O BISCOITO MOLHADO
Edição 5294 FF
Data: 05 de junho de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
Há vida aos 40
Os 40 são emblemáticos. Um ponto de
inflexão que contemplamos quando temos nossos 15, 16, 21, 30.
Normalmente cremos que estaremos ricos.
O sucesso financeiro é inevitável, basta caminhar até os 40. E além de ricos
estaremos resolvidos, seja lá o que isso signifique.
Lembro que há muitos anos conversando
com um colega do Santo Inácio, Gustavo Simões, manifestava meu inconformismo de
faltarem incríveis dois anos para nos formarmos. A noção de tempo é algo que
muda com a idade. Um ano letivo parecia uma eternidade nos meus tempos de
colégio; hoje estamos em junho e eu penso que o ano novo foi ontem.
Não sei o quanto mudamos também. Outro
dia numa dessas discussões de WhatsApp lembramos de um amigo tremendamente pão
duro quando tinha seus 15 anos. Eu defendi a tese de que ele pode ter mudado,
porém fui voto vencido. Meus amigos do grupo crêem que esta parte do caráter
dele era irrevogável, estava formada e consolidada. Eu não acredito nisso.
Evidente que não sei o quanto as pessoas mudam e isto é algo completamente
pessoal, mas acredito em mudanças radicais para o bem e para o mal.
As vezes penso que pessoas tidas por
mim como insuportáveis, enquanto mais novo, podem ser extremamente agradáveis hoje;
sinceramente, não sei.
Este não sei é algo estranho também,
meus 40 deveriam ter trazido uma sabedoria incontestável, pelo menos achava
isto. E hoje vejo que minhas interrogações são maiores que antes. Não
interrogações que perturbem meu sono, mas pequenas perguntas intermináveis
cujas respostas sei que não acharei. Sou da linha que o Universo não é
perfeito, não é uma equação matemática maravilhosa altamente complexa e
interligada. Se o universo tem um milhão de acasos, eu também os tenho.
Acho engraçada a transição da idade. Em
alguns lugares, taxi, uber, trabalho, começo a ser chamado de senhor. Olho para
o espelho e me acho um jovem esplendoroso, mas o senhor está cada vez mais
presente na minha vida. Senhor para cá, senhor para lá, e começo a me
acostumar, não gosto, mas parece que os 40 trazem as marcas inexoráveis do
tempo. Eu vejo cabelos brancos,
uns kilos a mais, e um rosto de galã; parece que não.
Recordações, sim, já tenho muitas:
Costumava perguntar para meu pai -
como era na sua época, Pai? Assuntos diversos, futebol, colégio
(estudamos no mesmo), Brasil, a cidade Rio de Janeiro, economia. Um dia, ele se
virou para mim e disse.
- Minha época é agora.
Sim, ele deveria ser mais novo que eu
quando eu fazia esta pergunta. E hoje, vejo que minha época é agora.
Não cabe colocar na vida pontos de
inflexão, idades temerárias ou algo do tipo.
Vejam, não falo de um levar a vida de
uma forma prosaica, excessivamente tranquila, sem planos, mas eis que estou
quase no final de um texto que não planejei. Escrevi, sem pensar, refletindo
apenas devagar e pondo palavras desajeitadas ao longo de
um papel. Não tenho a menor ideia
da onde quero chegar. Não planejei um final surpreendente, algo para chamar
atenção, uma reviravolta súbita. Apenas escrevo como vivo, mais lentamente, sem
planos de outrora de conquistar o mundo.
Tenho mais perguntas do que respostas,
mas tenho ciência hoje que não existe um ponto definitivo, uma linha que separa
o sucesso do fracasso.
Tenho 40, que venham os 50.
Tenho 72, que venham os oitenta.
ResponderExcluirDepende do que é sucesso e do que é fracasso para quem os julga.
Estar viva na minha idade, lúcida, batalhando por um mundo que não pertença aos esnobes, haja vista que eles não acompanharam a estrondosa mudança ocorrida no século XX e que se apresenta ainda maior no presente, para mim é sucesso.
Escritor não tem idade. Nunca me pergunto como é a pessoa por trás do pensamento. O hábito de passear por livrarias com a idade precisou diminuir. Como não diminuiu meu amor pelas letras passeio pelos blogs.
Meu filho mais novo faz 50 anos este ano. Minha neta mais velha tem 27.
Me sinto totalmente à vontade com minhas rugas, nada na velhice me perturba.
Meu grande, imenso temor, é um titio alemão que deu para perturbar os velhinhos, o Alzheimer. rs
Parabéns, Elvira, a lucidez não é uma característica dominante entre os redatores do seu O BISCOITO MOLHADO. Desde já você está convidada a participar deste nada seleto conjunto de brasileiros esquecidos pela mídia e pela própria memória. Escreva-nos sempre!
ResponderExcluirObrigada.
ResponderExcluirMas, por favor, por lúcida entenda apenas: o sinônimo de consciente e o contrário de senil. E tome Graças a Deus!
Contamos com você!
ResponderExcluir