Total de visualizações de página

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

2516 - Tudo sobre a dívida do Flamengo



--------------------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4316                           Data: 23  de novembro  de 2013
------------------------------------------------------------------------------

CARTAS DOS LEITORES

-Eu acordei domingo, dia 17, às 8h 45min,  ainda com remelas, ouvi o Jonas Vieira dizendo que os dirigentes do Flamengo estão certo de cobrar ingressos que vão de 200 a 800 reais, pois  o clube é de torcedores ricos? É isso mesmo, pois sou rubro-negro, quase todos meus amigos também, e vivemos no miserê? ... Uóchinton
BM: Em primeiro lugar, você deveria colocar o relógio para acordá-lo mais cedo, ou o alarme do despertador, pois assim, não perderia os programas Almanaque e Rádio Memória que, até a hora em que você saiu dos braços de Morfeu, o Sérgio Fortes, com o Peter nas carrapetas, deslumbrava os ouvintes que apreciam boa música e boa piada. 
Sim, Uóchinton, pelo que entendi ficou para o Jonas Vieira assentado (desculpem-me a palavra, mas tenho visto muitas sessões do STF) que o clube da Gávea é de torcedores ricos.
Seria o Flamengo voltando às suas origens? Via-se jogador desvalido e de cabelo pixaim nos primeiros anos da prática do “foot ball”, neste país, no Flamengo? Não, também não no Fluminense, no Botafogo e no América.  No tricolor das Laranjeiras, um jogador com um bronzeado suspeito cobria-se de pó de arroz para, como o Michael Jackson faria décadas depois, embranquecer. Veio daí a ligação do Fluminense com o pó de arroz.
O Bangu formou times com os pobres e os morenos que trabalhavam na fábrica de tecido do bairro, “os mulatinhos rosados”, mas como não incomodava os grandes, seguiu adiante. Isso não aconteceu com um clube que, vindo da terceira divisão, com brancos, negros e mulatos, conquistou o título de campeão carioca de 1923: o Vasco da Gama.
O clube foi logo hostilizado pelos aristocráticos Fluminense, Flamengo, Botafogo e América; e, sob a desculpa que o Vasco da Gama não possuía um estádio de futebol, foi tirado do campeonato deles.  Houve, então, uma extraordinária mobilização entre os torcedores, alguns deles comerciantes de bacalhau, outros, apenas apreciadores desse peixe; e foi erguido, em 12 meses, o maior estádio do Brasil: São Januário. Estava afastado o empecilho e, assim, os despossuídos e pardos ocuparam o seu lugar de direito no mais popular esporte criado até hoje.
Houve recaídas, é verdade. O “scratch” brasileiro de 1958, com o inconcebível argumento que os negros não tinham estrutura emocional para ficar longe de casa por muito tempo, iniciou a Copa do Mundo na Suécia com um time de brancos: Gilmar, De Sordi e Belini, Zito, Orlando e Nílton Santos, Joel, Didi, Mazola, Dida e Zagalo. A única exceção era Didi, o Príncipe Etíope de Rancho, segundo o Nélson Rodrigues. Quando entraram os crioulos Djalma Santos e Pelé e mais o mulato Garrincha, o nosso escrete conquistou o seu mais memorável título em Copa do Mundo.
Antes de encerrarmos essa resposta que se faz longa, voltemos ao pó de arroz.
Em 1914, num jogo contra o América, o “player” Carlos Alberto estava mais empoado do que a Madame Du Barry para ocultar sua cor morena. Ao suar, a cobertura se desfez, e a torcida americana passou a gritar em tom de insulto: “Pó de arroz. Pó de arroz”.  Quase cem anos depois, esse grito repercute.

-O redator de Biscoito Molhado acredita que o Flamengo pós-Maracanã padrão FIFA  é igual ao Flamengo das décadas de 10 e 20? Bredi Piti
BM:  Não; há uma diferença: naquela época, o Flamengo não queria  negros no “team”, hoje, não os quer dentro do Maracanã a não ser que se tornem sócios torcedores por livre e espontânea pressão.

