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quinta-feira, 25 de agosto de 2022

3130 - Prêmio de consolação (R)

 

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O BISCOITO MOLHADO



               Edição 2242                          Data: 14 de Janeiro de 2005       

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 AS GAFES NO OSCAR

                         

Depois das gafes dos filmes, propriamente ditas, passemos para as gafes cometidas nas entregas do Oscar. Nós não somos muito inclinados a assistir a essas premiações de Hollywood, por isso a relação da maioria das gafes por nós aqui apontadas foram retiradas de jornais. Vimos alguns Oscar no tempo em que a Bibi Ferreira fazia a tradução simultânea (uma lástima, segundo os caçadores de gafes interlinguístiscas). E depois, paramos de ver a denominada festa máxima do cinema.

Depois de uns anos sem a nossa presença diante da televisão, voltamos a nossa atenção para a entrega das estatuetas, porque a mesma não seria transmitida pela TV Globo, e sim pela TV Record. Era o ano da premiação da Lista de Schindler. Nossa vã esperança de melhora na programação logo se dissipou com os comentários de uma idéia do locutor Boris Casoy:

- “É ótimo que filmes como a ‘Lista de Schindler’ apareçam nesse momento em que os neonazistas colocam a cabeça de fora na Europa”.

Só faltava o “Isso é uma vergonha” para arrematar a fala do locutor. Em determinado momento da festa de Hollywood, surge no palco a Deborah Kerr – estava ela diferente daquela Deborah Kerr que foi beijada pelo Burt Lancaster no filme “A um passo da eternidade” em pelo menos oitenta mil calorias. Foi quando o Boris Casoy resolveu esquecer a “séria ameaça dos neonazistas” na Europa para interromper um comentário do Rubens Ewald Filho:

- “Ela ainda guarda a beleza dos tempos passados”.

- “Bem, Boris, a beleza dela agora...” - não ficava bem para o comentarista de cinema convidado pela TV Record discordar do anfitrião, mas as nuances na voz do Rubens Ewald Filho disseram tudo.

No ano seguinte, as Organizações Globo resolveram pegar de volta a transmissão do Oscar. Bem, sem o Boris Casoy, a transmissão só poderia melhorar e nós insistimos em ver mais uma vez a premiação máxima do cinema.   Era o ano do filme do Walter Moreira Salles, “Central do Brasil”, concorrer como o melhor estrangeiro. Também houve uma espécie de comoção nacional quando indicaram a Fernanda Montenegro para disputar o Oscar de melhor atriz com talentos internacionais, como Meryl Streep e Cate Blanchett.

Bem, não tínhamos Boris Casoy, mas tínhamos Arnaldo Jabor entre a festa em Los Angeles e os espectadores no Brasil. Com o clima de favoritismo criado para o filme italiano “A Vida é Bela”, que se tornou praticamente em vitória certa quando Hollywood convidou a Sofia Loren para entregar o prêmio de melhor filme estrangeiro, Arnaldo Jabor perdeu o senso de medidas. Antes da premiação, já na sua crônica do Globo, arrasou o filme de Roberto Benigni, que transformara, segundo as suas palavras, um campo de concentração nazista em parque temático. Na transmissão, propriamente dita, a bílis do torcedor fanático e frustrado do Central do Brasil, transbordava. Em dado momento da festa, Robin Williams foi focalizado pelas câmaras americanas com um sorriso de satisfação pela vida que Arnaldo Jabor, certamente ofendido com tanta felicidade, retrucou com azedume na voz:

- “Esse aí não passa de um canastrão...”

- “Caramba, e ainda não anunciaram ‘A Vida é Bela’ como ganhadora do Oscar...” - imaginaram, certamente, o Roberto Machado e o Rubens Ewald Filho, aqueles que se encontravam mais próximos da fera que salivava ódio, nessa reportagem da TV Globo.

Para encurtar essa história que todos se recordam, sem a menor dúvida, no dia seguinte, a atuação do Arnaldo Jabor era mais comentada na cidade do que a dos próprios artistas que receberam o Oscar, ou o perderam injustamente. Ele, o Arnaldo Jabor roubara o espetáculo.

- “Rapaz, você viu ontem, na entrega do Oscar, o Arnaldo Rancor?...” - perguntavam uns.

- “Você viu o Amargo Jabor?...” - perguntavam outros.

- “Amargo Rancor...” - resumiu em duas palavras o irmão de uma colega nossa de trabalho a noite em que se premiou ‘A Vida é Bela’ em vez do ‘Central do Brasil’.

Tudo bem que o Roberto Benigni guarda umas semelhanças com o paspalhão do Didi Mocó, mas “A Vida é Bela” até que é um filme razoável.

O momento da festa de Hollywood em que o Arnaldo Jabor deveria manifestar-se, no nosso entender, ele calou-se para sempre, foi quando a Gwyneth Paltrow no seu discurso de melhor atriz, no filme “Shakespeare Apaixonado”, reverenciou Meryl Streep usando as outras concorrentes para isso:

- “Você, que é a melhor de todas nós...”

Ora, sabia ela por acaso o que já fez a Fernanda Montenegro em matéria de representação?... Bem que o Rubens Ewald  Filho já vinha, com ironia, chamando a Gwyneth Paltrow  de “branquinha aguada...”  

Bem, como diz o ditado popular “Em festa de jacu, inhambu não entra”. O fato de os inhambus brasileiros entrarem na festa do Oscar de 1999, já foi uma façanha; querer, depois de tanto, ainda sair com o prêmio, só na cabeça do Arnaldo Rancor...ou Amargo Jabor...


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