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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

2526 - plágios e pedâncias



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4326                         Data: 11 de dezembro  de 2013
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CARTAS DOS LEITORES OU DOS OUVINTES?

Antes de as cartas serem divulgadas, expressamos aqui a nossa dúvida: o destinatário é o Biscoito Molhado ou o Rádio Memória? Como o Jonas Vieira e o Sérgio Fortes não se pronunciaram até agora, vamos respondê-las.

-Ouvi o Rádio Memória em que o Simon Khoury encheu o programa de assobios (no bom sentido, é claro) e ao ler o Biscoito Molhado sobre o mesmo, soube que há assobios na ópera “Mefistófeles”, de Arrigo Boito.  Como eu estive no Teatro Municipal do Rio de Janeiro na legendária récita dessa ópera, em 1964, em que o triunfo da Magda Olivero causou tanto ciúme no baixo Cesare Siepi que ele voltou para casa mais cedo, eu só tenho nos ouvidos a voz da maravilhosa soprano. Assim sendo, em que trecho da ópera Mefistófeles assobia? Celestino
BM: Meu caro ouvinte e leitor, Mefistófeles assovia no prólogo da ópera quando, no paraíso, desafia Deus, afirmando que se apoderaria da alma do velho e estudioso Fausto. E assovia mais ainda quando se apresenta a Fausto na ária “Sou o espírito que nega” na parte final em que diz: “... mordo, invischio, fischio! Fischio! Fischio!,,, O velho sábio o chama, então, de “estranho filho do caos” (strano figlio del caos).
Acredito que, em muitas encenações dessa ópera, o diabo apite, pois apitar todo o mundo sabe, assobiar só uns poucos.

-Num dos programas do Rádio Memória, o Sérgio Fortes listou uma série de palavras e expressões que sumiram do nosso linguajar. Ele não citou “it”, mas no próprio programa, o Jonas Vieira colocou para tocar um samba de Ary Barroso, sobre um travesti, em que essa palavra é usada. Por outro lado, Sérgio Fortes citou “chiquê” que não encontro em lugar algum. O Biscoito Molhado pode me ajudar? Ataulfo
BM: Meu caro Ataulfo, você pode achar chiquê nas páginas de “A Vida Como Ela É”, coluna que Nélson Rodrigues redigiu de 1951 a 1961 na Última Hora”.
 Aparece, por exemplo, nessa história com o ardente nome “Inferno”:
-”Não grite! Está pensando que eu sou o quê?
-”Grito, pronto, grito! Não topo chiquê! Comigo, não!”
E na história “A Humilhada”, a palavra surge neste trecho:
“A princípio, Guilherme controlou a línguagem. Mas era, por índole e educação, um desbocado. Acabou explodindo : “Sossega, leoa de chácara! Sou contra chiquê”” Regina gemeu: “Paciência!`E teve que suportar a gíria deslavada do marido. Por fim, ela se contagiou e já usava certas expressões, tais como “velhinho”, “De arder”, “araqueado”, etc,, etc.”
Chiquê e outras palavras, como detraquê (amalucado), refletiam os estertores da influência francesa na cultura brasileira; agora, os americanos tomaram conta.

-Numa edição do Biscoito Molhado sobre o Rádio Memória, está registrado que o Jonas Vieira inicia o programa dominical com um “bondíssimo bom dia, senhores ouvintes”. Ora, eu o tenho escutado dizer “muitíssimo bom-dia”. Estarei sofrendo de alucinação auditiva? Formigão
BM: Você não, nós sim. O nosso consolo é que o erro não está destacado, o que não ocorreu com coirmãos do Biscoito Molhado como “O Globo” e o “Jornal do Brasil”.
Certa vez, o Jornal do Brasil colocou como manchete esta frase: “Geisel não exitará (sic) em usar o AI 5”.
Quando uma égua fugiu de uma cocheira do Jockey Club e galopou pelas ruas, o Globo publicou a seguinte manchete:
“Égua cavalga (sic) nove quilômetros pelas ruas.
O nosso erro, ainda bem, ficou no meio de um parágrafo sem maiores alardes jornalísticos.