Como os torcedores do Flamengo comemorarão um gol no Maracanã padrão FIFA, num FLA x FLU, por exemplo? Jaquiéle
BM: Ora, não é difícil prever. Comemorarão com rolhas de Champagne Moët et  Chandon espoucando e bebendo nos sapatos de salto alto das flamenguistas.

-E o crioulo pau d´ água das esquinas gritando Flamengo tomado pela paixão, que o Nélson Rodrigues tanto decantou?... Será esquecido? Maiquel Jaquison
BM: Sim, ele será  desprezado como o aficionado  que bebe água na cuia de um queijo Palmira. Há também essa passagem do pó de arroz Nélson Rodrigues que vem a propósito: “Poucas instituições serão tão abrangentemente nacionais quanto o Flamengo – a Igreja Católica, sem dúvida é uma delas, e, talvez o jogo do bicho. E olha que o Flamengo não promete a vida eterna e nem o enriquecimento fácil. Ao contrário, às vezes mata de enfarte e, quase sempre, só dá despesas. Mas uma coisa ele tem em comum com a religião e o bicho: a Fé!”
“Por onde vai, o Rubro-Negro arrasta multidões fanatizadas. Há quem morra com o seu nome gravado no coração, a ponta de canivete. O Flamengo tornou-se uma força da natureza e, repito, no Flamengo venta, troveja, relampeja.”
“Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante ou por um dia.”
Esses flamenguistas, caro leitor, o os dirigentes do Flamengo não querem  mais.

-Com o Flamengo de torcedores ricos, não teremos mais letras como a que inspirou o vascaíno de quatro costados, Aldir Blanc,  na canção “Incompatibilidade de gênios”? Aqui vai um trecho dessa letra.
“Dotô,
jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou, mudou de estação, começou a cantar.
-------------------------------
Se eu tô devendo dinheiro,
e um vem me cobrar,
Dotô,
a peste abre a porta
e ainda manda sentá.”
Obrigado pela atenção. Uélinton
BM: Não fique tão alarmado, Uélinton, pois ligar o rádio para escutar os jogos do Flamengo pode, o que não vai dar mais é ir ao Maracanã assistir aos jogos do seu time de coração; isto é, pode escutar desde que você não tenha se casado com uma peste, e, como agravante, de dever  dinheiro.

-Eu concordo com o Jonas Veira, o Flamengo precisa de muito, mais de muito dinheiro para pagar a enorme dívida que carrega, assim, tem de aumentar o preço dos ingressos de maneira superlativa. Guido Mantega
BM: Nós diríamos que o clube do coração do Jonas precisa de uma boa administração antes de qualquer outra coisa. Os dólares da exportação do petróleo jorram na Venezuela, no entanto, por causa dos maus governos, falta até papel higiênico lá.

-O Biscoito Molhado encerrou de afogadilho a redação do exemplar sobre o Rádio Memória apresentado pelo Sérgio Fortes, no dia 17 de novembro, que fiquei sem saber quais os comentários sobre “Na Baixa do Sapateiro”, do Ary Barroso. Fica aqui meu protesto e a minha ameaça de cancelar a assinatura. Ariovaldo
 BM: O rubro-negro fanático e locutor da gaitinha, Ary Barroso, certa vez, na década de 30, indispôs-se com os dirigentes do Vasco. Proibido de entrar no estádio de São Januário, transmitiu Vasco e Fluminense de cima do telhado de uma casa que, dizem na família, era de uma tia-avó minha.
Mas você quer saber de música, e não de futebol. Vamos, então, tentar corrigir esse erro, pelo menos, a que a pressa nos levou naquela edição do BM.
Sérgio Fortes nos informou que “Na Baixa do Sapateiro” foi gravada como faixa B, de um disco de 78 rpm, e, em seguida, expressou a sua estranheza pelo fato de a Carmem Miranda não cantar essa prestigiosa composição num filme. Nesse instante, Jonas Vieira, com todo o seu conhecimento enciclopédico de música popular, interveio para esclarecer que Ary Barroso havia vendido para o Andre Kostelanetz os direitos da música, não a autoria. Depois, declarou Jonas Vieira, Ary Barroso se arrependeu à beça.
Bem, por hoje chega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário