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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

2717 - Dia das Crianças 3 (final, ufa!)


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4967                                 Data: 17 de  outubro de 2014

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RÁDIO MEMÓRIA DAS CRIANÇAS AO ORLANDO SILVA

3ª PARTE

 

Levados pela crônica do Fernando Milfont, meditamos sobre a maçonaria. Jonas Vieira, logo em seguida, fez considerações sobre ela, e Sérgio Fortes também; disse que estudou no Colégio Santo Inácio por toda a vida (força  de expressão) e afirmou que os padres nutriam verdadeiro horror por essa sociedade fraterna, mas, para eles, satânica.

Jonas Vieira concluiu que era religioso, mas não tinha religião.

Não se falou que Mozart era maçom e que influenciou Haydn a entrar na maçonaria; que o gênio de Salzburg, além de compor uma Missa Fúnebre Maçônica, compôs a Flauta Mágica, considerada uma ópera da enredo maçônico. Não se falou porque o horário era curto e dedicado à música popular, particularmente ao grande cantor Orlando Silva.

Depois dos comentários que se seguiram à Pausa para Meditação, vieram as propagandas tanto dos programas da Rádio Roquette Pinto, quanto eleitorais.

Ufa!... Quando encontraremos um bálsamo para os ouvidos, a voz do Orlando Silva?

O mais ferrenho dos orlandistas, Jonas Vieira voltou, com o Sérgio; antes da música, porém, fez um instigante introito.

-Orlando Silva foi pioneiro em muitas coisas. Eu vou contar lá, no nosso show, no Cariocando, entre outros assuntos, que ele é um dos pioneiros do tropicalismo com a Carmen Miranda. Falar em Caetano Veloso… não é verdade! Nos anos 30, Lamartine Babo e outros compositores, Noel Rosa,entre eles, faziam tropicalismo da melhor qualidade. Orlando Silva, com a Carmen Miranda,  foi um dos seus propagadores.

E prosseguiu com a sua tese:

-Então, ele gravou, de Cristóvão Alencar e Frazão, uma marchinha que não é das mais conhecidas do seu repertório, mas é genial. A interpretação do Orlando é fora de série, ele tropicaliza tanto a música como a letra. A marchinha se chama “Pour Vous, Madame”.   O francesismo daquela época era acentuado, tudo era francês. Os dois fizeram uma espécie de gozação com isso.

Jonas Vieira citou um trecho da letra e foi em frente com seus comentários.

-Temos a popularização da palavra madame, pois, até então, a mulher brasileira era chamada de senhora.

Concordamos, aqui no Biscoito Molhado, esse tratamento se tornou muito popular com os sambistas, marcantemente lá, na Lapa de Madame Satã . José de Alencar, no século XIX, intitulou um dos seus romances “Senhora”, e não “Madame”, embora o Brasil, entre muitos países, fosse fortemente influenciado pela cultura francesa no século XIX.

Depois de ser tocada a gravação, Sérgio Fortes se encantou com a riqueza das rimas.

-Temos umas rimas aí de uma sagacidade… L’ argent com balangandã. Eles eram geniais, muito bons.

Jonas relembrou que o Frazão (se evitasse o nome completo do compositor, Eratóstenes Frazão, teria  razão, mas não o evitou) era tio do Osmar Frazão  da Rádio Nacional e de outros órgãos que lidavam com o público, como a TV Tupi.

Agora, Jonas Vieira se fixava na interpretação do Orlando Silva em “Pour Vous, Madame”.

-A maneira de o Orlando interpretar é única. Ele entoa diferentemente verso por verso. O fraseado muda, a entonação também. Eu fico impressionado porque essa marchinha não fez um grande sucesso. É de uma beleza extraordinária.

Sérgio Fortes procurou as razões de ela não ter alcançado o merecido êxito; a marchinha é brilhante, mas demanda percepção do ouvinte para as sacadas contidas nela por parte dos autores e do intérprete.

