O BISCOITO MOLHADO
Edição 5349 FM
Data: 1 de fevereiro de 2018
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXV
OS DIREITOS DA MULHER
Neste
6 de fevereiro completam-se 100 anos desde quando as mulheres britânicas
iniciaram uma campanha pelo direito de votar, fato que provocou verdadeiro efeito cascata em muitos países e ondas de protesto em reação,
tornando a campanha muito difícil. A história registra perseguição policial,
centenas de prisões de líderes que saíam às ruas para protestar e até a
ocorrência de morte, como a de uma das líderes – Emily Wilding, que invadiu a
pista do Derby de Epsom, a mais famosa corrida de cavalos do mundo, para abrir
uma bandeira durante uma prova. Foi atropelada e morta pelo cavalo do rei
George V. Outra, Kitty Marshall,
foi presa por atirar uma batata na janela de Winston Churchill, ministro do
Interior na época, contrário ao voto feminino. O ministro enfrentava até mesmo
sua esposa, que era a favor das feministas. Churchill mudou de ideia e votou a
favor do voto. As campanhas foram
incansáveis, em que muitas mulheres, para conseguir seu objetivo, fizeram
marchas de peregrinação pelo país em 1913 enfrentando fome, doenças e a reação
popular, que as recebia com
pedras, ovos podres e até ratos mortos.
Problemas se sucederam ao longo dos
anos, até que o direito do voto feminino fosse alcançado - em 1918 estava cria
a primeira onda do feminismo. seguiram-se outras manifestações de libertação das amarras da opressão
machista. fatos que têm ligações diretas com as conquistas de hoje, como os
protestos de famosas estrelas de cinema norte-americano, que usaram luto em
sinal de protesto como parte de uma ruidosa campanha, em que surgiram centenas
de denúncias contra assédio sexual
por parte de poderosos senhores ligados à indústria do cinema. Os resultados
foram a desmoralização de muitos desses prepotentes dirigentes de empresas. Foi
a onda do “Time`s up”. O grito absoluto de dizer “Chega!”,que ganhou
notoriedade em todo o mundo. Da história iniciada pela campanha das chamadas
sufragistas (as “suffragettes”, termo pejorativo usado pela imprensa inglesa
para ridicularizar as lutadoras pelos direitos femininos, e inteligentemente
assumido por elas).
Esqueça-se a imagem do homem das cavernas arrastando sua parceira
pelos cabelos, tão explorada pelos desenhos, pois historiadores afirmam que
essa visão nada combina com o real papel feminino, desde a Pré-História. As
mulheres, constataram, tiveram participação real positiva, mais do que se
imaginava. Em culturas de várias civilizações dizia-se que as mulheres eram
tidas como “deusas”, por serem fertilizadas por intermédio divino, tinham
poderes mágicos, o dom da vida, sua fecundidade fazia-lhes também fecundar a terra. Teriam sido até mesmo
as criadoras do Universo. Eram seres privilegiados e até respeitados pelos
machos, que as conservavam para a procriação. Ao longo dos anos, acreditava-se
que as mulheres contribuíam apenas com o corpo como objeto da fertilização,
pois cabia ao homem, com seu
sêmen, esse privilégio, até que as descobertas científicas já no século XIX.
Por volta do ano de 1870, pesquisadores comprovaram haver a participação
feminina na formação de nova vida. Cabe à mulher, com o óvulo, participar da
formação de um novo ser, pela união com o espermatozoide masculino.
Há mais de cinco mil anos
antes da era cristã, quando a História começou a ser escrita, estudos
arqueológicos, paleontológicos e históricos foram encontrados, revelaram
vestígios de que as mulheres tiveram papel ativo nas atividades da caça. Com o
advento da agricultura, dedicavam-se à coleta de raízes e frutos comestíveis,
com o que ajudavam na vida doméstica. Do período foram encontrados estatuetas,
pinturas e objetos que mostravam a mulher como um ser sagrado e protegido,
vigiada e guardada de possíveis interessados, que se aventuravam nas disputas.
A partir daí, começava a repressão, perderam elas o pouco que lhes era concedido
pelo homem, seu protetor, dono e senhor. À mulher cabia a procriação, os filhos
eram necessários para ajudar no trabalho de sobrevivência.
No Egito Antigo, as mulheres
tinham status privilegiado em comparação com outras civilizações. Quando
casadas, podiam intervir na gestão do patrimônio familiar, na relação do
trabalho cuidavam da tecelagem,
competindo-lhes tosquiar as ovelhas e tecer a lã, trabalhavam na coleta do
trigo, faziam a farinha e a massa
do pão. As mais pobres cuidavam das obras de construção pública. A civilização
romana considerava o casamento e a família como uma das instituições centrais
da vida social. Em torno delas
foram estabelecidas três virtudes: as grávidas, pelo sentindo de responsabilidade;
a de obediência à autoridade e, a terceira, a que impedia que os romanos fossem
guiados pela emoção, cabendo-lhes sempre
observar o caminho da razão. A religião e o culto aos deuses era o
lastro desta instituição, cujo poder “de vida e de morte” era exercido apenas pelo pai sobre os filhos,
os escravos e as mulheres. Nos últimos séculos antes da era cristã, a
flexibilização das leis deu maior
liberdade e maior participação na vida pública às mulheres. No período,
predominava na Grécia o ponto de vista masculino. As mulheres não tinham acesso
à cultura, desvalorizava-se tudo que lhes dizia respeito, inclusive a beleza.
