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terça-feira, 26 de agosto de 2014

2681 - Correios e Telégrafos



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4931                                       Data:  24  de  agosto de 2014
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A CAMPANHA ELEITORAL NO SABADOIDO

Sempre vítima das gozações do Daniel, resolvi ser seu “algoz”.
-Segui a sua instrução de devolver o DVD com a postagem de encomenda na agência do Shopping Nova América e eles me disseram que ali não se fazia isso, que me instruíram erradamente.
-Qual foi o maluco que disse isso? Aquela agência não é franqueada, eles têm de receber a devolução. - indignou-se.
-Brincadeira, Daniel; eles receberam e já foi para São Paulo.
-Ah, bom.
Por coincidência, ele festejava os dez anos da sua entrada nos Correios, mesmo trabalhando há algum tempo na Casa da Moeda.
-Entrei para lá em 2004, não é, Gininha? - voltou-se para a sua mãe, ao lado, no sofá de alvenaria da cozinha.
-Copacabana. - transbordou de orgulho ao citar o bairro da agência em que o filho entrou pela primeira vez no mercado de trabalho.
Cláudio, que se impusera, porque a mãe pretendia que ele fosse para uma agência mais próxima de casa, a tudo assistia sem reviver os arrufos do passado para não estragar a festa.
-Vou colocar as fotos que tenho do pessoal desde 2004 no Facebook.
-Os seus dez anos serão, assim, lembrados por todos. - manifestei-me.
-Daqui a pouco, farei isso, antes, vou dirigir.
No entanto, permaneceu sentado.
-Daniel, por que você não vai lá na pracinha?... Como é época de campanha eleitoral, colocaram, no chamado ringue de patinação, diversos aparelhos de ginástica.
-O que tem lá, Carlão?
-O Simulador de Caminhada, o Esqui em que você tem de puxar as alavancas para mover as pernas, o Remo, e outros de musculação e de equilíbrio.
-Fica lá um instrutor para orientar sobre o uso correto desses aparelhos? - dirigiu-se a mim o Claudio.
Antes de responder, notei o sorriso de descrença da Gina.
-Com esses aparelhos, colocaram um cartaz com os dizeres: “dê preferência às pessoas de terceira idade” entretanto, o que se vê mesmo lá são crianças que conseguem transformar aquilo tudo em brinquedo. O Simulador de Caminhada, por exemplo, virou balanço, pois elas colocam os traseiros em vez dos pés.
-Mas, Carlão, nem você se exercita lá?... Deixou ser transformado em playground?
-Claro que me exercito, mas ainda estou me entrosando com aquelas máquinas; não quero exagerar e, depois, sofrer com dores musculares.
Depois, voltei-me para a Gina:
-E o braço?... Tirou o restante do gesso?
-Arranquei por conta própria; deixei apenas enfaixado.
Ela se antecipou mostrando os movimentos das duas mãos.
-Eu não consigo realizar com a mão do pulso quebrado este movimento de quase 360 graus. -  dizia enquanto fazia comparações práticas com a mão não lesionada.
-E os dedos?
-Embora haja, ainda, algum inchaço, eu mexo normalmente. - acentuou o que dizia abrindo e fechando os dedos sem muita dificuldade.
-Creio que os dedos são os mais importantes, afinal, com o movimento de pinça, o uso de polegar opositor, o homem deslanchou intelectualmente em relação aos outros primatas. - comentei.
-Vou dirigir.
Dessa vez, o Daniel foi mais incisivo, pois se levantou e saiu da cozinha. Gina se retirou, também, mas não demoraria a retornar. Fiquei, então, com o Claudio, que já havia lido o jornal.
-Claudio, bem faz você que quer distância de computador. O Facebook, no dia do enterro do Eduardo Campos, estava insuportável.
-No domingo passado. - fez o adendo.
-Se a Marina Silva aparecia com a expressão sofrida, escreviam que ela queria tomar o papel da verdadeira viúva, se aparecesse sorrindo, diziam que ela não possui porte algum para presidir o Brasil.
-Não se pode mais sorrir num enterro? - indagou.
-Era paulada em cima dela da extrema direita e da extrema esquerda. Todos salivando ódio.
-Ela é a presa a ser abatida.
-Apesar de que a presa, mesmo, não tem de ser a Marina Silva.
-Mas é isso mesmo, Carlinhos: a extrema direita e esquerda pensam a mesma coisa.
-O Brasil é um país esquizofrênico: o PT abomina os ditadores militares, mas adora uma estatização. O General Geisel, por exemplo, criou cerca de 70 estatais no governo dele.
-E o Geisel agia como se fosse o dono da Petrobras. - lembrou.
-A Petrobras era um feudo do General Geisel, como, hoje, é do PT. A grande diferença é que, com ele, a empresa não foi pilhada por corruptos. - frisei.
Meu irmão aludiu de novo à campanha eleitoral:
-O Eduardo Campos, na verdade, se preparava para a eleição de 2018; quando seria, então, um candidato muito forte, por isso, não incomodava muito os adversários.
-Quem pegar a desarrumação deixada pela Dilma “Duchefe” vai precisar de uns dois anos, pelo menos, para consertar o Brasil. Quem se tornar presidente em 2018, terá, então, uma tarefa menos árdua.
-Se a Dilma for reeleita cai por terra tudo isto que você falou, Carlinhos.
-Voltando ao Facebook, Claudio; no enterro do Eduardo Campos, fizeramselfies com o esquife ao fundo.  Coisa de malucos.
-Esse negócio de selfies virou moda desde o enterro do Nelson Mandela com a participação do Barack Obama.
-Sim, Claudio, mas não havia caixão por perto e a morte do Mandala já era esperada há mais de um ano, não houve o impacto de uma tragédia.
-Eu ouvi no rádio um comentarista bradando contra os degenerados da Internet.
-Alguns deles estavam bem atuantes nesse domingo do enterro do Eduardo Campos. - assinalei.
-O Globo de hoje se refere a um mal entendido no Facebook com o Chico Buarque; ele recebeu elogios porque não ia votar na Dilma, e críticas porque votaria nela. Na verdade, ele ainda não declarou o seu voto.
-Claudio, o Millor Fernandes afirmou que o Chico Buarque faz da ideologia um investimento, por isso os dois brigaram com cusparada, voos de garrafa e outras baixarias.
E prossegui:
-Como um excelente investidor, além de compositor, ele aguarda o momento exato para agir. Lembra-se da campanha eleitoral de 2010?... O momento exato foi o centenário da sua mãe. Lá, ele se entendeu com o Lula e a Dilma. A irmã do Chico se tornou ministra; o pai dele, nome de petroleiro; a mãe se tornaria, mais tarde, nome de hospital, e o seu livro ganharia o Prêmio Jabuti.
-E ele fez a parte dele – interrompeu-me o Claudio, - discursou no Teatro Casa Grande, com a presença da classe artística, louvando a Dilma.
-E o Caetano Veloso, Carlinhos?
-Essa recente entrevista de página inteira no Caderno B do Globo deu munição para os seus críticos. Caetano usou um estilo “esfumaçado”, ou seja, no meio da sua verborragia, joga uma fumaça e o leitor não consegue ver o que ele quer, realmente, mostrar.
-Ele não quer mostrar nada, Carlinhos. - atalhou a Gina, de bom humor, juntando-se a nós de novo.

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