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sábado, 17 de junho de 2017

3041 - SX Para mim, só marfim


           
O  BISCOITO  MOLHADO
Edição 5301 SX                           Data: 17 de junho de 2017

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO:XXXIV


EVITANDO AS TECLAS PRETAS

Quando alguém pergunta ao meu amigo Jonas Vieira, com quem tenho o prazer de dividir a condução do programa “Rádio Memória”, na Rádio Roquete Pinto, qual é a maior invenção da história da humanidade, ele prontamente responde: “É a orquestra!”

Jonas não perde oportunidade de ressaltar a importância da música, a todo momento, em qualquer circunstância. É claro que ele fala de boa música. Que parece estar desaparecendo. A remanescente os meios de comunicação, cada vez mais, parecem estar empenhados em esconder.

Os últimos acontecimentos da política e da economia brasileiras estão adoecendo nossa população. Aqueles que assistiram as façanhas mais recentes do Tribunal Superior Eleitoral certamente estão padecendo de enjoos, náuseas e problemas respiratórios. Impõe-se combater essas aflições.

Para isso, recomendo música de boa qualidade. Por exemplo, as belíssimas canções do compositor Irving Berlin. Passo a apresentar alguns argumentos, a justificar a prescrição desse remédio.

Em certa ocasião, um jornalista pediu ao famoso compositor Jerome Kern que definisse o papel de Irving Berlin na música norte-americana. Disse ele: “Irving Berlin é a música americana.” Pois bem. O compositor que mereceu tal definição não era americano. Ele nasceu na Sibéria, em 1888. Imigrou para os Estados Unidos, juntamente com sua família, em 1893. Seu pai, um rabino, ganhava a vida inspecionando a correta procedência da comida “Kosher”, segundo as normas da religião judaica.

Moses, o rabino, morreu cedo. Berlin se viu obrigado a trabalhar desde os oito anos de idade. Fez de tudo, começando por vender jornais. Um de seus empregos mais peculiares foi o de garçom-cantor num restaurante em Chinatown. Um restaurante concorrente tinha uma canção especial, cantada por seus garçons. Uma espécie de hino do estabelecimento, que fazia muito sucesso. Para equilibrar a disputa, Berlin compôs a canção “Marie from sunny Italy”, que virou marca registrada do restaurante em que trabalhava.

A música foi publicada, do que decorreram dois acontecimentos importantes na vida do compositor. Primeiro, ele ganhou 37 centavos de dólar pela composição. Em segundo lugar, a canção foi registrada com seu nome errado. Foi assim que Israel Isidore Baline virou Irving Berlin, compositor de milhares de canções, 17 trilhas sonoras para o cinema e 21 musicais da Broadway.

Nada mal para quem sequer sabia escrever música, o que fazia através de anotações muito rudimentares. Normalmente, tudo o que produzia era registrado por um secretário e imediatamente transposto para a pauta musical. Era, além disso, um péssimo pianista. Escolhia para suas canções tons que lhe permitissem evitar as teclas pretas do piano, pelas quais nutria sincera aversão.

Nenhuma dessas limitações impediu-o de produzir canções que mexeram com o orgulho e a auto-estima do povo norte-americano. Dois exemplos são “God Bless America” e “White Christmas”. A primeira alcançou a dimensão de um segundo hino dos Estados Unidos. A segunda vendeu 30 milhões de cópias na voz de Bing Crosby. O cantor teve que gravá-la duas vezes no intervalo de poucos meses. Tamanha produção de discos danificou a matriz original da gravação.

A contribuição de Irving Berlin para o cinema também foi espetacular. “Top Hat” foi a primeira de uma série de comédias românticas produzidas por Hollywood entre 1935 e 1950, todas com música de Berlin e estreladas por Bing Crosby, Fred Astaire, Ginger Rogers e Judy Garland, os campeões de bilheteria da época. Depois de “Top Hat” as criações do compositor abrilhantaram “On the Avenue”, em 1937; “Holiday Inn”, que é de 1942; “Blue Skies”, em 1946; e “Easter Parade”, em 1948.