As mulheres eram vistas apenas como receptoras do sêmen masculino, não eram
consideradas cidadãs, a cidadania era transmitida aos filhos.
Milênios se passaram,
mudanças sociais foram ocorrendo, a mulher continuou sendo apenas objeto,
subjugada, escravizada, espancada (desde que não lhes quebrassem os ossos). Na
era medieval, a Igreja católica considerava a mulher como objeto do pecado (tinha
como referência o pecado original cometido por Eva). A mulher era tida como a
porta de entrada para o demônio, exceto quando ainda era virgem, mãe ou quando
vivia em conventos. Tornou-se uma época de grandes perseguições, a mulher era
caçada como “bruxa”, que eram
serem criados pelo Demônio. foi quando a Igreja instituiu o Santo Ofício,
exerceu intenso poder de perseguição aos rituais pagãos. Milhares de mulheres foram torturadas,
queimadas em fogueiras públicas. Além da fogueira, mais grave era a ameaça do
“Fogo Eterno” do inferno,
tortura de suas almas.
Conceitos foram mudando,
sem que coubesse às mulheres poder alterar sua condição de “inferioridade”.
Chega-se à época moderna, tudo está passando por transformações, o casamento
surgiu para controle social - apenas das mulheres, ao homem cabia a condição de
provedor da família. As conquistas sociais da mulher, em alguns países
ocidentais, foram limitadas, um dos maiores preconceitos foi e continua sendo
no mercado de trabalho. A despeito das discriminações, as mulheres continuaram
em busca de novas conquistas, deixando de ser submissas aos homens, embora
ainda levadas, por circunstâncias diversas, a ocupar-se primordialmente dos
afazeres domésticos e à procriação. Isso não lhes impediu de continuarem em
busca de direitos, de ter nova representação social, significativo
reconhecimento, mais independência, poderem revelar-se competitivas em todos os
níveis - sejam econômicos, sociais ou intelectuais.
Durante a II Guerra
Mundial, as mulheres passaram a substituir noivos e maridos no trabalho
profissional e, com o fim do conflito, retornaram ao lar, porém com nova
concepção de vida. Pela experiência terão ganho novos conhecimentos. Rápidas
mudanças ocorreram em todo o mundo, jovens rebelaram-se contra a “opressão” dos seus pais, criaram novo
estilo de vida, tornaram-se livres para decidir por si, tornaram-se “hippies”,
para o bem ou para o mal transformaram a sociedade. A virgindade deixou de ser tabu, o divórcio tornou-se comum,
a homossexualidade, prática normal desde a Antiguidade, quer feminina quer masculina,
a despeito dos críticos e opiniões retrógradas, passou a ser vista com
naturalidade, “os armários começaram a ser abertos”, as bandeiras coloridas
agitam-se ao vento, uma realidade dos novos tempos.
Depois de terem sido
reconhecidas biologicamente como iguais
ao homem, através de estudos científicos e do surgimento de novas técnicas, no começo do século XX, a
mulher sentiu-se mais integrada, o
que foi fundamental para que
mudasse seu destino. Entretanto, ressalte-se o grande e importante avanço
científico da modernidade, que terá sido o surgimento da pílula
anticoncepcional, em 1960, descoberta por acaso, nos Estados Unidos - os
cientistas tentavam descobrir um caminho para combater a esterilidade feminina,
quando ocorreu o fenômeno da Pílula.
O fato levou as mulheres a se apropriarem do seu corpo, das suas vontades, a
defenderem com mais liberdade suas preferências, passou a ser comum a troca de
parceiros, de acordo com seus desejos sexuais. Com a troca do papel que lhes
foi imposto ao longo de milênios, elas revolucionaram comportamentos, obtiveram
direitos legais jamais pensados, disputam com igualdade, mercê de suas
capacidades, postos importantes no mercado de trabalho, o que passou a ser
visto como fato normal na sociedade. Mesmo assim, continuam os resquícios de
submissão, ainda são vítimas da brutalidade machista, porém persistem na luta
em busca de novas conquistas, até
que se possam considerar definitivamente o ser igual. E essa igualdade segue
seu caminho, só o tempo dirá como será o seu futuro.
Sufragette faz omelete. rs
ResponderExcluirQuebrei muitos ovos e liguei muitas vezes para alguns canais de televisão para saber o que era "empoNderamento". Se viesse de ponderar, como ponderação, que recebeu o sufixo "ção", ficaria "emponderação".
Se viesse de poder deveria ser retirada a letra N e ficaria empoderamento. Sem o N, como algumas jornalistas famosas pronunciavam.
Foi-me explicado que a colocação do N seria um vício de pronúncia como no "muinto" em lugar de muito.
Creio que a natureza do vício estava a colocar a palavra certa no sufixo errado (?).
Acredito que a nossa necessidade seria mais de ponderar do que de exercer o poder.
O exercício do poder, na história da humanidade, pouco acrescentou à humanidade. Ao contrário, ajuda, ainda hoje, a destruí-la.
Creio que a "emponderação" ou emponderamento está a se fazer necessária neste feminismo tão bélico que anda por aí.
Mais ponderação. Menos poder.
Na teelvisão pede respeito quem menos jus fez a ele.
E ... a custa do nosso bolso.
Espero que muitas feministas leiam o Biscoito.
Verdadeira aula de História.
Conselho às militantes, creio que a palavra certa agora é ativistas:
ResponderExcluir- "Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio".
Mário Quintana.