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quarta-feira, 10 de julho de 2013

2415 - ganhei no milhar


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4215                                   Data:  23  de  junho de 2013
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O SABADOIDO SEM PASSEATA

-Daniel, nada contra o Tahiti, os jogadores são de uma simpatia contagiante, mas por que eles participam da Copa das Confederações?
-Porque eles são os campeões da Oceania?
-Espere lá, eles não tem futebol para ganhar da Austrália.
-Carlão, a FIFA é tão poderosa que colocou a Austrália na Ásia, ela disputa as eliminatórias da Copa do Mundo, agora, na chave do Japão.
-Sei que ela é poderosa, Daniel. A FIFA manda hoje mais no Brasil do que o FMI em anos passados.
-Nesse instante, o Claudio interveio:
-A FIFA colocou Israel na Europa, ela disputa a ida para o Brasil, em 2014, na chave de Portugal, Rússia...
-E Portugal sofreu para empatar com Israel por 3 a 3, o gol do Coentrão foi no último apito do juiz. - atropelou-o com sua fala o Daniel.
-Nesse caso, a FIFA está certa. Já imaginou partidas da seleção de Israel contra Irã, Iraque?...
-Não seria a primeira guerra a começar num estádio de futebol. - lembrei o jogo Honduras e El Salvador de 1969.
Daniel se levantou da cozinha informando que iria sair do carro e o tema entre mim e o Claudio passou a ser os filmes em cartas na TV a cabo.
-Abriram os canais da HBO na NET para degustação.
-Eu sei, Claudio, mas isso não me empolga. Há alguns meses que a qualidade dos filmes programados pela HBO caíram de qualidade. Quando quero ver um bom clássico do cinema, compro pela NET, não demora mais de cinco dias para chegar o DVD. Ontem mesmo, comprei “Uma Noite na Ópera”, dos Irmãos Marx.
-Nas Lojas Americanas do Norte shopping, você encontra bons filmes e bem mais baratos.  Acham-se lá também filmes lançados há pouco tempo, como “Lincoln”.
-Bem lembrado, Claudio; ainda não vi.
O telefone tocou, era o Vagner. Meu irmão pediu que aguardasse mais quinze minutos para aparecer no Sabadoido.
Em seguida, ergueu-se da cadeira com um pacote de painço na mão e foi para frente da casa alimentar as rolinhas. Peguei o Globo, com os cadernos do jornal espalhado pela mesa e passei a ler.
Daniel passou pela cozinha com a rapidez de um atleta jamaicano, mas como a sua velocidade ainda não era maior do que a do som, ouviu-me perguntar-lhe se ia a alguma passeata.
-Irei à da semana que vem.
As notícias e comentários sobre as manifestações populares contra o poder legislativo e executivo tomavam o espaço de quase que todo o jornal. Distraí-me tanto na leitura, que não ouvi que as vozes do Claudio, do Vagner e a do Luca já soavam há algum tempo. Fui para mais uma sessão do Sabadoido, e lá me assustei ao rever a muleta do Luca.
-O que houve?
-Deixa-me acabar de contar isso, e depois eu passo para as desgraças.
O velho clichê: uma notícia boa e uma ruim. A notícia boa, que contava, era que ganhou uma bolada no jogo do bicho. Mostrou o resultado de duas extrações e sabatinou meu irmão.
-Claudiomiro, por que joguei nesses números?  Claudio não queimou as pestanas, pelo contrário, respondeu sem pestanejar.
-Porque 19/06/1944 foi o dia em que o Chico Buarque nasceu e ele aniversariou esta semana.
-Acertou, Claudiomiro.
Em seguida, Luca contou os malabarismos que fez com os algarismos da data de nascimento do seu compositor preferido, cercando, invertendo, etc, para ganhar, nas duas vezes que jogou, mais de 3 mil reais.
-Papai dizia que os bicheiros iam matá-lo de tanto que você ganha. - lembrei. - disse.
-O pai sempre foi exagerado. - criticou o Claudio.
-Você sabia desse comentário do meu pai, Luca?
-Sabia, Carlinhos.
Agora, a notícia ruim:
-Estou com uma fratura por stress. - disse, envolvendo com a mão a perna direita.
-O que houve com o outro pé? - mostrei apreensão ao notar que o seu sapato mal continha o seu pé.
-Está inchado.
E narrou o seu problema:
-Com dores na perna, fui tirar uma radiografia, no Pasteur, e o médico disse que o caso era para exame de imagem. Feito o exame, ele diagnosticou fratura por stress. Eu confesso que me espantei.
-Por stress, doutor?!... tentou reproduzir a sua perplexidade.
-O Dedé, quando jogava no Vasco, teve uma fratura por stress. - manifestei-me.
-Ficou muito tempo parado? - interessou-se.
-Mais de um mês.
A minha resposta o deixou um pouco desolado, mas prosseguiu na sua narrativa.
-O médico queria me imobilizar ali mesmo, mas eu lhe disse que vim dirigindo.
Certo, era uma boa desculpa, mas havia certa rebeldia da sua parte, pois não engessou a perna posteriormente. - pensei sem me manifestar.
-Depois do atropelamento, fiquei com uma perna mais curta do que a outra. Há cinco anos que eu jogo o peso do meu corpo nesta perna. Isso provocou a fratura por stress na perna sobrecarregada, por isso, voltei a usar a muleta.
-Você ainda faz caminhadas?
-Carlinhos, eu só tenho jogado, atualmente, pingue-pongue.
-Depois que o Gordo me inscreveu na Associação Atlética Banco do Brasil, eu tenho jogado muitas vezes por semana, fui até ranqueado.
-E tem vencido o Gordo?
-Claudiomiro, não há muita lógica naqueles resultados. O mesatenista que ganhou do Gordo perdeu para mim, enquanto eu perdia para o Gordo, e por aí vai.
-E continua segurando a raquete como caneta? - quis saber meu irmão, enquanto o Vagner seguia a conversação com olhares irônicos.
-Jogo como caneteiro há 50 anos e não dá mais para mudar. - enfatizou.
E prosseguiu:
-Sei que fico com menos recursos segurando a raquete assim, mas é um vício que não sai mais de mim. E há jogadores lá de 15 anos, eu tenho 68.
-Esses jogos de pingue-pongue contínuos contribuíram muito para essa fratura por stress. - observei.
Veio-me, então, à mente um documentário sobre Cassius Clay que, depois de derrotar George Foreman, na África, prosseguiu com o boxe mesmo depois da chegada do peso dos anos. Um jornalista, que não era o Norman Mailer, citou, então, o filósofo Nietzsche:
-Se você não destrói aquilo que ama, aquilo que ama o destruirá.





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