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sábado, 20 de janeiro de 2018

3087 - SX um nome, uma bandeira, um hino



O  BISCOITO  MOLHADO
Edição 5347 SX                           Data: 20 de janeiro de 2018

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXIV


BUNDALELÊ


Está mais do que na hora de mudar o nome do país. "Brasil", definitivamente, não deu certo. Assim como não deram certo "Monte Pascoal", "Ilha de Vera Cruz" e "Terra de Santa Cruz".

"Brasil", devemos reconhecer, até parecia uma sacada inteligente. Inspirada na madeira que por aqui havia, e que se prestava a tingir tudo de vermelho. Só que perdeu o sentido insistir no nome. A quantidade de coisas que se pretende tingir de vermelho diminuiu assustadoramente. Camisas para a torcida do América, por exemplo, nem pensar. No futebol carioca o time rubro cai pelas tabelas. No sul do país, o Internacional de Porto Alegre acaba de fazer uma melancólica incursão na segunda divisão do campeonato brasileiro. Por outro lado, depois de treze anos de incompetência e desvios perpetrados à frente do país, é suposto que tenha diminuído em muito o número de militantes não aloprados do PT dispostos a se vestir de vermelho e manter viva a pregação do partido. Se é que os há.

Outro argumento, este definitivo, é o de que o pau-brasil simplesmente desapareceu. Por conta de uma exploração predatória praticada ao longo de séculos, não restou um vasinho da planta para que eu possa mostrar ao meu neto um exemplar dessa riqueza nacional. Consta que foi identificado o culpado por sua erradicação. Teria sido ele o trisavô do sujeito que deu sumiço às pesadíssimas vigas da Perimetral, desmontada na região portuária do Rio de Janeiro.

Para explicitar melhor nossa proposta, devemos começar reconhecendo que por aqui as coisas desde cedo caminharam muito mal. Pedro Álvares Cabral, o gajo que cá aportou em 1500, seria definido pela minha avó como um "doidivanas". Aqui chegou sem saber onde tinha chegado. Pode ser comparado a um sujeito que viaja do Rio a São Paulo fazendo uma escala em Salvador. Perdeu um monte de navios, boa parte de sua tripulação não chegou ao fim de sua aventura. Pero Vaz de Caminha, o "ghost writer" de Cabral, este sim, foi um precursor importante. Na primeira carta que escreveu ao rei de Portugal, foi logo apresentando um pedido de emprego em benefício de um familiar. Tradição até hoje mantida a ferro e fogo pela classe política brasileira, com destaque para o mensaleiro Roberto Jefferson.

Estabelecido que o país deve mudar de nome, passamos a enfrentar a tarefa de conferir-lhe uma denominação compatível com o que nele se vivencia nos dias de hoje.
Meu voto é "Bundalelê". Ideia que faz parte de um projeto bastante abrangente. Todo país que contar mais de trinta ministérios em sua estrutura de governo passa a se denominar, automaticamente, "Bundalelê". É certo que essa prática vai ser seguida por um bando de idiotas. Estará formada, assim, uma "commonwealth" da mediocridade. A ser liderada pelo país-membro que ostentar a mais bem provida lista de ministros desconhecidos, ineptos e envolvidos com pendências judiciais e falcatruas de toda ordem. Estamos legislando em causa própria, bem se vê.

Ninguém tem dúvidas a respeito do futuro glorioso de "Bundalelê". Preceitos econômicos seguidos pelos países que dão certo serão solenemente ignorados. Orçamentos, equilíbrio fiscal e controle da moeda serão identificados como preocupações de quem odeia pobre. O brilhante economista Milton Friedman, autor da frase definitiva do século XX - Não existe almoço grátis - será, como de hábito, considerado um idiota. Cuba e Venezuela permanecerão como exemplos a serem seguidos. Coréia do Sul? Tem tudo para não dar certo.

