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quinta-feira, 6 de junho de 2013

2402 - Hortelino foi à guerra


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4202                            Data:  05  de Junho  de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA
ANTES TARDE DO QUE NUNCA
2ª PARTE

Jonas Vieira fez uma menção aos convidados ausentes e Sérgio Fortes nomeou um deles, Luzer, e justificou sua ausência: participaria  com a Orquestra Sinfônica Brasileira do projeto Concerto para a Juventude no Teatro Municipal. A hora – informou - 11h da manhã e o preço era simbólico, 1 real. Esperava que todos comparecessem.
Em se tratando de concertos domingueiros matinais, descobri no you tube uma exibição do Beniamino Gigli no Teatro João Caetano, às 10 horas e 30 minutos, com transmissão  da PRF 4 - Rádio Jornal do Brasil. Correspondendo ao imenso amor que o povo brasileiro lhe dedicava, o tenor com  a voz mais bela do século XX encontrou uma brecha na sua agenda nesse horário. Pelos aplausos que recebia a cada ária que cantava, notava-se que o teatro estava à cunha, como escrevia Camilo Castelo Branco e outros autores do século XIX.
Jonas Vieira aludiu às obras primas da música popular brasileira e exemplificou com a composição de Ernesto Nazareth, “Bambino.”
-Catulo da Paixão Cearense, muito sabido, colocou letra. - comentou.
Sabido até de mais - acentuamos nós.  Tentou pôr em prática o que dissera Heitor dos Prazeres: “Música é que nem passarinho, é de quem pegar primeiro”. Assim, tentou se apossar da música de João Pernambuco, violonista admirado por Villa Lobos, em que pôs os versos do “Luar do Sertão.”
Conta Medeiros de Albuquerque que Catulo da Paixão Cearense, ao ver Alberto de Oliveira, considerado um dos três maiores poetas parnasianos, juntamente com Olavo Bilac e Raimundo de Oliveira, apresentou-se como colega.
-Colega?... Você também é farmacêutico?- devolveu Alberto de Oliveira.
Apesar desses deslizes, escreveu letras inspiradas e a que fez para “Bambino” foi adjetivada pelo Jonas Vieira de “pomposa”.
O cantor era mais um daqueles que o titular do programa ressuscita, pelo menos para mim e que surpreendem pela bela voz: Zé Carlos.
Depois de ouvida a gravação, Sérgio Fortes enalteceu a participação de Dino Sete Cordas, ídolo de virtuoses do violão como Rafael Rabelo.
É um engano julgar que tudo é pretérito no Rádio Memória, há momentos em que se fala do presente com o objetivo de se preparar o futuro. Aliás, sem incorporar o passado ao presente não se chega a um bom futuro. Temos de aprender a conjugar os verbos em todos os tempos.
Isso posto, que mais parece uma segunda pausa para meditação, vamos adiante. O tema atual, que é sempre comentado nesse horário, foi a maioridade penal.
Mas voltemos às músicas.  Com o ânimo de quem já esquecera a derrota do Fluminense para o Olímpia, Sérgio Fortes se reportou a uma canção do filme “Candelabro Italiano”. Recordou o extraordinário sucesso que esse filme alcançou com Troy Donahue, Suzanne Pleshette, Angie Dickinson e Rossano Brazzi. Sem sair dos bons tempos, afirmou que foi o primeiro filme a que assistiu com 18 anos de idade, legalmente, pois os que vira, até então, não o foram (no meu caso, o único filme proibido em que me impediram de entrar no cinema, quando “dimenor”,  foi “E deus criou a mulher”).
Para tanto, recordou o tricolor, rumou para o Cine Rian, de calça Lee branca, sapatos do Moreira da (*) Silva (se fosse do André Victor Correia certamente escorregaria) e camisa da moda.  Imaginou – disse – que conquistaria todas as mulheres com que se deparasse, mas nada fora da rotina aconteceu.
Para o consolo do nosso amigo, confesso que, além dos meios que ele usou para conquistar as mulheres, cultivei topetes dos maiores galãs do cinema, até mesmo do Troy Donahue e também não consegui fazer carreira de Casanova.
