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terça-feira, 16 de julho de 2013

2429 - Duo Memória 2



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4229                                   Data:  13 de  julho de 2013
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GÊMEOS ATÉ NA VOZ
PARTE II

E o duo Santoro prosseguiu proseando:
-Piazzolla é um argentino de que todos os brasileiros gostam. O único, aliás.
-Temos agora o papa. - lembrou o Sérgio Fortes.
-Você fecha os olhos, quando José Staneck toca e parece que ouve um bandoneón. É incrível o que ele faz com a gaita. - ressaltou Paulo Santoro
-E o que vocês gravaram com José Staneck? - atalhou Sérgio Fortes.
-”Primavera Portenha”.
Eu ouvia e me lembrava do programa “Sala do Concerto”, do Lauro Gomes, das sextas-feiras, às 17h, na Rádio MEC, em que eles foram anunciados para uma programação de uma hora com o repertório de Astor Piazzolla, somente. O tempo era assustador, naquele dia, com o céu carregado e a ameaça de mais uma enchente no Rio de Janeiro, porém, eles se fizeram presentes, mais ainda quando começaram o concerto, que até afugentou as nuvens negras.
-Acabamos de ouvir “Primavera Portenha”, de Astor Piazzolla com o Duo Santoro e José Staneck. - fez-se o Sérgio Fortes de Jonas Vieira, ou mesmo, de Roberto Dieckmann.
Lembraram os gêmeos a seguir o pai:
-Sandrino Santoro fez mais de duzentos alunos, ainda faz até hoje. Mas o que ele fez bem foi filhos.
Sérgio deu uma risada de aprovação à autoestima dos violoncelistas.
-Temos um irmão mais novo sete anos, Sávio Santoro, que toca e divulga a viola sinfônica, e exporta alunos. É o orgulho da família.
Se Ricardo e Paulo Santoro não enfrentaram o contrabaixo, e sim o violoncelo, porque aprenderam a tocar com 4 anos  de idade, imaginei que o caçula aprendeu bebê, pois ficou com a viola em vez do violoncelo.
-E agora? - pediu mais música aquele que forma um duo com o Jonas Vieira, e, às vezes um trio com o Dieckmann, ou com o Fernando Borer, ou com o Luzer.
-Vamos ouvir agora o lado mais popular do CD. Não é que Piazzola não seja popular, ele fica na fronteira entre o clássico e o popular. - disse o Ricardo Santoro (ou teria sido o Paulo Santoro?)
-E a música – prosseguiu – é Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu.
Estivesse lá o Dieckmann e diria, depois da audição que todos nós aqui rebolamos. Seu companheiro de muitos anos foi mais contido:
-Essa incursão na música popular é fundamental. - disse pensando, talvez, que o seu pai, Paulo Fortes, gravou um LP de serestas estimulado pelo Hermínio Bello de Carvalho.
Eles concordaram imediatamente.
-Sim, para fisgar o público da música popular para a música clássica, isso potencializa o nosso público.
Para uns, Placido Domingo gravando com Simone e Luciano Pavarotti com Roberto Carlos e quejandos, vulgarizaram a música erudita, mas tocar uma peça como  “Tico-tico no Fubá” não desagrada, a nosso ver, os ouvintes exigentes, apenas aqueles que cultivam a afetação intelectual.
Sérgio Fortes anunciou uma pausa para meditação, crônica do Fernando Milfond, que tratou de sexo. Como o cronista não era o Simon Khoury, pularemos essa parte.
Encerrada a meditação, que nada tinha com o budismo e com a busca da iluminação, vieram os reclames da Rádio Roquette Pinto, e um deles chamou a nossa atenção: o programa apresentado por André Cardoso todas as segundas-feiras, às 22h, “Concertos UFRJ”.
-Damos prosseguimento ao Rádio Memória, que tem a honra de receber os Irmãos Santoro.
