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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

1994 - histórias dos famosos

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3824 Data: 07 de agosto de 2011

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CONVERSAS QUE ANTECEDEM O SABADOIDO

- E, então, Daniel, como vão os frequentadores da agência dos Correios, da Avenida Nossa Senhora de Copacabana?

- Bob Nélson morreu. Ele cantava “Tira o Leite”, em falsete. Era o cartão de visitas dele. Todos então sabiam, na agência, que ele havia chegado. Depois, Carlão, eu soube que ele cantou isso até para o Presidente dos Estados Unidos, o Harry Truman.

- E aquele senhor de oitenta anos, que se tornou seu amigo, Daniel?... Disse que lhe daria o livro de memórias. Li depois, na internet, trechos que ele colocou lá, sobre sua vida de playboy, e porque não se casou: deixaria infeliz uma mulher com o pouco apego que tinha pela vida doméstica, pois era de sumir durante dias para namorar e também pescar.

- Carlão, ele sumiu da agência de Copacabana também. Espero que não tenha morrido.

- Se você conversasse durante uma hora por dia com os velhinhos de Copacabana, já teria matéria, em menos de um mês, para escrever um livro de quinhentas páginas.

- E por que eu iria escrever a história deles?!... Que cada um escreva a sua, Carlão.

- Já imaginou se Jean Valjean ficasse encarregado de redigir sua história, o inspetor Javert, a dele, Cosette, a dela, e assim sucessivamente? Não teríamos “Os Miseráveis”.

- Está dizendo, Carlão, que a população de Copacabana é formada por miseráveis?!... - brincou.

- E as suecas?... Têm aparecido suecas lá, na sua agência?

- Carlão, nós estamos no inverno e a Suécia, no verão.

- Não atentei para isso - é verão no hemisfério norte. Nesta semana, mesmo, morreram de calor dezenas de idosos, nos Estados Unidos.

- Eles se preparam para o frio e se esquecem de se preparar para as altas temperaturas.

- A cena que aparece na mídia, Daniel, quando um locutor informa sobre o sol inclemente nos Estados Unidos, é de um hidrante aberto e o pessoal se banhando naquele jato d' água.

- Eu já vi em filme, Carlão.

- Você já assistiu ao “Faça a Coisa Certa”? O enredo se desenvolve quando Nova York estava uma fornalha.

- Como alguém pode fazer a coisa certa no calorão?

- É verdade. Os personagens da fita de Spike Lee ficaram ensandecidos com tanta quentura na cabeça.

- Não falei?!...

- Li uma reportagem anteontem sobre a Espanha e a crise econômica. Diminuíram o expediente para seis horas diárias, sem gerar emprego. Como estão no horário de verão, o sol se põe às dez horas da noite, e os que ainda têm emprego ficam até tarde na praia.

- Que beleza, Carlão! Isso é que é uma solução para a crise.

- Uma colega minha, germanófila, diria que os alemães trabalham pelos gregos e, agora, pelos espanhóis.

- Eu já lhe disse, Carlão, que os melhores turistas na minha agência são os alemães: falam inglês e vivem bem-humorados.

- Não há novidades, então, nos Correios da Avenida Nossa Senhora de Copacabana?

- Não.

Depois da sua resposta incisiva, mudou um pouco de assunto.

- Você não escreveu mais nenhum poema sobre seus colegas de trabalho, como aquele, do Bokassa?

- Eu manuscrevi muitos, estão perdidos em meus alfarrábios. Ontem, por coincidência, encontrei um deles, que cita, de passagem, o Ibrahim Abi Ackel. Alguém pode pensar que Bokassa e Abi Ackel foram colegas meus de serviço...

- Esse Abi Ackel também comia gente, Carlão?...- brincou.

- Abi Ackel foi Ministro da Justiça do governo João Batista de Figueiredo. Ele era desafeto de José Sarney, Presidente do PDS, na época. Depois que este se bandeou para a candidatura de Tancredo Neves a presidente, foi deflagrada uma campanha de difamação contra o Abi Ackel.

- Que campanha foi essa? - expressou curiosidade.

- Noticiaram que ele era contrabandista de joias.

- E ele era?

- Nunca provaram, mas, como diziam raposas felpudas do PSD, fundado muito antes por Getúlio Vargas, o que importa não é o fato, e sim a versão. Transformaram a suspeita em verdade e o O Globo deu início a uma campanha de difamação.

- Foi?!...

- As piadas que eu lia na coluna do Zózimo, principalmente, eram engraçadas, não se pode negar. Uma delas: Abi Ackel, o ministro-joia.

- Essa piada é mais ou menos.

Citei, então, outra:

- Filme preferido do ministro Abi Ackel: “Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa”.

- Essa já é boa.

- Inventaram muitas gracinhas que eu esqueci. O Globo, como eu disse, publicou várias delas.

- Era o final da ditadura militar e a volta da democracia. - disse ele.

- Nem antes de 1964, o brasileiro sabia direito o que era viver democraticamente.

- Outros foram difamados?

- Sim, Daniel. Eis um caso: o Daniel Filho mantinha um romance com a atriz Bete Faria, quando esta, contracenando com o ator Mário Gomes, em uma novela, enamorou-se dele. Plantaram, então, a notícia de que Mário Gomes tinha dado entrada em um hospital com uma cenoura no ânus.

- Plantaram em que jornal?... No Globo?

- O Globo tinha de manter certo padrão. Essa notícia era para sair, em primeira mão, em jornais popularescos e foi publicada, então, na Luta Democrática.

- Isso foi na época do Abi Ackel?

- Uns poucos anos antes. Mário Gomes passou a ser chamado de Pernalonga, Mário Coelho, as piadinhas foram inúmeras...

- Mas a carreira dele não acabou, pois ele fez algumas novelas depois.

- Sim, Daniel. A carreira política do Abi Ackel também prosseguiu, ele chegou a se eleger deputado federal. Wilson Simonal é que foi morto e enterrado pelos difamadores. Até hoje não apareceu uma única pessoa que tenha sido delatada por ele ao DOPS, por ideologia, mas a versão ficou acima dos fatos.

- E o poema sobre seu trabalho, em que você falou do Abi Ackel?

- Trata-se de um acróstico, com meu nome. Eu estava lotado na Seção de Estatística da DIVEST - Divisão de Estudos da Marinha Mercante. Também fiz piada com o ministro, porque o caso já estava prescrito, e os nomes dos colegas eu troquei, embora eles gostassem de ser lembrados em meus versos.

Com exceção da chefe histérica, eram todos boas pessoas.

Vamos lá, ao poema:

C arrego pedras nesta má DIVEST,

A quelas em que Abi Ackel não investe.

R elutante, porém honrando as calças,

L evo malas também, que não têm alças:

O Ribamar, o Manuel, o Oscar.

S ei: bom cabrito não deve berrar.

E xaurido, pois gritam ao redor,

D escubro a chefe cada vez pior:

U lula, estrila a voz esganiçada.

A i de nós, não podemos fazer nada!

R omperemos os tímpanos em breve.

D esejo, então, que Satanás me leve:

O inferno para mim terá até neve.

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