O BISCOITO MOLHADO
Edição 5326 FM
Data: 31 de agosto de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
CHARLES BAUDELAIRE, O POETA
Neste 31 de agosto completam-se 200 anos da morte de um dos
maiores poetas franceses e mundialmente aclamado por sua obra, famoso por seus
poemas e, sobretudo por sua vida tida como desregrada. Nasceu em Paris em 9 de
Abril de 1821. Morreu aos 46 anos de idade. Além de poeta, foi crítico de arte
e tradutor, considerado um dos precursores de movimentos estéticos como
Simbolismo e Modernismo. Sua obra poética influenciou profundamente as artes
plásticas do século XIX, notadamente
a mais conhecida, traduzida em vários idiomas e sempre estudada e
comentada: “As Flores do Mal”, uma coletânea de cem poemas, uma obra que causou
grande impacto em Paris. Seus exemplares foram apreendidos sob acusação, pela
Justiça francesa, de ultrajante à moral pública. Por isso, Baudelaire foi
condenado a pagar 300 francos (a editora, mais 100 francos). A censura foi
apenas sobre seis poemas, que foram substituídos por outros, os quais o próprio
autor considerou muito melhores do que os censurados.
Baudelaire era tido como boêmio, “dândi”, que se pode
traduzir como elegante, e, pelo estilo de vida desregrada que levava, “flaneur”, que o dicionário traduz como ser vadio. Isso fez
com que seu padrasto, um general do exército francês, a quem odiava (o pai
morrera quando ele tinha apenas seis anos de idade), preocupado com sua vida sem
controle, o mandasse ainda aos 19 anos, para a Índia, onde não chegou, ficando
na ilha de Redenção. O desembarque foi comunicado à família, em carta,
pelo comandante do navio. O poeta
já causara problemas à família, ao ter sido expulso do Liceu Louis-le-Grand, ao se negar a entregar um bilhete
que recebera de um colega.
Ao retornar a Paris, ao atingir a maioridade, recebe a
herança que lhe coubera, com a morte do pai. Com o dinheiro em mãos, passou a
viver entre drogas e bebidas, durante dois anos, em companhia da amante, a
jovem e bela mulata Jeanne Duval. Pouco tempo depois, apaixona-se por Apolonie
Sabatien. Sua mãe entra com ação na Justiça, acusando-o de irresponsável,
pedindo que sua fortuna passasse a ser controlada por um tabelião.
Baudelaire tentou ingressar na Academia Francesa, uns
dizendo que seria uma tentativa de se reabilitar perante a mãe e, desse modo
poder receber o dinheiro da herança, enquanto outros achavam que era
desejo de se reabilitar com o público, que tinha “maus olhos” para sua
obra, tendo em vista as críticas que recebia da burguesia.
Além de ser um
precursor de todos os grandes poetas simbolistas, a crítica via sua obra como expressão do sentimento que
revelava objetividade. Era um realista que detestava o entorpecimento da
reprodução do mundo em poemas e pinturas, e tinha ao mesmo tempo ojeriza pela
subjetividade exagerada. Foi um defensor dos costumes, denegria o progresso e
desprezava o povo.
Ao viajar para a Bélgica encontra Felicien Rops, que ilustra “As flores do Mal.”
Durante visita à Igreja de St. Loup, de
Nemur, Baudelaire perde a consciência, colapso que é acompanhado por
alterações cerebrais. Sofrendo de Sífilis, sem conhecer a fama e sem conseguir
reeditar “As flores do mal”, morre em Paris em 1867.
Além de uma vasta obra poética, Baudelaire ficou conhecido
por seus aforismos, como este:
“Existem em
todo homem, a todo momento, duas postulações simultâneas – uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a
Deus, ou espiritualidade, é um desejo de elevar-se; a Satanás, ou animalidade é
uma alegria de precipitar-se no abismo.”
Outro:
“Quem não sabe
povoar uma solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão.”
No poema “Hino à beleza”, eis o que diz o poeta:
“Vens tu do céu profundo ou sais do precipício,
Beleza? Teu olhar, divino, mas daninho,
Confusamente verte o bem e o malefício,
E pode-se com isso comparar-te ao vinho.”
Eis mais um de
seus poemas:
Remorso Póstumo
“Quando fores dormir, ó bela tenebrosa
Em fundo de uma cripta em mármore lavrada
Quando tiveres só por alcova e morada
O vazio abismal de carneira chuvosa;
Quando a pedra, a oprimir tua fronte medrosa
E teus flancos a arfar de exaustão encantada,
Mudar teu coração numa furna calada
Amarrando-te os pés na rota aventurosa,
A tumba, confidente do sonho infinito
(Pois toda a vida a tumba há de entender o poeta),
Pela noite imortal de que o sono é prescrito,
Te dirá: “De que serve, hetaira incompleta,
Não teres conhecido o que choram os mortos?
E os vermes te roerão assim como os remorsos.”
Eis trecho de um poema em prosa, também de “As flores do
mal”:
...”Esses tesouros, esses móveis, esse luxo, essa ordem,
esses perfumes, essas flores miraculosas, és tu. És tu, ainda, esses grandes
rios, esses canais tranquilos. Esses enormes navios que os singram carregados
de riquezas e de onde provêm os cantos monótonos das manobras, são estes meus pensamentos
que dormem ou rolam sobre teu seio. Tu os conduzes docemente em direção ao mar
que é infinito, a refletir as profundezas do céu e na limpidez de tua alma; e
quando, fatigado pelas vagas e saciados dos produtos do Oriente, eles retornam
ao ponto natal. São ainda meus
pensamentos enriquecidos que voltam do infinito para ti.”
Bom dia,
ResponderExcluirQuando li senti uma sensação que, hoje, reconheço como inquietude. Não reli, o que poderei fazer agora. Estava 'por demais' apaixonada por Sartre, Simone, Victor Hugo, Proust, Balzac. Ilusões Perdidas me fez aceitar que as ilusões já nascem perdidas.
Aqui no Brasil aguardava com ansiedade os romances de Jorge Amado. Era bem jovem então.
Bom dia,
ResponderExcluirOntem, reli meu comentário e nem eu mesma entendi. Leia-se: Quando li "As flores do mal". A sua crônica como sempre impecável. Não achei o meu exemplar. Reler os livros na maturidade é entendê-lo sob um novo conceito. Ontem não consegui mandar meu comentário e espero que este leve o meu pedido de desculpa. Bom domingo à toda família.
grato fm
ResponderExcluir