E continuou o Sérgio Fortes:
-Destaco uma característica de vocês: atuam em várias frentes; orquestra, trio, quarteto... Vocês são operários da música.
E, então, anunciou que ouviríamos o quarteto...
-Agora não é o quarteto, é o trio... - foi corrigido num clima de muita descontração.
-Vamos ouvir o Trio Aquarius formado por Ricardo Amado, no violino, Flávio Augusto, no piano, e Ricardo Santoro, no violoncelo.
-E o que será?
E o irmão que participa do trio respondeu:
-Vamos ouvir o quinto movimento das “Miniaturas Brasileiras”, de Villani Cortes, Baião.
 Do trio passou-se para o quarteto, do baião para a valsa, do Ricardo para o Paulo, pois só este, dos Santoro, pertence ao Quarteto Radamés Gnattali.
-Eu adoro o Radamés Gnattali e a composição que vamos tocar é “Valsa”.
-O grande Radamés Gnattali! - vibrou de admiração o Sérgio Fortes e a valsa foi ao ar.
-É uma valsa que nada tem a ver com as valsas vienenses, é uma valsa carioca. - disseram.
Lembrei-me, então, de uma frase de Schumann sobre as valsas de Chopin:
-Não é uma valsa para o corpo dançar e sim para o espírito.
-O Quarteto Radamés Gnattali é formado por Carla Rincón e João Carlo Ferreira, nos violinos, Fernando Thebaldi, na viola, e eu, no violoncelo. - concedeu créditos a todos.
-E o futuro? ... Eu sei que vocês vão gravar novos CDs, música popular como “Tico-Tico no Fubá”'
-Sim, vamos gravar música popular brasileira com convidados. Provavelmente, teremos um pandeiro no “Tico-Tico no Fubá”. Vamos nos apresentar em vários eventos: Festival de Domingo Martins, Festival de Vassouras, Campos de Jordão...
-Encontro referências no jornal sobre o CD de vocês que está muito bem divulgado.
-O Globo fez uma crítica de meia página sobre nosso CD. É claro que a Filarmônica de Berlim merece uma página inteira, mas meia página sobre música clássica nacional ... enfatizou o Ricardo Santoro o êxito da divulgação.
-E agora? - pediu o substituto do Jonas Vieira mais música.
-De um ícone para outro, de Radamés para Francisco Mignone. Ele foi meu tema de mestrado, assim como o do Paulo. Tocaríamos com a Filarmônica de Berlim, além do Villa Lobos, Francisco Mignone.
Depois dessa introdução, disse o que ouviríamos:
-Vamos tocar “Modinha”, que ele compôs para fagote e nós, facilmente, adaptamos para violoncelo.
Depois, Sérgio anunciou que o programa seria acelerado para que escutássemos mais gravações.
-Alexandre Schubert, um jovem compositor, fez para nós, especialmente, “Duo”, com três partes: jovial, lento e vivo.
-Apesar do nome Schubert, ele é jovem. - esqueceu o Sérgio a aceleração que pedira, para não perder a piada.
Depois da gravação, elogiou a versatilidade dos irmãos que gravaram até os Beatles.
-Vamos ouvir “Eleanor Rigby”.
Bem, George Martin, o quinto Beatle, tinha formação clássica, por isso, a nosso ver, a canção soou tão bem aos ouvidos, como outras do quarteto de Liverpool soariam.
 Rádio Memória chegava ao final. Sérgio Fortes exultou:
-Um luxo! O Jonas Vieira não sabe o que perdeu.
Nos agradecimentos, o clima ficou ainda mais descontraído quando o Sérgio Fortes informou que os irmãos também são excelentes cozinheiros, que trariam um mimo comestível para ele, mas que a esposa de um dos gêmeos não deixou, infelizmente, que trouxessem. Se tivessem trazido, Sérgio se lembraria inevitavelmente do glutão Dieckmann e modificaria sua frase:
-Dieckmann, você não sabe o que perdeu.




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