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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

2201 - compositores, vaias e apupos.l


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4001                                          Data: 04 de agosto de 2012
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A ÚLTIMA SESSÃO DO SABADOIDO... DO MÊS DE JULHO
3ª PARTE

-Carlinhos, quais foram as canções que o Cole Porter compôs para o Frank Sinatra?
Luca formulou apressadamente a sua pergunta, pois o Frank Sinatra, por melhor que fosse, não gozou o privilégio de ter composições do Cole Porter criadas especialmente para ele.
-De Cole Porter, Frank Sinatra cantou “Night and Day”, “I Love Paris...”
-Begin the Beguine... – atropelou-me as palavras o Claudio com uma risada..
-Essa não foi para ele, Claudiomiro. – protestou o Luca, que emendou outra pergunta, dessa vez dirigindo-se a todos:
-Quem é o melhor compositor de música popular dos Estados Unidos? - insistiu o Luca na música americana.
Meu irmão se antecipou:
-Jerome Kern, Richard Rogers e Oscar Hammerstein, Cole Porter...
-Cole Porter é o melhor de todos para mim. - aparteou o Luca.
-George Gershwin, Henry Mancini...
Dessa vez fui eu que interrompi o Claudio:
-Duke Ellington, Irving Berlin... Temos, no entanto, de separar os populares dos eruditos, pois George Gershwin compôs concertos, ópera, rapsódias e Duke Ellington criou também obras de fôlego, de mais de 40 minutos de duração.
-Mas também fizeram coisas populares, como o Leonard Bernstein do “West Side Story”. - retrucou o Claudio.
-Eu creio que a questão é a que o Luca expôs antes; não se trata do melhor compositor norte americano, mas com quem nos identificamos mais.
-Isso, Carlinhos.
Em seguida, Luca enveredou pelos apupos do público.
-“Sabiá” recebeu a maior vaia de todos os tempos.
A vaia que a composição de Tom Jobim e Chico Buarque repercutiu muito. Recordo-me que, no dia subsequente, o Globo, em editorial, comparou a manifestação ruidosa do público à ocorrida no Teatro Champs Élysées, em Paris, na estreia de “A Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky, em 29 de maio de 1913. Editorial esse que gerou mil protestos, pois “A Sagração da Primavera”, apupada, revolucionou a música do século XX e inspirou as seguintes palavras do maestro Leonard Bernstein: “... Ela também tem as melhores dissonâncias que ninguém poderia ter imaginado e as melhores assimetrias e politonalidades já feitas, qual seja o nome que você queira dar.”
Mas voltemos à nossa narrativa.
-Creio que a maior vaia foi endereçada a “Saveiros”.
Meu irmão discordou de mim.
-Quem recebeu a maior vaia foi o Sérgio Ricardo com o “Beto Bom de Bola”.
-Claudio, ele foi vaiado no Teatro Record e nós estamos falando do Maracanãzinho.- reagi.
Ele não levou em consideração as minhas palavras e se deteve no violão quebrado pelo Sérgio Ricardo, que caiu sobre alguns baderneiros da plateia.
-Como diz a Rosa, eu transbordo. – falei, enquanto me levantava da cadeira para ir ao banheiro.
Quando voltei, troquei algumas palavras com o meu sobrinho que, agora, estava defronte ao ecrã do seu computador.
-No meu trabalho, Daniel, instalaram a versão 2003 do Word com o português de Portugal, então, surgem as confusões, porque arquivo é ficheiro, salvar é guardar e por aí vai.
-Carlão, você tem de aprender mais um idioma. - aconselhou-me com  seu jeito folgazão.
De volta à sessão do Sabadoido, Claudio se reportava aos CDs que comprou a preço de queima de estoques no Carrefour.
-Comprei Caetano Veloso por 1,99; Chico Buarque também. Tom Jobim valia o dobro, 4 e 99. (*)
-Está certo. – disse o Luca, percebendo a ironia do meu irmão que fez o Vagner rir.
-Este CD da Susan Boyle estava também muito barato. – passou-o às minhas mãos.
Li rapidamente o repertório e elogiei a voz da cantora inglesa que despontou para o sucesso com a idade avançada.
-Ela canta muito. - disse também o Vagner.
O tema do Sabadoido passou a ser a dança e eu estava com a palavra.
-Assisti a uma reprise do programa do Sérgio Britom “Arte”, que homenageou durante uns 20 minutos o Bob Fosse. Eu desconhecia os filmes dele, como dançarino, da década de 50. Fiquei deslumbrado com o seu talento de dançarino, Claudio.
-Quando se fala em dança, lembra-se logo o Fred Astaire. - disse o Luca.
-Bob Fosse, além de grande coreógrafo, foi um grande dançarino. - afirmou meu irmão.
-Eu vi o “All That Jazz” no cinema. - lembrei-me.
-Nesse filme, o Bob Fosse transforma a própria morte em dança. Ele fumava muito, era mulherengo...
Meu irmão foi aparteado pelo Luca:
-Os americanos dançam muito bem. Havia aquele que viveu aqui, No Brasil...
-Lennie Dale. - falei.
-Eu assisti, ao vivo, no teatro da TV Excelsior, o Lennie Dale dançando.- lembrou-se o Claudio com orgulho.
-O corpo dele era de dançarino mesmo. - disse o Luca.
-Lennie Dale ensinou muitos artistas a dançar.
-Liza Minnelli foi uma das alunas dele. - corroborei a afirmação do Cláudio.
-Parece, não tenho certeza, que ele ajudou na coreografia do West Side Story.
-A Liza Minnelli dançava, a Shirley MacLaine...
Luca, que interrompera o Claudio, foi interrompido por mim.
-A Liza Minelli se perdia, às vezes, na dança; a Shirley MacLaine era bem mais talentosa.
-O Lennie Dale criou, aqui no Brasil, os Dzi Croquetes.
E com a lembrança do meu irmão, os nomes de alguns dançarinos foram citados por nós dois.
-Ciro Barcelos, Paulette, Cláudio Tovar...
Retomei a palavra:
-Por duas vezes, assisti, no Teatro Glauce Rocha, à peça “Aldir Blanc, um cara legal.” No momento em que se ouve a Elis Regina cantando “Dois pra lá, dois pra cá”, o Cláudio Tovar dança com a Lucinha Lins, percebe-se, logo, o molejo de quem foi um dos expoentes dos Dzi Croquetes.
Luca, franqueando o envelope com cartas e recortes de jornal, mudou de assunto.
-Eu falei, Carlinhos, que a Rosa não queria que divulgassem os versos dela, e você ainda atribuiu outros a ela...
Claudio e Vagner iniciaram uma conversa paralela, enquanto o Luca me mostrava algumas cartas da filha caçula do Agripino Grieco. Numa delas, eu era chamado de padeiro maluco cuja poesia era um repentino bebê.
“Estava no jogo do truco,
quando um padeiro maluco
Me apareceu.
Vinha com uma poesia no colo
E dizia pro povo que o verso era meu.
Não senhor!
Toma que o versinho é teu”
Não senhor!”

Meu sobrinho, nesse momento, apareceu vestido para ir almoçar num restaurante do Méier com a Gina, a tia, a prima e demais parentes, e o Luca fez questão de levá-lo de carro.
-É o meu caminho para casa mesmo. - justificou a carona.
E saímos os três no carro do Luca, restando sozinho no local do Sabadoido o meu irmão.

(*) Essa noção de dobro deve incorporar uma liberdade poética.


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