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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3 999
Data: 02 de agosto de 2012
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A ÚLTIMA SESSÃO DO SABADOIDO... DO MÊS DE JULHO
2ª PARTE
Claudio trouxe o copo d' água que o
Vagner pedira e o seu copo d' água que passarinho não bebe. Luca, alegando os
remédios que tomara por causa das dores um palmo abaixo do umbigo, mostrou-se
apto a enfrentar qualquer bafômetro.
O telefone tocou. Era a Gina, e o meu
irmão o atendeu.
-O Daniel está agora dando um concerto.
- pilheriou com o fato de o filho tocar teclado naquele momento.
Em seguida, comunicou a ela que o
Daniel iria ao encontro dela na hora combinada.
-Se o Daniel for ao Méier, eu levo
agora no meu carro. - prontificou-se o Luca.
-Isso é pra depois. - manteve-o o Claudio
no Sabadoido.
-O entrevistado do Roda Viva foi o João
Ubalbo Ribeiro.
-Desde o fim da TV Educativa que não
assisto ao Roda Viva. Durmo cedo, também... - interrompi o Luca.
-O João Ubaldo, além de conhecer bem a
língua portuguesa, domina amplamente o inglês, então, ele mesmo traduz os
livros dele.
E o Luca prosseguiu citado os nomes de
alguns dos seus livros, detendo-se em “A Casa dos Budas Ditosos”.
-Ele escreveu esse livro, sobre luxúria, para
aquela coleção dos sete pecados capitais.
-Eu li “Mal Secreto/ A Inveja” do
Zuenir Ventura e não gostei.
E' daqueles romances que ficaria de bom
tamanho se fossem retiradas umas 120 páginas e ficasse com a configuração de um
conto, como disse o Jorge Luiz Borges, com outras palavras, sobre muitos
romances. - pensei, sem me manifestar.
-Aqueles entrevistadores do Roda Viva
são terríveis. - preparou o Luca o nosso espírito para a outra parte da sua
narrativa.
-Eles leram aquele artigo agressivo do
João Ubaldo Ribeiro, no Globo, contra o Fernando Henrique Cardoso.
-Aquele artigo foi grosseiro. -
enfatizou o Claudio.
-João Ubaldo, na época, sofria com
sérios problemas de alcoolismo.
-Sim, Carlinhos, mas ele escreveu os
livros dele com problema de alcoolismo. - reagiu o Luca.
Não era uma boa ideia insistir nessa
questão e o Luca ficou com o caminho livre para ir adiante:
-Ele ouviu os trechos que foram lidos
daquele artigo, e disse que agiu de uma maneira juvenil.
Houve referências às críticas do
escritor ao presidente Lula que, para o escritor, além de ser conivente com a
inflação era um ignorante que pouco se importava com a educação, e o assunto
passou para o desentendimento entre os intelectuais.
-Eu não entendo como o Millor Fernandes
e o Chico Buarque brigaram... Eu julgava que fosse pelo fato de o Chico apoiar o
Miro Teixeira, e o Millor, o Brizola, mas o Carlinhos disse que o Millor acusou
o Chico Buarque de ganhar dinheiro com ideologia.
-Luca, isso foi dito na própria “Roda
Viva”, quando o Millor Fernandes foi entrevistado.
-Aproveitei que a palavra estava comigo
e segui em frente:
-Essa questão de lucrar com a ideologia...
O Pasquim, em que o Millor escrevia, conseguiu tiragens espetaculares graças ao
mercado da esquerda.
Luca concordou, mas o Cláudio
interveio:
-O Chico Buarque cobrou para fazer a
música do filme “Bye Bye Brasil”, também para fazer a música de um filme dos
Trapalhões; ele cobrou para dar uma entrevista sobre o Fluminense... Eu não
quis acreditar, pois ele é tricolor, mas a Gina confirmou.
-Eu não sei... Lamento uma briga em que o Chico Buarque cuspiu
no Millor e o Millor arremessou garrafas no Chico– disse o Luca.
-A baixaria é lamentável. – comentei.
-Gosto do Tom Jobim, do Chico
Buarque... são os compositores com quem mais eu me identifico. Não quero saber
se é o melhor.
-Luca, o Tom Jobim é um dos maiores
compositores do mundo.
-Concordo, Claudiomiro, mas eu me
importo com aqueles com quem eu mais me identifico e Tom Jobim está entre eles.
-Sim, devemos ver por esse prisma. Essa
história de melhor e de pior é sempre discutível. - manifestei-me.
-Quais os grandes choristas...
Meu irmão sobrestou a entonação de pergunta e voltou-se para mim.
-Choristas está certo?
-Chorões. - corrigi.
-Vai “chorista” mesmo. - disse com a
expressão gozadora.
E concluiu a pergunta:
-Quais os grandes choristas da nossa
música popular?
-Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Jacob
do Bandolim...
As citações do Luca foram interrompidas
pelo sabatinador.
-Ninguém fala de um compositor de
primeira qualidade no choro: Luiz Gonzaga. Eu tenho um CD aqui, do Luiz
Gonzaga, apenas de chorinho.
-Eu já ouvi choro tocado no violino por
um músico francês, até, mas desconheço o acordeon nesse gênero musical. -
manifestei-me.
-O Luís Gonzaga ficou conhecido pelo
baião. - disse o Luca.
-Houve um preconceito contra o acordeom...
-O acordeom é o instrumento musical da
música popular francesa. - interrompeu-me o meu irmão no momento em que eu
pretendia citar uma frase do Millor Fernandes que demonstrava bem essa ideia
pré-concebida contra o instrumento. Disse ele num momento infeliz. “Se todos os
seres humanos tivessem ouvidos realmente apurados, nenhum idiota teria coragem
de inventar o acordeom.”
-Foi isso mesmo; além de chamarem o acordeom
de sanfona, há um nome pejorativo de que eu não me lembro agora. E o acordeom é
um dos instrumentos mais difíceis de se tocar; lida-se com os botões, o fole...
- falou o Luca.
-O Dominguinhos talvez seja mais
virtuoso do que o Luís Gonzaga. Não discuto a importância para a música
popular. - enfatizou o Claudio.
-Dominguinhos é excelente. - assinalou
o Vagner.
-O pai do Luís Gonzaga tocava a sanfona
de oito baixos, mas isso não o diminuía. Existe até aquela música: “Luís,
respeita Januário...” - manifestei-me.
Ao citar essa composição, Luca entoou
um trecho e meu irmão fez coro com ele.
-É evidente que Luís Gonzaga deve muito
ao Januário, seu pai.
E mudei os compositores:
-Como o Cláudio se referiu aos chorões,
não podemos deixar de citar o Paulinho da Viola.
-Ele é excelente. - entusiasmou-se o
Luca.
-E ainda tem uma voz que agrada aos
ouvidos. Eu, pelo menos, não consigo ficar desatento a uma canção cantada pelo
Paulinho da Viola, mesmo sabendo que ele não possui a técnica do cantor.
-É sim, Carlinhos... a voz dele é muito
bonita. - concordou o Vagner.
-Paulinho da Viola é filho de um
violonista consagrado entre seus pares. - registrei.
-César Faria do conjunto Época de Ouro.
Paulinho da Viola teve berço. - frisou meu irmão.
E o Sabadoido prosseguiu.
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