Também fez sucesso, em 1943, o filme “This is the Army”, com forte apelo patriótico, em que o próprio Irving Berlin aparece cantando “Oh, How I hate to get up in the morning”.

“Cheek to Cheek’, que integrou a trilha sonora de “Top Hat”, é um belo exemplo da contribuição de Irving Berlin para o cinema. No filme, a belíssima canção foi cantada por Fred Astaire. Depois disso mereceu centenas de gravações, com artistas do quilate de Bing Crosby, Frank Sinatra, Louis Armstong, Ella Fitzgerald, Count Basie, Tommy Dorsey e Sammy Davis Jr., entre outros. A trajetória de “Cheek to Cheek” no cinema não parou por aí. Ela integrou a trilha sonora de “O Paciente Inglês” e “A Rosa Púrpura do Cairo”, de Woody Allen.

Uma crônica não é espaço suficiente para descrever a trajetória de sucesso dos musicais que Irving Berlin produziu para o teatro. Seu nome ficou gravado na Broadway especialmente com o musical “Annie get your gun”, que estreou no dia 16 de maio de 1946, alcançando êxito extraordinário. A produção fez explodir a carreira de Ethel Merman e foi encenada nada menos do que 1.147 vezes.

Os produtores do espetáculo, Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, lutaram para convencer Berlin a aceitar essa incumbência. Jerome Kern, inicialmente contratado para compor as músicas de “Annie get your gun”, morreu subitamente. Berlin declarou-se sem condições para substituí-lo, alegando não saber produzir aquele tipo de música. Mas aceitou ler a sinopse da produção, preparada por Dorothy Fields. O tema era a vida de Annie Oakley, mulher super destemida que desafiava e superava dezenas de marmanjos em competições de tiro.

Dias depois Berlin surpreendeu Rodgers e Hammerstein apresentando três músicas para a encenação.


Maravilhosas, é claro. O resto é história.

5 comentários:

  1. Muitos nomes eram trocados. Nem sempre por engano.
    Irving significa moço bonito e Berlim, ou Berlin, a vencedora, ou a bela.
    Belo nome.
    Bela história!

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  2. O redator vai gostar deste seu comentário. Pena que ele jamais lê, ou já teria revidado ao editor do seu O BISCOITO MOLHADO com a violência apropriada.

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  3. Achei que sabia tudo sobre Irving Berlin. O complemento de Elvira foi valioso. Também estou pensando em trocar de nome.

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  4. Ha suspeitas de que tenha havido troca de bebês nas maternidades do pós-guerra. Principalmente entre os post baby boomers de 1948, quando ninguém mais prestava atenção nos médicos nazistas que parteiravam por aqui.
    Talvez seu verdadeiro nome seja Winifred, afinal a ópera sempre foi dos seus fortes.

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  5. Afina,l fiquei sem saber quem é o autor da biograia, para parabenizá-lo, pelo IRVING BERLIN, incrível revelação de um talento musical, sem "usar as teclas pretas", as notas bemóis, que tanto tornam suaves, melofiosaos, os sons...
    Surpreende-me "a vida errante e acertada" .....dos judeus.
    Interessante, é comum a junção de um drama, sucesso, religiosidade e certa dose de uma vida com humor...
    Filho de Rabino, imigrante russo, orfão precoce, trabalha como garson cantante, e se transforma em sucesso musical, pasmem....sem conhecimento de estudo em música...
    Retornando para nossos momentos mais felizes, concordo, a boa música é um alento para a alma, para a vida !
    Grata pela biografia tão agradável ao passar os olhos. ❤️
    Gostei dos comentários, em partucular e curiosidade, a comum da mudança de nomes, que soem positividade, entre os judeus
    Sonya Feldman

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