"Bundalelê" continuará a desprezar a Educação. A ideia é que ali continue a se estudar muito pouco. Países de ponta impõem jornadas de estudo pesadas. Diplomas em "Bundalelê" podem ser obtidos em casa, através do computador. Algo que ainda vai evoluir. Em pouco tempo eles estarão disponíveis também nas bancas de jornais e nas casas lotéricas.

Falta de moradias também é uma questão relevante que vai passar ao largo de "Bundalelê". Um imenso contingente de pessoas, em sua maioria jovens, está optando por deixar o país. Atraídos por oportunidades de trabalho ou aterrorizados pela falta de segurança que aqui impera. Cresce em progressão geométrica o número de latrocínios, sequestros, balas perdidas e arrastões. Pouca gente vai sobreviver a essa hecatombe. Sobrarão imóveis disponíveis para venda ou aluguel. "Bundalelê" encontrou uma fórmula super criativa de ajustar as demandas habitacionais de sua população.

"Bundalelê" também não vai perder tempo com a cultura. Orquestras sinfônicas continuarão a ser dizimadas, teatros serão fechados, ópera e ballet serão erradicados. A música se resumirá ao lixo propagado pelo Multishow. Nada além de sertanejo, funk e pagode. Crescerá, também, o número de artistas que terão suas carreiras re-lançadas a partir de anúncios bombásticos de suas novas opções sexuais. Sucesso garantido, com estrondosa cobertura da mídia.

Um país provido de tanta modernidade não pode permanecer ostentando um hino nacional quadrado e careta como aquele que foi produzido por Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada. "Vai Malandra", do fenômeno musical Anitta, passará a ser tocado em substituição ao "Virudum".


Para finalizar, há que se lamentar o fato desta crônica do "Biscoito Molhado" não poder anunciar de pronto o resultado do concurso promovido para a escolha da bandeira de "Bundalelê". Podemos informar, apenas, que Romero Britto e Beatriz Milhazes são os finalistas desse empolgante concurso. Britto concorre com uma criação em que predominam 49 cores berrantes, obra muito semelhante à que enfeitava o salão de jogos da casa de Sergio Cabral em Mangaratiba. A bandeira proposta por Beatriz Milhazes inclui diversas rodelas, lembrando as Toalhas Linholene que eram anunciadas nos intervalos comerciais da finada TV-Rio. 

7 comentários:

  1. Ainda tem muitas camisetas vermelhas sendo confeccionadas, infelizmente.

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  2. O Editor recebeu uma sugestão cabível para o novo nome: BUNDALELÉU, que junta o espírito do texto com o sufixo beleléu.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Creio que hoje estou meio "non sense". Esqueci o parágrafo em que dizia preferir não a troca do nome mas a construção de um novo país neste mesmo local. A capital, esta sim, seria Maracangalha.
    Pequena para não acomodar muitos políticos.
    Bom para o Caymmi, bom para mim.

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  5. Elvira está cheia de boas ideias. Creio que a ela incomoda, como também a mim, a certeza de que o Brasil anda de marcha a ré. Não sabemos nem mesmo seguir o exemplo de quem faz a coisa certa. No campo da economia isso é cristalino. Os políticos de antigamente eram Adauto Lucio Cardoso, Aliomar Baleeiro, Eurípedes Cardoso de Meneses, Carlos Lacerda e poe aí vai. Os partidos atuais não conseguem montar uma chapa. Seus integrantes têm prontuário. Dr. Octavio Gouvêa de Bulhões deixou o Ministério da Fazenda ao fim do Governo Castelo Branco. Poucos dias depois já estava ministrando aulas na UFRJ. Eu era seu aluno e fiquei super impressionado com isso. Ressalte-se que as aulas do Dr. Bulhões começavam às 7:10 da manhã. Alguma chance disso acontecer nos dias de hoje?

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  6. Cangalha, entre outros significados, nomeia a padiola que leva o miserável defunto que nada possui até a sua última morada. Mara, muito usado hoje em dia já substituiu maravilha. Ficaríamos então com um nome bem sugestivo para a capital de país que sonega aos seus cidadãos seus direitos mais básicos.
    Pelo menos o direito do indigente ser enterrado permanece.
    Mara!!!

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