mas o sabadoido não é virtual e meu sobrinho tinha de arregaçar as mangas. Despedimo-nos, então e me encaminhei para o local das reuniões.

- Leia. - entregou-me o Luca, depois das saudações habituais, um artigo de Carlos Heitor Cony, de cerca de quatrocentas palavras,

Logo no primeiro parágrafo, o cronista expressava sua disposição de não assistir a “Meia-Noite em Paris”, porque o Woody Allen se repete.

Então, protestei:

- O Woody Allen fez quarenta e três filmes, por isso não há como não se repetir.

Por coincidência, algumas horas depois, eu reveria um diálogo entre Nélson Rodrigues e Otto Lara Resende, em que o escritor mineiro citava Napoleão Bonaparte: “- A única figura de retórica é a repetição”.

Prosseguindo na leitura, detive-me novamente, com um comentário:

- O Cony escreve que Marlon Brando, no papel de Marco Antônio, fez o discurso diante do cadáver de César com um relógio no pulso. Tenho o filme, vou reparar nisso.

- Ele, em seguida, diz que refizeram a filmagem da cena, sem o tal relógio no pulso. - informou-me o Luca.

Devolvi o texto ao Luca, depois de ler um único elogio do escritor ao cineasta: o bom gosto na escolha de músicas, para trilhas sonoras, em seus filmes - embora estremecesse com a ideia de ver Gertrude Stein, nas telas, falando, com “La vie en rose”, ao fundo.

Luca passou logo para outro assunto: a morte de Ítalo Rossi.

- Rapaz, logo ao lado da declaração do Walmor Chagas, no Globo, esculhambando os últimos trabalhos do Ítalo Rossi, estava a do Miguel Falabella. Que situação!

- O que foi que o Walmor Chagas disse? - quis saber o Vagner.

- Vou tentar reproduzir... Ele disse que o Ítalo Rossi era um ator perfeito...

- O melhor do Brasil.- interrompi.

- Carlinhos, eu quero reproduzir exatamente as palavras dele.

E foi em frente:

- Um ator que só se considerou digno desse nome quando fez “A Casa de Chá do Luar de Agosto”...

Menos titubeante, arrematou:

- Eu só não gostava dessas comédias menores que ele vinha fazendo.

- E que comédias são essas? - indagou o Vagner.

- Justamente as do Miguel Falabella, cujo depoimento sobre Ítalo Rossi está bem ao lado dessas declarações do Walmor.

- O Sérgio Britto declarou que Ítalo Rossi foi, indiscutivelmente, o maior ator do Brasil.

Cláudio, nesse momento, se levantou para trazer os copos com as bebidas, aquelas mesmas, que o Fred não poderá beber se os patrulheiros do Fluminense estiverem nas proximidades.

- Ítalo Rossi é o maior ator do Brasil e Fernanda Montenegro, a maior atriz. - frisou o Luca.

- Eu não sabia da amizade existente entre ele e a Bárbara Heliodora. Falavam-se ao telefone diariamente. - manifestei-me.

- Ele tinha um vozeirão!... Recebi a notícia de sua morte pela Carolina. Ela me avisou que morrera o “Abóbora”. Levei minha filha, quando pequena, ao teatro infantil e o Ítalo Rossi emprestava a voz a uma abóbora. Carolina nunca esqueceu... (nota da redação: seria outro, o legume ou a verdura? Na dúvida, vai Abóbora).

Diante dessas palavras do Luca, a índole polemista de meu irmão aflorou:

- Morre-se e pronto: vira-se o máximo. Não se falava aqui em Ítalo Rossi, e agora, que ele morreu, é o maior ator do Brasil.

Tranquilo, Luca rebateu:

- Eu já falei no Ítalo Rossi aqui, sim, Claudiomiro. Todos estão reconhecendo o grande ator que ele foi.

- Mas ser o maior do Brasil?!...

- O Paulo Autran morreu, muitos elogios foram dedicados a ele, mas ninguém disse que ele foi o maior do Brasil... - intervim.

- Eu sou um assíduo frequentador de teatro, tenho um caminhão de folhetos de peças teatrais e assisti muito às atuações do Ítalo Rossi...

- A ponto de considerá-lo o maior do Brasil?! - mantinha o Cláudio o tom polemista.

- Sim. - respondeu o Luca com serenidade.

Houve uma pausa e o Luca, então, se expressou sobre a cor do céu.

- Engraçado... Visto daqui, o céu é mais azul.

- Há mais montanhas naquele lado. - referiu-se o Cláudio ao lado em que os imóveis nos permitiam contemplar o céu.

Olhei para o relógio para ver quantos minutos faltavam para o meio-dia, embora não tivesse compromisso algum.

- Um ator que eu achava ótimo era o Paulo Gracindo. - enfatizou meu irmão.

-Paulo Gracindo já tinha feito aqueles sucessos nas novelas da Rádio Nacional.

- Representou, no rádio, o Albertinho Limonta, em “O Direito de Nascer”, durante os anos cinquenta. - acrescentei.

- As grandes vozes das novelas de rádio eram... - começou o Luca a lembrar.

- Rodolfo Mayer...

- Era um excelente diabo, em “A vida de Cristo”. - interrompi.

- Sim, ele...

- Também era o Inspetor Marques, do Teatro de Mistério. Atuando em “As mãos de Eurídice”, em um teatro de Buenos Aires, debateu com Pitigrilli, quando perguntou o que era a psicanálise à plateia. - interrompi de novo.

- Mas a voz mais bonita das radionovelas foi a de Roberto Faissal.

- O Jesus Cristo de “A vida de Cristo”. - era eu, de novo.

- Ele tinha aquela beleza toda na voz, mas era careca, feio...

Interrompi o Luca novamente:

- O Woody Allen mostra bem essa decepção dos rádio-ouvintes no filme “A Era do Rádio.”

Meu irmão voltou a lembra do Paulo Gracindo e o assunto, então, convergiu para a novela televisiva “O Bem Amado”.

- Trabalhava aquele altão. - interveio o Vagner,

- O Bem Amado teve o Jovelino Sabonete, mas o Felipe Carone era baixinho...

- O Cumercindo (Vagner) se refere àquele ator alto da novela, Claudiomiro.

- O Milton Moraes!... - lembrou o Cláudio.

- Isso! - satisfez-se o Vagner.

Depois, chegou a vez de a memória do Luca emperrar com o nome de um ator louro.

- Ele fazia cinema?...- tentou o Cláudio uma técnica mnemônica.

- Fez alguns filmes, mas não sou muito de cinema... Parece que trabalhou em “Boca de Ouro”, de Nélson Rodrigues.

- ”Boca de Ouro” teve Jece Valadão...

- Não, Claudiomiro.

- Eu só consigo me lembrar da versão em que atuaram Tarcísio Meira, Luma de Oliveira... - disse eu, voltado para o Cláudio.

- Ele era famosíssimo, astro das novelas da Globo...

- A Gina não lembra?- sugeriu o Vagner.

- A Gina está no quarto, recuperando-se de uma queda na Rua Chaves Pinheiro, quando machucou o braço. - informou meu irmão.

Depois de uma pausa de consternação, meu irmão se levantou da cadeira para ir até ela. Nesse ínterim, o rosto do Luca se iluminou.

- Lembre do nome do ator! É Jardel Filho!

- Se você citasse o filme “Terra em Transe”... - falei para o Luca.

As recordações prosseguiram, até que chamei de Marmelada o cavalo do Moleque Saci que, na pia batismal, tinha recebido o nome de Goiabada.

Um comentário:

  1. este comentário é para entusiasmar o Sergio Fortes a participar do blog. Caramba, é muito fácil, é só rolar os textos até acabar. Aí aparece em vermelho;
    0 comentário, ou 1 comentário. Isso está vivo, é só clicar com o cursor na letra vermelha que aparece uma tela POSTAR UM COMENTÁRIO.
    Sergio, um abraço, não desanime, yes, you can!

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