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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

2534 - Um ano bom



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4334                         Data: 24 de dezembro  de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA NATALINO
PARTE II

Jonas Vieira, logo depois que a Rita deixou de ser tocada, desejou um Feliz Natal para o Biscoito Molhado, sendo, em seguida, acompanhado pelo seu parceiro e convidado. A redação, em festa, agradece penhoradamente e retribui sem esquecer o operador de áudio Peter e o locutor José Maurício, que já trabalhou sob a chefia do Humberto Reis e também participou, neste ano, de um programa sobre a história da Rádio Tamoio com o Dieckmann. Vale registrar que uma hora antes, José Maurício contou a sua própria história na radiofonia brasileira no programa Almanaque, quando soubemos da sua passagem pela Rádio Relógio. Você sabia?... Falta agora a história do Jonas Vieira, vamos aguardá-la.
-O Biscoito Molhado funciona como o nosso superego. - observou o doutor Fernando Borer freudianamente.
Então, o titular do Rádio Memória anunciou a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond sobre a festa de 25 de dezembro.
-Uma festa que, hoje em dia, é comercial. - comentou o Jonas Vieira logo em seguida.
E pensar que, há pouco mais de cem anos, Machado de Assis já perguntava se mudou ele ou o Natal. Seus versos merecem ser relembrados nessa época em que o comércio transformou o Papai Noel em protagonista e o menino Jesus em coadjuvante.
-”Um homem, - era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, -
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... a folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Mas estamos narrando o Rádio Memória, onde a poesia só entra se estiver acompanhada pela música, lá existe essa exigência que não houve na mitologia grega, pois Apolo era, ao mesmo tempo, deus da música e da poesia, além de deus de outras coisas, pois ele acumulava cargos. Assim, passemos para a próxima atração musical.
Como o que é bom não satura, Jonas Vieira insistiu no compositor e arranjador Oliver Nelson e na orquestra de Countie Basie. Agora, com a faixa do disco que juntou os dois artistas em “Kilimanjaro”.
Essa gravação foi muito tocada na Rádio Jornal do Brasil. - aludiu à refinada emissora do tempo da atuação do Simon Khoury.
A palavra voltou para o Fernando Borer que, dessa vez, não optou pela música popular brasileira.
“Stranger on the Shore.” - “Estranho na Praia” – peça para clarinete composta por Acker Bilk que a dedicou à sua filha Jenny. A gravação é de 1962, e vocês vão se lembrar.
Lembramos, até mesmo eu, que musicalmente falando, vivia mais colado na Rádio Ministério da Educação, tão logo soaram as primeiras notas do clarinete.
Acionado o Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado, ficamos sabendo que a criação de Acker Bilk e Robert Merlin se chamou, inicialmente, “Jenny”, depois, passou a ser o tema musical de um seriado televisivo da BBC, de Londres, intitulado “Stranger on the Shore.”, e, assim, a filha do compositor foi destituída. Esperamos que ela não tenha ficado traumatizada.
No Brasil, “Estranho na Praia”, no início da década de 60, obteve um grande êxito na voz de Roberto Audi e o disco deve ter sido muito tocado no “Peça Bis pelo Telefone”, da Rádio Mayrink Veiga, programa esse que me assombrava pelo número de telefonemas – superior aos de Nova York e Londres somados.
Voltando à gravação que o Peter colocou no ar, “Stranger on the Shore.”, ela é, a nosso ver, bem superior ao “Strangers in The Night”, que desagradava Frank Sinatra; talvez por causa do “du bi du bi du”, que ele inseriu no seu final, o que levou os gozadores a dizerem que ele se referia ao cachorro de desenho animado Scooby Doo.
Enquanto eu me reportava à Mayrink Veiga, Borer citava a Rádio Tamoio como a emissora que divulgou muito a música que escolhera, na versão instrumental, naturalmente.
Notei, nesse momento, que o Sérgio Fortes não agiu como o homem-calendário. Para preencher essa lacuna, acessamos o Google e soubemos que 22 de dezembro é o Dia da Consciência Ecológica, tributo ao seringueiro Chico Mendes que foi assassinado no Acre.
Rádio Roquette Pinto,  94.1. Programa Rádio Memória.
E o titular do programa surpreendeu a todos, principalmente aos que o ladeavam, com uma pergunta que nada tinha a ver com melodia, harmonia, ritmo e vozes canoras.
-Borer, qual a sua grande lembrança deste ano?
Borer titubeou, talvez porque esperasse essa pergunta no dia  29 de dezembro de 2013, a data do último Rádio Memória do ano, mas se refez e respondeu:
-A vinda do papa ao Brasil. Representou muito para mim a presença do Papa Francisco entre nós.
Sergio Fortes, que posou de Papa Sérgio I, na semana passada e até hoje não sabemos se se despiu das vestes papais, concordou. Pesa também o fato de ele ter sido aluno do Colégio Santo Inácio como o saudoso Mário Henrique Simonsen, que, por sinal, tinha uma gula de abade.
Julguei que o Jonas Vieira desse uma resposta não muito católica para a sua pergunta e citasse a prisão dos mensaleiros (o primeiro acontecimento de 2013 que me ocorreu), mas me enganei.
-O que mais me marcou este ano foram os amigos que perdi: Luiz Paulo Horta, Maurício Azedo, Luiz Claudio, mais recentemente. No mais, o ano foi bom.
-Sim, foi um bom ano. - disseram os três.
Mas o tempo urgia, e o Sergio Fortes foi apressado a revelar a próxima atração musical, e pôs as mãos à obra.
  -Quando Jerome Kern morreu, Irving Berlin foi convocado a compor um musical. Ele relutou alegando que não entendia disso.
-Imagine se entendesse. - interveio o Jonas Vieira.
Depois desse breve aparte, Sergio Fortes prosseguiu:
-E Irving Berlin escreveu “Annie Get Your Gun”, de onde destacamos o dueto “An Old Fashioned Wedding”, com Kim Criswell e o barítono Thomas Hampson.
Existiu de fato Annie Oakley, uma cowgirl (cowboy é que não era), cuja serelepe vida, pensou-se na Broadway, poderia ser transformada em musical. Jerome Kern, encarregado em musicar a letra de Dorothy Fields faleceu e a tarefa foi passada para Irving Berlin, que fez tudo sozinho: letra e música, não precisava de parceiros, como Cole Porter, tão criativo que era. Só na Broadway, houve 1147apresentações seguidas.
Jonas Vieira voltou com Oliver Nelson e Countie Basie, agora na faixa que também primou pela qualidade, “Afrique”.
Fernando Borer, que estava bem nacionalista, nesse domingo, pediu “Os Quindins de Iaiá”, gravação de 1954, com Emilinha Borba e César de Alencar, Jonas Vieira fez considerações sobre César de Alencar, desviando-se da mancha que há em sua biografia. O arranjo de Radamés Gnatalli transformou a iaiá em rainha.
Coube ao Sergio Fortes o encerramento musical e ele escolheu uma gravação de 1935, do filme Picolino, com Fred Astaire cantando e dançando: “Top Hat, White Tie And Tails.”
O demorado abraço do Jonas Vieira fechou o Rádio Memória.

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