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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

2729 - polonês para principiantes


           

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4979                                 Data: 04 de  novembro de 2014

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ORLANDO SILVA E FRANK SINATRA NO RÁDIO MEMÓRIA

 

-Muitíssimo bom dia.

-Jonas, vamos começar pelo calendário?  Semana passada, cheguei atrasado; fui repreendido e ficamos sem calendário.

-Claro, Sérgio.

-Ele é curto, mas muito bom.

E seguiu adiante:

-2 de novembro, em 1830, Chopin deixa a sua cidade natal, Zelazowa Wola.

-Você fala polonês cada vez melhor. – embasbacou-se com a pronúncia caprichada do seu parceiro.

-O polonês é danado; são quatro consoantes para uma vogal. - observou o Sérgio. (*)

Fosse o Sérgio Fortes comentarista de política internacional em meados dos anos 70, seria capaz de pronunciar naturalmente o nome do Conselheiro de Segurança dos Estados Unidos, do governo do Jimmy Carter, que se chamava Zbigniew Brzekinski? Acreditamos que sim, que a língua do nosso amigo não ficaria com sequelas. (**)

-Sérgio fala russo, polonês e Javanês.

Jonas Vieira aludia, provavelmente, aos nomes com que ele se depara quando apresenta o programa da Orquestra Sinfônica Brasileira na Rádio MEC. No caso da língua javanesa, a citação era do conto do Lima Barreto; apesar de o homem que sabia javanês ser dado a patranhas, Sérgio não se abalou, nem havia razão para isso.

-Em casa, eu falo aramaico.

Como o nosso amigo é extremamente modesto, o oposto do Dieckmann, nós informamos aos nossos leitores que Mel Gibson só dirigiu o filme “A Paixão de Cristo”, com a fala em aramaico, que era a língua do Salvador, porque teve o Sérgio Fortes como autor dos diálogos e monólogos.

Depois dessas considerações, voltemos ao calendário.

-Chopin saiu da sua cidade natal, foi para Varsóvia e, de lá, rumou para Paris, onde construiu a sua excepcional carreira.

E passou para a primeira disputa automobilística nos Estados Unidos ocorrida em 2 de novembro de 1895.

-Como aficionado por carros, eu não podia deixar passar em branco.

Mas não se referiu ao ano de 1988, quando se deu a primeira propagação de vírus na Internet. Um deles foi batizado de “I Love You”, talvez o mais destruidor de todos, não só no terreno da cibernética, mas isso é outra história.

-Nascimentos. – impostou ainda mais a voz.

-Em 69 a.C, Cleópatra, a rainha do Egito.

-Grande Cleópatra! As Cleópatras do cinema foram belíssimas. – assanhou-se o Jonas Vieira.

-Na vida real, havia controvérsias. – demonstrou o Sérgio Fortes menos entusiasmo.

-Discordamos. César, que se dizia homem de todas as mulheres e mulher de todos os homens, fez um filho nela, Cesarion. Marco Antonio, que viajou ao Egito para impor a força de Roma, se aliou a ela na guerra civil contra Otávio; morreram os três: o casal mais Cesarion – Otávio não queria uma sombra ao seu poder, então ordenou que o filho de César fosse executado.

-Em 1734, nascia Daniel Boone, colonizador, explorador e aventureiro estadunidense.

Personagem de gibis e seriados de TV, povoou o imaginário infanto-juvenil do Sérgio Fortes, como o das demais pessoas da sua geração como nós, porém, a memória do Sérgio rateava:

-Jonas, Daniel Boone era aquele que tinha um chapéu ridículo com um rabo (de castor)?

Sim; hoje, ele seria preso por crime ambiental, mas quem respondeu foi o Peter com uma voz sumida a quilômetros do microfone.

-Era o Daniel Boone, mesmo, Peter?... Não era o Davy Crockett?

Na verdade, o caçador de ursos de mira infalível, usava o mesmo modelito do Daniel Boone.

Sérgio Fortes teve mais uma oportunidade de exibir a sua perícia na língua polonesa citando o nascimento, em 1754, do matemático e geômetra, além de geodeta, Yanacy Zabarowski, porém, a modéstia o levou a passar para outro nascimento no dia 2 de novembro. Zabarowski, como anotamos, também era geodeta? O que é geodeta?... Nem adianta perguntarmos ao Sérgio Fortes, pois a sua especialidade é o polonês.