Quanto ao filme, de fato, o sucesso foi tamanho, que até inspirou um dos mais infames trocadilhos já perpetrados: cão de lábio italiano.
A música era “Al Di La” e ele pediu a gravação com o trompetista Al Hirt, sem deixar de citar que Connie Francis a cantou. Essa alusão à Connie Francis reportou-me ao Pasquim, em que um gaiato (não me lembro qual) referindo-se ao estupro que Connie Francis sofrera, disse que ela cantava tão mal, que o estuprador fez justiça.
Depois do trompete de Al Hirt, soou uma voz que não nos era desconhecida. Era a voz do Dieckmann. Com apenas 45 minutos de atraso, para um programa de 60 minutos, ele chegou. (**)
Antes tarde do que nunca.
E pensar que o Dieckmann, como chefe, no Departamento de Marinha Mercante, instituiu reuniões todas as segundas-feiras, às 8h 30min da manhã, com vaias para quem chegasse atrasado.
Sem constrangimento, pelo contrário, pimpão como o Sérgio Fortes quando assistiu “Candelabro Italiano”, comentou o triângulo amoroso do filme e concluiu com uma risada:
-O Rossano Brazzi dançou.
No clima de alegria, Jonas Vieira me surpreendeu com outro bom cantor que eu desconhecia, Luís Cláudio. Conhecido seu, vive em Guaratinguetá, depois de largar a vida artística e seguir a arquitetura, ou seja, fez o caminho inverso de Tom Jobim, Chico Buarque e outros menos votados.
A gravação, segundo o Jonas Vieira (tomo o máximo cuidado para não trocar o seu sobrenome), é de 1955. Era uma valsa intitulada “Folhas Soltas”.
Encerrada a música, sobressaiu a voz do Dieckmann que, como dizia a Marilyn Monroe sobre os atrasos dela: “Erro a hora, mas não erro o dia”
-A música que ouvimos, pelo seu andamento, pelo som de acordeon, lembra as músicas de Mon Oncle (Meu Tio), de Jacques Tati.
E prosseguiu:
-Trata-se de uma valsinha...
E logo se corrigiu:
-Valsinha é coisa do Vinícius. Valsa.
Por incrível que pareça, na composição “Valsinha”, Chico Buarque ficou encarregado das palavras e Vinícius de Moraes das notas musicais.
-E você Dieckmann? - passou-lhe a bola o titular do programa.
-Eu trouxe...
Dieckmann colocou tanta ênfase nessas duas palavras que os ouvintes, como eu, esperaram um samba inédito do Noel Rosa ou uma raridade do Pixinguinha, ou mesmo a décima sinfonia de Beethoven completa. Mas não foi uma má escolha: Madalena do Ivan Lins.
Disse que o compositor não lhe agrada muito, mas que estava inspirado nessa canção. O nome da cantora deixou para depois, como surpresa.
Timbre, swing, sotaque deixaram claro quem era a intérprete.
-Queridos ouvintes, vocês ouviram “Madalena”, com Ella Fitzgerald. Quero que todos saibam que tomei contato com essa gravação no fabuloso bar “O Ponto da Cerveja”, em Porto Alegre.
Caramba, mesmo atrasado, o Dieckmann quer se apossar do programa.
Para encerrar o Rádio Memória, Jonas Vieira recorreu a um sucesso do carnaval de 1948, de Aníbal Silva, Éden Silva e Noel Rosa de Oliveira, regravado pela Elza Soares: “Falam de mim.”.
-Se eu soubesse, teria trazido a minha fantasia de Arlequim. - não perdeu a piada o Dieckmann.
Por que não a fantasia de Pierrô?... Porque ele, diferentemente do Rossano Brazzi, não samba nos triângulos amorosos. (***)
Quanto a Noel Rosa de Oliveira, com o samba “Chica da Silva”, de 1963, transformou-me em Salgueirense.
Num clima de confraternização, encerrou-se mais um Rádio Memória.

(*) Moreira da Silva foi um cantor. O sapato sob medida do Sergio Fortes era do Moreira.

(**) O Dieckmann ficou uma arara com essa afirmação. Disse que até processaria o redator, o jornal e este modesto Distribuidor, por divulgarmos notícias sem verificação. A versão da irada ex-Autoridade Marítima é que o Sergio Fortes o convocou para a gravação às 13 horas e que ele chegou no estúdio 20 minutos antes, como lhe é peculiar comparecer antes de hora marcada,  quando ainda estava rolando o Al Di La.

(***) Nessa, não deu para segurar o Dieckmann, vai dar processo de difamação.



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