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quinta-feira, 17 de abril de 2014

2601 - Violão II



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4851                              Data: 15   de  abril de 2014
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UM VIOLÃO NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II

E a voz do Jonas Vieira voltou a ser ouvida:
-O nosso Nicolas de Souza Barros... Assim que ouvi o seu disco, vi que havia nele uma das minhas favoritas, “Confidências”.
Mas as “Confidências” ainda não se fizeram ouvir.
-Eu comecei com essas transcrições , mas tenho de dar um voto de reconhecimento para Paulo Aragão, que foi meu aluno.
-Você é professor?
-Sou professor da UNIRIO; mas Paulo Aragão estudou comigo por fora.
E prosseguiu no seu instigante depoimento:
-Eu procurava projetos, e Paulo Aragão me sugeriu Nazareth. Em 2004, ele me arrumou tudo que tinha fotocopiado de Nazareth, mais de 200 peças. Hoje, no site Moreira Salles, você baixa tudo, mas, naquela época era uma dificuldade.
-Sem mais delongas – disseram em uníssono os apresentadores – vamos escutar “Confidências” no violão de oito cordas de Nicolas de Souza Barros.
E cessou tudo que a antiga musa cantava porque outro valor mais alto se alevantava.
-Nicolas, você não tem vergonha de tocar tão bem? - brincou Jonas Vieira.
Quando perguntaram ao violonista se ele era carioca, respondeu que sim, embora o  seu sotaque – acrescentou - (que não percebemos) denotasse a sua vivência no estrangeiro por 20 anos, basicamente nos Estados Unidos e na Inglaterra.
-Por que você escolheu Nazareth? - indagou o Jonas Vieira incisivamente.
-Paulo Aragão me incentivou muito, e porque eu estava motivado em tocar o violão de oito cordas.
-Seis cordas não são suficientes? - interveio o Sérgio Fortes.
Com essa pergunta, o violonista se tornou  didático.
-O precursor direto do violão se chama guitarra romântica. É o momento da evolução que chega às seis cordas que conhecemos com a afinação central do violão. A guitarra romântica é magrinha e, principalmente na construção interna, é diferente. Já, em 1816, aparece, em Paris, o método do italiano Ferdinando Carulli  da guitarra romântica de 10 afinações, com 4 baixos a mais; esses 4 diapasões são conhecidos desde 1580, ou seja, os alaúdes todos trabalharam com esse princípio.
E foi em frente na sua aula que nós, do Biscoito Molhado, incapazes de arranhar um violão, tentaremos reproduzir com o menor número de erros possíveis.
-Agora, a corda aguda. A corda aguda surgiu no cenário mundial em 1994, quando o grande violonista Paul Galbraith, escocês, em parceria com o luthier inglês David Rubio, criaram o instrumento que chamaram de violão Brahms, porque a primeira peça que Galbraith transcreveu era de Brahms.
Antes de irmos em frente, um esclarecimento, pois Nicolas julgou que estivéssemos no mesmo nível dos seus alunos universitários: luthier é  o profissional especializado na construção e reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância.
Retornando aos seus ensinamentos:
-Essa corda aguda existe, em termos gerais, há 20 anos; e eu fui pegar o instrumento em 2004. Sou violonista há 40 anos, mas parece que agora (com o violão de oito cordas), eu estou na adolescência do violão de tão diferente que ele é. 
E acrescentou sem falsa modéstia:
-E eu sou conhecedor dos instrumentos precursores do violão clássico.
Todos queriam aprender, pois ele não foi interrompido.
-O princípio da corda aguda é que abre toda uma série de perspectiva de transcrição de arranjos de obra, principalmente as de teclado.
E enfatizou:
-É uma coisa muito nova.
As palavras cederam o lugar à música quando Nicolas de Souza Barros tocou a polca “Marieta”. Ele ilustrou essa faixa do seu CD dizendo que Ernesto Nazareth compôs polcas no século XIX, mas não o fez no século XX, que a sua primeira peça foi uma polca-lundu.
-Mais tarde, passaria a compor o que se chamava de tango.- esclareceu.
-Tango é o batuque. - disse o Jonas Vieira.
Mais tarde, no programa, eles se deteriam na diferenciação entre os tangos do Nazareth e dos hermanos.
-Este grande artista, que eu não conhecia, foi você Sérgio que me mostrou. - Jonas Vieira dava a César o que era de César naquele domingo de Ramos.
-Quero agradecer à Maíra da Rádio MEC que me indicou o Nicolas. -aproveitou o Sérgio Fortes para também fazer o seu reconhecimento.
E a Pausa para Meditação do Fernando Milfond prevaleceu, por alguns minutos, com o tema “Solidariedade”.
-Fale um pouquinho do violão de oito cordas. - pediu o Sérgio Fortes logo após o momento meditativo.
-Não há grande diferença entre os violões de oito e seis cordas fora a questão estrutural; mais uma corda para cima e uma para baixo.
-Mas o braço do violão é outro? - insistiu o Sérgio Fortes.
-O braço é um pouco mais amplo, mais largo.
-Quem fabricou isso?...
E prontamente ele respondeu a mais uma indagação do Sérgio Fortes.
-No caso, o grande e emblemático Sérgio Abreu. Eu, basicamente, sou um tocador, sou um “Abreuniano” faz trinta anos.
-Mais Nazareth com Nicolas: “Carioca”. - anunciou o Jonas Vieira, já íntimo do convidado.
Vibrada a última nota, Sérgio Fortes também vibrou:
-Sensacional!... Que disco!
Jonas Vieira foi mais pragmático:
-Como os interessados podem conseguir esse disco?
-No Arlequim ou pelo e-mail nicolassouzabarros@gmail.
Em seguida, Sérgio Fortes citou a coluna do Globo de sexta-feira do Arthur Dapieve em que ele, escrevendo sobre o Tristão e Isolda, de Wagner, dedicou os últimos parágrafos à excelência do Nicolas de Souza Barros no violão de oito  cordas com as músicas do Ernesto Nazareth na  sua apresentação na Sala Villa Lobos.
-E agora, meu querido Nicolas? - pediu mais música o Jonas Vieira, mas o violonista fez uma pequena introdução sobre a peça de Ernesto Nazareth que tocaria: “Improviso”.
-Há discussões sobre maxixe, choro, tango nas criações de Nazareth. Ele compôs tangos em 1890, quando não havia o tango portenho, o que havia era o tango afro-americano de Cuba, Argentina...
-Tango é palavra africana. - acentuou o Jonas Vieira.
-Vamos para o “Improviso”, obra que Ernesto Nazareth dedicou a Villa Lobos.- apressou-se o Doutor em Música da UNIRIO.
-Villa Lobos, Nazareth e Nicolas Souza Barros, três cobras. - afirmou o titular do programa.
-Estou aqui todo picado. - não deixou o Sérgio Fortes passar a oportunidade para uma piada.
-Mais um. - pediu o Jonas Vieira.
E veio mais um tango: “Famoso”.
Querendo ouvir notas musicais, e não palavras, Jonas Vieira anunciou outra música: “Odeon”.
-Eu li que as pessoas iam ao Cinema Odeon, não para assistir ao filme, e sim para ouvir Nazareth  no piano.
Depois do “Odeon”, uma das muitas criações de Ernesto Nazareth  que nunca nos satura por mais que a ouçamos,  Jonas Vieira fez uma sugestão ao grande violonista:
-Faça com o Custódio Mesquita o que fez com Nazareth. Seria de tirar o chapéu e também toda roupa.
-Todo mundo nu.
Calma, leitores: Sérgio não propôs o nudismo também fora das praias, ele apenas fez uma piada.
-Vamos fechar com “Fon-Fon”.
Depois de mais um deleite musical, vieram os agradecimentos mútuos e o costumeiro “demorado abraço” aos ouvintes.

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