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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

2795 - a pontualidade da Banda de Ipanema


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5045                                Data: 10   de  fevereiro de 2014

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A BANDA DE IPANEMA VAI AO RÁDIO MEMÓRIA

PARTE II

 

Antes do calendário, antes de soar a voz do Sérgio Fortes e do convidado do programa, antes de o Dieckmann se levantar da cama, Jonas Vieira brindou os ouvintes com aquela que é, provavelmente, a mais melódica composição de carnaval.

Vocês se lembram do sucesso do Francisco Alves dos anos 40, “Dama das Camélias”?

Depois, gabou-se com a sua escolha:

-Desculpem ouvintes, nós entramos arrasando.

-Modéstia á parte. - marcou presença o Sérgio Fortes.

-É de uma beleza fora do comum: Alcyr Pires Vermelho e João de Barros, o Braguinha.

E prosseguiu o Jonas Vieira:

-Dois grandes amigos meus, principalmente o Alcyr, um melodista extraordinário. Era danado de rabugento; brigou com o Francisco Alves.

Referia-se, agora, ao programa desse domingo.

-Pois muito bem; nós estamos fazendo um programa carnavalesco, não é isso, Sérgio Fortes?

-Exatamente, com um convidado especialíssimo, uma figura do carnaval do Rio de Janeiro.

-Um dos promotores do carnaval.

Sérgio Fortes verteu a expressão do Jonas Vieira para o inglês: “promoters”.

-Estamos falando de quem? - levantou a bola.

E o Sérgio cortou numa jogada bem ensaiada:

-Claudio Pinheiro.

-Você está bem, Claudio Pinheiro, veio a pé ou veio de trem?- reviveu o titular do programa o Chacrinha, que era carnavalesco todos os dias do ano.

O convidado saudou a todos, e Sérgio Fortes retomou a palavra:

-Ele é o dono da Banda de Ipanema. Como é democrático, não deve se considerar dono.

De novo o Jonas Vieira:

-Ele e o irmão fundaram a Banda de Ipanema, o saudoso amigo Albino Pinheiro, companheiro de chope, tomamos muito chope juntos. Ele era um bom copo.

-Albino era bom?

-Puxa!... a exclamação do Jonas transmitia a ideia de que ele bebia pantagruelicamente.

Veio, então, o calendário, de que já tratamos em exemplar anterior.

-Nós conversamos com o Claudio Pinheiro, mas, antes disso, vamos ouvir “Que Rei Sou Eu?”, de Herivelton Martins e Valdemar Ressurreição com Francisco Alves.

Depois da gravação, voltou o Jonas Vieira:

-Segundo as más línguas, essa composição foi inspirada no próprio Francisco Alves, que era o rei da voz e que, segundo a música, não era rei, não tinha rainha, não tinha nada. Essa composição fez um enorme sucesso.

Voltou-se para o convidado em seguida:

-Meu querido Claudio, como vai a Banda de Ipanema?

 O convidado respondeu que ela ia muito bem, firmando a alegria das ruas, o melhor da música brasileira carnavalesca e acentuou que a cada ano novas músicas são carnavalizadas para posterior incorporação no seu repertório.

-Quantos figurantes mais ou menos?

-O coração da Banda, constituído pela sua direção e os músicos, é cerca de 80 pessoas; há mais o pessoal de apoio, aqueles que se incorporam ao curso de cada um dos desfiles, os amigos que chegam, dão bom dia e boa tarde e vão ficando; no final, são dezenas de milhares de pessoas. A gente tem o especial orgulho de considerar cada componente, cada cidadão presente, um protagonista da festa.

Arrematou dizendo que quem faz a grande festa é o povo carioca.

-Você e seu irmão Albino fundaram a Banda? - indagou o Jonas Vieira.

-Juntos com outros amigos; listados, foram 130 no início de fevereiro de 1965. No primeiro desfile, compareceram 30 e poucos, desses 130. Fundadores mesmos foram aqueles que se incorporaram à Banda de Ipanema nos seus primeiros anos. Cada um deu a sua contribuição, formou e formatou a Banda de Ipanema tal qual é até hoje, guardando e preservando as suas cláusulas pétreas de som direto e pé no chão. Não tem carro de som, não tem corda, a entrada é livre, a saída é livre, um grande espaço democrático que a gente faz questão de caracterizar apenas dessa forma.  A Banda de Ipanema não aceita qualquer rótulo diferente disso.

E concluiu afirmando que ela foi assim nos seus primeiros 50 anos e será assim nos próximos 50 anos.

-Jonas, antes do início do programa, conversei com o Cláudio, e a conclusão é a seguinte: é uma operação de guerra a saída da Banda de Ipanema.

-É evidente. - pontuou o Jonas Vieira.

Sérgio Fortes continuou:

-Ele, quando relacionava todos os detalhes, despesas, muitas despesas, coisas que ficam sob a responsabilidade dele, ocorria-me uma coisa: o Cláudio, que organiza isso tudo, era um nome para a presidência da Petrobras.

-Para o Ministério da Fazenda. - acrescentou o Jonas.

-Quem organiza a Banda de Ipanema preenche todos esses requisitos. Não o chamaram, Cláudio? - quis saber o Sérgio Fortes.

-Estou na fila. - não perdeu a oportunidade para uma piada que provocou risos de todos.

-Olha que fila! - pegou o Jonas carona na piada.

Cláudio Pinheiro se tornou mais sério:

-É outro tipo de fila. É uma capacidade de organizar e de desorganizar ao mesmo tempo, porque a Banda de Ipanema superorganizada não dá. Tem de haver um pouquinho de desorganização, é desejável até.

-A Petrobras já chegou a contribuir com a Banda? - foi a pergunta pertinente do Jonas Vieira, haja vista as contribuições dessa empresa para os eventos culturais.

-Quando o Albino faleceu, em 99, a Petrobras nos ofereceu as camisas da Banda. Na época, foram desenhadas pelo LAN e o Chico Caruso. Limitou-se a esse ato de benemerência e parou por aí, infelizmente.

-Só aquele ano? - perguntou o Sérgio Fortes.

-Tudo com nota fiscal. - enfatizou o Claudio Pinheiro.

No atual contexto de pilhagem dos cofres da Petrobras, a ressalva feita com ênfase era mais uma piada de provocar risos.

Depois da descontração, o clima se tornou mais sério. Cláudio Pinheiro salientou o extremo cuidado que eles têm de respeitar todos os compromissos assumidos desde a largada da banda.

-Somos extremamente pontuais, porque entendemos que a pontualidade implica uma sucessão de compromissos que vêm logo além. É um efeito dominó, se nós nos atrasamos, prejudicamos os amigos e outras instituições. A última saída nossa foi, pontualmente, às 5h 30min, e voltamos às 9h 30min da noite. São 4 horas exatas que constitui o limite acordado com a Prefeitura.

-Então, Cláudio, não é a Banda de Ipanema, é a Banda Inglesa.

Depois das risos provocados pela piada do Jonas Vieira, ele concluiu:

-Eles é que têm de se espelhar na gente para serem pontuais.

 

 

 

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