-Em 1906, nascia Luchino Visconti, cineasta.

-Em 1913, Burt Lancaster.

Aqui, uma pausa nossa.  Apesar de cinema de bairro, o Cine Cachambi colocava, algumas vezes em cartaz, lançamentos, e eu acredito que isso aconteceu com o filme “Homem Até o Fim”, de 1955. Creio que foi um dos primeiros filmes a que assisti. Ficou marcada para sempre na minha memória a agonia porque passei ao ver o herói ser surrado de chicote pelo vilão, até que uma carroça saiu do lugar, prendeu a ponta da chibata e o Burt Lancaster surrou (que maravilha!) o bandido.

-Em 1917, nascia José Perácio.

E voltou-se para o seu colega:

-Jonas, quem foi Perácio?

Parecia que o Jonas Vieira escreveu também uma biografia do jogador.  A sua paixão pelo rubro-negro aflorou.

-Foi grande jogador do Flamengo, tinha um chute potentíssimo. Formou a famosa linha do Flamengo de 1944:  Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.

O tricolor Sérgio Fortes prosseguiu:

-Perácio nasceu em Nova Lima. Chegou ao Botafogo em 1937 e foi à Copa de 38. Em 1940, partiu para o Flamengo e lá ficou até 1949. Serviu na Força Expedicionária Brasileira.

Aqui um parêntese: alguém imagina os jogadores brasileiros da Copa do Mundo de 2014, que cantavam o hino nacional com arroubos patrióticos, alistando-se para ir à guerra?

Provocado pelo Sérgio Fortes, Jonas Vieira escalou todo o time de 1944, tricampeão carioca:

-Jurandir, Newton e Quirino, Biguá, Bria e Jaime, Valido, Zizinho, Perácio e Vevé.

O Homem-Calendário seria ainda mais provocador se citasse a decisão de 1944, contra o Vasco da Gama, quando Valido fez um gol, no final do jogo, até hoje contestado pelos nossos avôs vascaínos, pois teria empurrado Argemiro. A praga lusitana teve efeito, pois o time da Gávea ficou 8 anos sem vencer seu rival; é verdade que, a partir de 1945, se iniciava a hegemonia vascaína, com o Expresso da Vitória, que duraria até 1952, quando houve o que denominaram “O Crepúsculo dos Deuses”. Mas sigamos antes que pensem que este redator torce pelo Vasco.

-Falecimentos. - soou grave a voz do Homem-Calendário.

-Aí é geral. É uma redundância. – comentou o Jonas Vieira.

-Em 1950, morria Bernard Shaw.

Depois de 94 anos de vida, a morte, no seu dia, deve ter dito que, hoje, ele não escapava.

-Em 1995, o cineasta Pier Paolo Pasolini.

De novo, voltou-se para o Jonas, confessando que nunca assistira a um filme do Pasolini.

-Eu assisti; eram bons filmes. O Pasolini era hermético, para se entender tinha-se de pensar muito.

E prosseguiu o Jonas:

-Há gênios assim, uns você descobre rapidamente a sua arte, outros, você tem de refletir muito para chegar até eles.

Com a devida vênia do Jonas Vieira, nós, deste periódico, que assistimos a alguns filmes do Pasolini – época em que tínhamos veleidades de intelectual, consideramos que ele se enquadra naquela frase dos anos 60: “O diretor é um gênio, mas o filme é uma merda.”

O titular do Rádio Memória se revelou um rato de cinema, deixando de o ser quando saíram os musicais da tela e entraram a violência e o sexo.

Como o Sérgio Fortes anunciara, o calendário foi curto, mas muito bom.

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO conhece o economista Sergio Fortes e sabe que ele é pouco chegado à Aritmética simples, preferindo as equações laplacianas com mais incógnitas do que as consoantes da Polônia e República Checa somadas. Daí o equívoco do economista, pois, no exemplo citado, Zelazowa Wola (até pronuncia-se como se escreve: tcelatçovavola) há o mesmo número de vogais e consoantes, 6 e 6, pelo menos na escrita em polonês).

(**) Bem lembrado pelo redator. O Zbigniew é aquele que, no exame de motorista, quando o oculista pediu para ler as letras da última linha: V-Z-Y-S-K disse: Ler as letras??!! Eu conheço esse cara!

 

 

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