O BISCOITO MOLHADO
Edição 5324 FM
Data: 24 de agosto de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
A HISTÓRIA DE UM SONETO
Eis uma história, de certo modo curiosa, de mais de cem anos, que
despertou especulações, debates populares, polêmicas, opiniões de intelectuais,
algo inusitado, que ultrapassou as fronteiras da França. Trata-se de um (único) poema que tornou seu autor
conhecido mundialmente, inspirou dezenas de traduções e até livros inteiramente
dedicados a desvendar o que seria um verdadeiro mistério, embora seu autor
tivesse nome e sobrenome: Alexis Félix Arvers, nascido em Paris a 23 de julho
de 1806.Viveu apenas 44 anos, foi poeta, dramaturgo, escrevente em tabelionato,
renunciou à carreira, de onde poderia ter tirado o sustento de sua vida, mesmo
de modesta renda, porém com mais segurança, para se dedicar ao incerto mundo
literário. Tornou-se conhecido graças a um soneto que mereceu destaque na época, ao ser usado como motivo de
peça teatral. Logo depois, como título de um álbum de Marie Mennessier-Nodier,
filha do escritor Charles Nodier. E isso causou grande polêmica, com
repercussão em todo o mundo literário, motivando imensa curiosidade sobre a
musa que teria inspirado o autor. Posteriormente, o soneto, já caminhando entre
alguns percalços pela estrada da fama, foi incluído no livro de poesias “Minhas
horas perdidas”, lançado em 1833.
Apesar de nem sempre a crítica estar em concordância com a
celebridade do autor, sua obra permaneceu muito tempo entre as preferências do
público, até mesmo mais de 100 anos depois. De acordo com pesquisa de opinião
lançada pelo rádio e TV na França, entre mais de quatro mil respostas de
preferência popular, o soneto obteve 1686.
Sua tradução ultrapassou, em muito, o interesse de poetas e
especialistas no assunto, em diversos idiomas – do inglês Longfellow ao
Esperanto, na Inglaterra e em outros países. No Brasil, mais de dez consagrados
poetas ocuparam-se do soneto, que, em traduções, mesmo em sátiras e tendo havido um livro
escrito contendo não só diversas traduções como análises sobre a obra, obteve
sucesso. Do mesmo modo em Portugal, quando, nos primeiros anos do século
passado, foram representadas diversas peças teatrais, embora nenhuma delas
tenha permanecido muito tempo em evidência. Após a morte do autor, foi
relançado, em 1900, seu livro “Minhas horas perdidas”, com o soneto e acrescido
de poemas inéditos.
“ SONNET D´ARVERS”
“Mon âme a son secret, ma vie a son mystère,
Un amour eternel en un moment conçu;
Le mal est sans espoir, aussi j’ai dû le taire,
Et celle qui l’a fait n’en a jamais rien su.
Hélas! j’aurai passé près d’elle inaperçu
Toujours à ses côtés et pourtant solitaire;
Et j’aurai jusqu’au bout fait mon temps sur la terre
N’osant rien demander, et n’ayant rien reçu.
Un amour eternel en un moment conçu;
Le mal est sans espoir, aussi j’ai dû le taire,
Et celle qui l’a fait n’en a jamais rien su.
Hélas! j’aurai passé près d’elle inaperçu
Toujours à ses côtés et pourtant solitaire;
Et j’aurai jusqu’au bout fait mon temps sur la terre
N’osant rien demander, et n’ayant rien reçu.
Pour elle, quoique Dieu l’ait faite douce et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d’amour élevé sous ses pas;
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d’amour élevé sous ses pas;
À l’austère devoir pieusement fidèle,
Elle dira, lisant ces vers tout remplis d’elle,
"Quelle est donc cette femme?" et ne comprendra pas".
Elle dira, lisant ces vers tout remplis d’elle,
"Quelle est donc cette femme?" et ne comprendra pas".
“O SONETO DE ARVERS”
“Tenho um mistério na alma e um segredo na vida:
Eterno amor que, num momento, apareceu.
Mal sem remédio, é dor que conservo escondida
E aquela que o inspirou nem sabe quem sou eu.
A seu lado serei sempre a sombra esquecida
De um pobre homem de quem ninguém se apercebeu.
E hei de esse amor levar ao fim da humana lida,
Certo de que dei tudo e ele nada me deu.
E ela que Deus formou terna, pura e distante,
Passa sem perceber o murmúrio constante
Do amor que, a acompanhar-lhe os passos, seguirá.
Fiel ao dever que a fez tão fria quanto bela,
Perguntará, lendo estes versos cheios dela:
"Que mulher será esta?" E não compreenderá.”
Eterno amor que, num momento, apareceu.
Mal sem remédio, é dor que conservo escondida
E aquela que o inspirou nem sabe quem sou eu.
A seu lado serei sempre a sombra esquecida
De um pobre homem de quem ninguém se apercebeu.
E hei de esse amor levar ao fim da humana lida,
Certo de que dei tudo e ele nada me deu.
E ela que Deus formou terna, pura e distante,
Passa sem perceber o murmúrio constante
Do amor que, a acompanhar-lhe os passos, seguirá.
Fiel ao dever que a fez tão fria quanto bela,
Perguntará, lendo estes versos cheios dela:
"Que mulher será esta?" E não compreenderá.”
Jesus, quando me encaminhou ao Biscoito, estava comigo no colo.
ResponderExcluirApenas sem palavras. O que é raro!
Lindíssima!!!
OBRIGADO FM
ResponderExcluirPara ser bem justa, uma retificação em meu comentário:
ResponderExcluirLindíssimas, visto que são duas, a crônica e a poesia.
merci. fm
ResponderExcluirIl n'y a pas de quoi. rs
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