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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

3062 - FM nunca é tarde


           
O  BISCOITO  MOLHADO
Edição 5322 FM                           Data: 18 de agosto de 2017

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXIV

COISAS DO AMOR!

A notícia, pelo inusitado, ganhou o mundo, continua circulando na mídia, na Internet, por aí afora, tratando com destaque o casamento de uma senhorinha que acabara de completar 99, com um cavalheiro menos idoso  (94). Moram numa cidadezinha norte-americana, onde ela já foi prefeita, é ativista política, figura multimídia, deixou-se fotografar exibindo na coxa esquerda uma liga de borracha, colorida, das tais que as dançarinas de teatro burlesco exibiam e atiravam para os cavalheiros, na plateia, como um convite, que ficava só na aparência (coisa fantasiosa e ousada, dos começos do já ido século XX).

 Ora, sabeis, o casamento foi realizado com pompa e circunstância, dada a posição social dos noivos, ela democrata, naturalmente fazedora de críticas ao tresloucado Trump. Ele, remanescente da II Guerra Mundial, medalhado por ter escapado com vida, saudado como herói, Aleluia! Os outros heróis que chegaram mortos, ficaram nas lembranças dos pais e reverenciados pela nação agradecida. Não é desses que pretendemos falar, senão do noivo que, muito cauteloso, levou a noiva para sua casa, alojou-a comodamente no quarto de hóspede, ia saindo de mansinho, quando um psiu! quebrou o ar cilente da noite. Era a dama reclamando, com um “Para onde você vai, seu lugar é aqui, vamos cumprir o ritual, em todos os itens, nossa lua de mel vai começar agora e nem penso quando terminará.” Sem alternativa, o noivo não se fez de rogado. Afinal, sempre praticou esportes, principalmente corridas. Sua melhor façanha, porém, é o uso do machado (eu disse machado), que o faz com certo vigor, pois também se habituou a cortar lenha. Até aqui, tudo bem, foi o que resvalou para o noticiário, provavelmente numa tentativa de propagar que as brasas da lenha do noivo teriam tido as cinzas sopradas pelo vento e dar a ideia a outros idosos, já sendo levados pelas águas de março ou de setembro ou dezembro, não importa a época, que, com um ventinho  qualquer – nem precisa ser rajada de arrancar tetos nem árvore, os galhos ainda podem segurar as folhas, aguentar firme, que uns gemidos lascivos ainda poderão ser ouvidos.       

Pelo que imaginamos, porém dadas certas experiências da vida, o casamento da noiva quase centenária, deve ter ficado não mais que nas saudades, já que o machado, por falta de estar bastante afiado, não teria tido força para tirar pelos menos umas lasquinhas de uma sequóia. De minha parte, sem pretender ofender, acho que os dois, que se dizem apaixonados, deverão estar dormindo tranquilos, embalados por delirantes sonhos de eras passadas. Afinal, sonhar faz parte da vida, aviva as cinzas e os prazeres... o que já não é pouco. Acordados, devem não esquecer das receitas médicas, evitar tropeçar nos móveis e ter de sobreaviso as malfadadas fraldas geriátricas. Servem para evitar vexames em horas impróprias. Pelo oportuno do tempo, ir aos alfarrábios, cavoucar nos escritos seculares do filósofo Cícero, que disse: “O prazer sexual é típico dos jovens, felizmente a velhice perde esse  interesse.”   E, num alento aos idosos, afirmava que a velhice não afasta os homens da vida, pois há uma atividade muito própria dos velhos, que é envelhecer da melhor maneira possível, buscando conhecimentos e cuidando da saúde.

 Aliás, o noivo voltou a estudar, está tentando doutorado, no mínimo com anel e atestado Summa cum laude.  Aqui, convém uma advertência, não se deixar abalar pelos ensinamentos dos sexólogos, que vão direto ao ponto: “Sexo é necessário, faz bem à saúde, o que compreende bem-estar e satisfação garantida.” Portanto, é esquecer o passado, os juros no cartão de crédito, o temor de um AVC inesperado, evitar as gorduras excessivas, o colesterol elevado, a pressão nas alturas e ter cuidado para o fogo não queimar as entranhas, deixar o barco correr em águas tranquilas, pois enquanto há vida, há esperança!




9 comentários:

  1. Não identifiquei o autor, portanto me desculpem. (Todos os redatores. Creio que não tem redatoras).
    Homens idosos não temem muito o ridículo ostentando mulheres muito mais jovens como troféus de uma partida muito mal jogada ou nem ao menos disputada.
    Mulheres idosas perdem a juventude é claro, não a dignidade.
    Como árvores antigas, infrutíferas, reconhecem que o momento passou, dedicam-se às artes, ao crochê, à costura, à Igreja, à família principalmente.
    E não oneram o INSS (!!!) com rapazes jovens dependentes.
    Mais uma vez, desculpem... (Todos)
    Como Machado de Assis tão bem colocou em seus versos à Carolina:

    Querida, ao pé do leito derradeiro
    Em que descansas dessa longa vida,
    Aqui venho e virei, pobre querida,
    Trazer-te coração do companheiro.
    ..................................
    Trago-te flores, restos arrancados
    Da terra que nos viu passar unidos
    E ora mortos nos deixa e separados.

    Que eu, se tenho nos olhos malferidos
    Pensamentos de vida formulados
    São pensamentos idos e vividos.

    Senhor Redator o sr está certo, apostar na saúde e na vida é o melhor. Como registrou o poeta os tempos, os bons, já foram "idos e vividos.
    É, Machado sabia o que dizia...

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  2. Eu creio que nesses versos a marca do gênio está em:

    "E ora MORTOS, nos deixa e separados."

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  3. Desculpe Fernando.
    Texto lindo, divertido e eu ávida por leituras não vi as suas iniciais.
    Obrigada pelos bons momentos.

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  4. Leia-se: Desculpe, Fernando.
    e Trazer-te o coração do companheiro.


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  5. Ora, por quem sois! Obreigado pelo elogio. Vivo disso!!!!!FM

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  6. Eu quis dizer "obrigado". E, completando, mais duas ou três palavras:Os velhinhos também vivem, comem, dormem, e acumulam cinzas... Vivem do passado" fm

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  7. Fernando,
    Mês que vem eu completo 73 anos. Não sou bem uma velhinha. Não tenho empregada, gosto muito da minha independência, sou responsável por todos os meus pagamentos, compras, de três em três meses vou à minha cardiologista no Humaitá, o que transformo num grande passeio, aproveito para "ver as modas" e me divirto bastante em conversas com outras idosas. Chego na Ilha já anoitecendo. Puro prazer.
    Qual o mal em viver do passado? Compramos biografias para conhecer o passado de outros. É muito bom relembrar nossa infância, adolescência, enfim, nosso roteiro escrito pelo destino e modificado algumas vezes por nós. Aí quebramos a cara. Melhor não.
    Temi bastante pelos idosos e espero que eles encontrem um pouco de tempo e alguma felicidade.
    Gostei muito de conhecer seu lado bem humorado!

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  8. ORA, SA DONA, 73? ESTÁ NA FLOR DA IDADE. EU E MINHA VELHINHA JÁ PASSAMO DOS 90! E VAMOS LEVANDO...

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  9. Que bom. Espero chegar lá! Manter a lucidez até o fim é meu único projeto de vida. Parabéns ao casal!

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