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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

2737 - Tolerância Zero


           

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4987                                    Data: 18  de  novembro de 2014

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MULHERES NO RÁDIO MEMÓRIA

 

“Raridades. Curiosidades. Humor e Entrevistas. Programa jornalístico-musical que destaca acontecimentos históricos e músicas que marcaram época no Brasil e no mundo. Apresentação: Jonas Vieira e Sérgio Fortes.”

Há mais de um ano que escrevo resenhas do Rádio Memória e nunca registrei a abertura do programa, aqui vai ela.

-Sérgio, que dia é hoje?

Foi o sinal verde para o Homem-Calendário entrar em ação.

-16 de novembro. Acredita, Jonas, que não aconteceu nada de importante no dia 16 de novembro?

-Não?!...

-Dizer que um rei em mil e alguma coisa fez isso ou aquilo, não é da nossa enfermaria.

O leitor, que voltou as vistas para a síntese do programa, acima, deve ter se perguntado: Nenhum acontecimento histórico?...

-Do nosso interesse, nada. - ratificou o Sérgio Fortes.

E adicionou:

-Mas nasceu gente importante.

-Vamos lá, Sérgio.

-Em 1892, nasceu Tazio Nuvolari, importantíssimo piloto dos anos 30. Já é da minha enfermaria. - insistiu na metáfora médico-hospitalar.

Jonas Vieira desdenhou:

-Não conheço.

-Este você conhece, Jonas: nasceu em 1884, o Marechal Henrique Teixeira Lott. Ele foi importante.

Embora o Marechal Lott tivesse dado um contragolpe, ou seja, evitado que um golpe impedisse a posse do presidente eleito Juscelino Kubitscheck, Jonas Vieira não se deu por satisfeito:

-Foi mais ou menos importante.

A reação do titular do programa me lembrou do Coronel, que assim era chamado porque entrou para a reserva, no Exército, com essa patente. Num dia do ano 1982, na corretora Caravello, sabendo que ele era udenista, lhe perguntei o que achava do Marechal  Lott. A sua resposta foi mais ou menos igual a do Jonas Vieira.

-Voltando para a música – impostou a voz o Homem-Calendário -, em 1885, nascia Paul Hindemith.

-Esse sim. - aprovou o Jonas Vieira.

-Em 1920, José Lewgoy; morreria em 2003.

Os dois não se detiveram no grande ator, mas se lá estivesse o Simon Khoury, certamente contaria alguns causos com ele. O canal de televisão Arte 1 repete, pelo menos quinzenalmente, a cinebiografia sobre ele dirigida por Claudio Kahns. Nela, através de depoimentos, ficamos sabendo da robusta erudição do José Lewgoy, para alguns o mais culto deles todos, conhecedor, até,  das obras de Béla Bartók e de outros mestres da música.

Quanto a nós, do Biscoito Molhado, o vimos, nos anos 80, num cinema da Tijuca, de bengala, na primeira fila, quando se acenderam as luzes. Tratava-se de um filme japonês com legendas, mas era como se não tivesse, pois não entendemos nada. Mas sigamos com o calendário.

-Em 1922, José Saramago.

Houve, na Roquette Pinto, uma unanimidade sobre o escritor. Para que ninguém cite a frase do Nélson Rodrigues sobre a burrice da unanimidade, registraremos, aqui, a opinião da Rosa Grieco sobre José Saramago: “Um chato de tamancos.”

-Falecimentos. - soou alegre a voz do Sérgio Fortes como se ouvisse uma piada de necrotério.

-Em 1934, morria Alice Liddell, a menina que inspirou “Alice no País das Maravilhas”.

-Não se fala em outra coisa no mundo. - interveio o Jonas Vieira com um  humor cortante.

-Em 1960, Clark Gable.

-Importante. - assinalou o Jonas.

-Boa pinta. - acrescentou o Sérgio.

Cabe um parêntese no meio de tantos elogios ao sedutor protagonista de “E o Vento Levou”. Quando Clark Gable apareceu pela primeira vez no mundo do cinema, um dos magnatas da indústria cinematográfica notou logo a sua semelhança com Dumbo e lhe disse para procurar outra profissão. “Com essas orelhas, esqueça”. Isto registraram seus biógrafos. Estava inteiramente enganado. Não é só dos carecas que as mulheres gostam mais, dos orelhudos também.

Das telas para as quadras de samba.

-Em 1978, falecia Candeia.

-Esse foi genial. - animou-se o Jonas Vieira.

-Em 1983, Janete Clair.

Janete Clair, o paradigma de todos os novelistas, era apaixonada pelas criações de Debussy, e demonstrou essa paixão colhendo o “Clair” de “Clair de Lune” para o seu pseudônimo. A sua última novela na Rádio Nacional, depois ela se destacaria na TV Globo, tinha como música-tema a valsa de Debussy “La Plus que Lente”.

O primeiro capítulo de “Pecado Capital”, novela de 1975, deixou o Artur da Távola, que escrevia sobre televisão no Globo, embasbacado; ele admitiu que nenhum outro autor de novelas conseguia colocar logo no capítulo inicial tantos acontecimentos dramáticos.

 Sigamos com o calendário do Sérgio Fortes.

-Em 2006, morria um cara que fica cada vez mais importante: Milton Friedman, economista ganhador do Prêmio Nobel de 1976.

Falar em Milton Friedman sem citar a sua frase “Não existe almoço grátis” é uma façanha, mas Sérgio Fortes resistiu a esse clichê. Passou para os santos do dia:

-Santo Elpídio.

-Quando olho para o céu, só penso em Santo Elpídio.

Ou seja, Jonas Vieira não tem olhado para o céu, pelo menos entre às 8 e 9 da manhã, de domingo, pois não pensa em Elpídio algum, nem mesmo no Elpídio Furquim, um jóquei que montava “Lo Schiavo”, o maior matungo que já apareceu no hipódromo da Gávea.

 -Dia da protetora do maestro Marku Ribas: Santa Gertrudes. - assinalou o Sérgio Fortes.

-Também, dia de São Rufino.

-No Vaticano, não se fala em outra coisa. - voltou o humor cortante do Jonas Vieira.

Sérgio Fortes não ficou atrás:

-É um dia que eu não suporto, é o Dia da Tolerância.

-Eu bem que tento, mas há certas pessoas que não me deixam ser tolerante.

Concordamos com o Jonas Vieira, por mais que procuramos ser tolerantes, são incontáveis o número de pessoas que frustram a nossa pretensão.

Que o dia 16 de novembro seja o dia da Tolerância Zero.  - fica a nossa sugestão.

Agora, o Sérgio Fortes se manifestava animadamente:

-Jonas, nós temos hoje uma convidada...

Se Simon Khoury lá estivesse, já teria dito o nome dela, pois não há segredo que dure mais de um segundo com ele, o exterminador de segredos.

-Vamos começar pela música. - propôs o titular do programa.

E reinou, então, soberana uma orquestra tocando o Corta-Jaca.

-Será a Chiquinha Gonzaga a convidada?!...

 

 

 

 

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