-“Não é très jolie, mas suficiente para me fazer feliz.” – evocaram mais um trecho da música que ouvimos.

Corroborando o que os apresentadores do Rádio Memória diziam sobre a popularização, no Brasil, de palavras francesas; lembramo-nos, agora, da “Jolie”, uma cadela pequinês neurastênica de uma vizinha. Havia também, nessa mesma rua, um “Chérie”, este vira-latas; como esta palavra não foi citada na letra, não vamos mais nos alongar nesse assunto canino. 

 Agora, Jonas Vieira passava para a próxima atração. Tratava-se de uma canção que (quem sabe?) foi inspirada no poema de Francisco Otaviano de Almeida Rosa, que viveu no século XIX, e merece ser transcrito;

“Quem passou pela vida em branca nuvem,

E em plácido repouso adormeceu;

Quem não sentiu o frio da desgraça,

Quem passou pela vida e não sofreu;

Foi espectro de homem, não foi homem,

Só passou pela vida, não viveu.”

 

-“Quem Pela Vida Passou”. - anunciou o titular do programa a próxima canção a ser ouvida, antes, porém, o Sérgio Fortes  se antecipou:

-O título já é brilhante; deixa tanta coisa subtendida; tem um cunho de mistério.

Estimulado, o maior dos orlandistas trauteou os primeiros versos.

Enfim, reinou soberana a voz do seu ídolo.

 -“Quem Pela Vida Passou”, de Frazão e Cristóvão de Alencar- disse tão logo soou a última nota musical.

Sérgio Fortes interveio para aludir à tetralogia sobre o CD do Simon Khoury, e que ele, graças a este periódico, se igualou a Richard Wagner.

A seriedade retornou com o decano dos radialistas brasileiros:

-Da fase tenorina do Orlando Silva, veio a transição para a fase abaritonada, que se deu nos anos 43,44 e 45.

E apresentou a gravação de “Carioca Boêmio”, de Heitor dos Prazeres.

Depois de algumas considerações sobre o jeito de ser carioca, que consta na letra, Sérgio Fortes atentou para o fato de Heitor dos Prazeres, além de grande compositor, ter se destacado como pintor.

-Eu tive a infelicidade de cobrir a morte dele no Hospital dos Servidores do Estado. Eu trabalhava no Diário da Noite nessa época.

Sérgio Fortes espantou a tristeza do seu parceiro referindo-se, de novo, à inserção música e pintura.

-Outro que é um desses casos de compositores que incursionaram pela pintura foi Gastão Formenti.

-Guilherme de Brito também. – listou o Jonas Vieira mais um.

E seguiu adiante:

-Muito bem. Dessa fase maravilhosa do Orlando, temos uma valsa antiga se compararem com os costumes de hoje, “Rococó”, de Sivan Castelo Neto.

Depois dos previsíveis elogios, vieram os comentários.

-Rococó era uma expressão que estava muito em voga.

-Exatamente. - concordou o Sérgio.

-O arranjo é de Lyrio Panicali e o piano, também.

E prosseguiu o Jonas Vieira:

-Então, aí está o meu projeto: “Orlando Silva, 100 anos, cantando cada vez melhor”. Não é meu, peguei do Carlos Gardel, que os argentinos dizem que está cantando cada vez melhor; ele e o Orlando Silva.

Agora, era para fechar o programa:

-Uma criação de Lauro Maia que, infelizmente, morreu muito cedo, de tuberculose. O Orlando Silva dizia que o Lauro Maia era o Noel Rosa cearense. Prestem atenção no que vão ouvir, “Febre de Amor”.

Tocada esta gravação de 1943, Jonas Vieira ainda se estendeu sobre o compositor que partiu com 38 anos de idade:

-Foi o Lauro Maia quem apresentou o Luiz Gonzaga ao seu primo, Humberto Teixeira.

Mas o tempo urgia; as nove badaladas do relógio estavam prestes a se impor.

-Até o Cariocando e um demorado abraço. - disseram os dois num uníssono bem ensaiado.

   

 

 

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