“Dieckmann, na primeira vez que foi ao Rádio Memória, pediu uma gravação da Lady Gaga e, agora, solicita a banda de rock “Blood, Sweat and Tears”. Já que ele é adepto desses ritmos jovens sacolejantes, por que não escolhe, na próxima vez, uma música da Rita Pavone? Para mim seria bem nostálgico, pois participei daquele programa televisivo do Carlos Imperial em que foi escolhida, num concurso, a melhor imitadora da consagrada cantora italiana. Fiquei em terceiro lugar? Isaurinha.
BM: E a Rita Pavone ficou em quarto?... Sabendo que Charles Chaplin participou, incógnito, de um concurso de imitadores seus, num teatro de São Francisco e ficou longe dos melhores colocados, não resisti a piada.
Hoje, Rita Pavone é uma coroa de 68 anos de idade e, pelo vídeo em que a vi cantando, dia desses, mais enxuta do que quando era brotinho (palavra fora de uso como chiquê).
Caso o Dieckmann tenha mesmo intenção de pedir ao Peter, o operador de som da Rádio Roquette Pinto, que acione as carrapetas com uma música cantada pela espevitada italiana, que fez sucesso nos anos 60 e no início dos 70, que seja “Il ballo del mattone”. Ele estaria, assim, também homenageando um ótimo filme argentino, “Nove Rainhas”, de 2003.

-No programa Rádio Memória que teve o Simon Khoury como convidado, falou-se de plágios; que a música tema do filme “Love Story” é calcada no “Ontem ao Luar”, que “Insensatez”, do Tom Jobim é extremamente parecida com o “Prelúdio nº 4 opus 28 de Chopin. É isso ai, os plágios são muitos. Nazareth
BM: Sim, os plágios pululam por todos os lados em todos os tempos.
O Hino do América, do Lamartine Babo, é uma cópia descarada da canção Row, Row, Row, de William Jerome e James Monaco de um show da Broadway, “Ziegfield Follies”, de 1912.  Anos depois, os remadores da Universidade de Oxford a adotaram como hino, o que fazia sentido. Veio mais tarde o Lamartine Babo e levou a canção da regata para o futebol, o que não fazia mais sentido.
O hino extraoficial “Oh Minas Gerias”, que os mineiros cantam com orgulho, é plágio da valsa italiana “Vieni Sul Mar”.
“Eu nunca mais vou te esquecer”, uma suposta homenagem ao Garrincha, foi composta em cima da ária da “Turandot”, “Nessun Dorma”. Esta, para nós, é a que nos desagrada mais, pois é cantada pelo Moacir Franco.
No cinema, até o Charles Chaplin cometeu esse pecado; basta comparar as cenas dos operários na produção em série do filme “A Nós a Liberdade”, de René Clair (1931) com as cenas do “Tempos Modernos” (1936).  A distribuidora do filme francês entrou com um processo contra a United Artists, mas René Clair não se envolveu no caso porque preferiu manter a amizade com Charles Chaplin.
Por outro lado, a peça de Bertold Brecht, “O Sr. Puntila e seu criado Matti”, guarda muitas semelhanças com o filme “Luzes da Cidade”, porém, o dramaturgo alemão pediu, antes, ao Charles Chaplin, permissão para se inspirar em dois personagens seus.

-A música, mesmo a popular deveria ser matéria escolar? Qual a opinião do Biscoito Molhado? Dircinha
BM: Sim, e vamos contar um caso que tonificará nossa afirmativa.  Quando fazíamos estágio na Marinha Mercante, um colega com pose de sábio usou a palavra “esmircunfláutico” numa frase. Depois de virar o Caldas Aulete e o Aurélio pelo avesso, fui até ele e perguntei que diabo de palavra era aquela.
-”Minha avó a usava muito; ela caiu em desuso (a palavra, bem entendido), mas devemos ressuscitá-las porque a língua portuguesa é exuberante.” - foi a sua resposta.
Muitos anos depois, ouvindo “Mamãe, eu quero”, com o Jararaca, não no Rádio Memória, mas no programa que o antecede, lá está a palavra, porém dita corretamente, de acordo com o vernáculo: “circuncisfláutico”.
Aliás, esse rapaz que “aprendeu” o nosso idioma com a avó era por demais circuncisfláutico, ou seja, pedante.
Por hoje, é só.



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