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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

3015 - sem lenço e sem documento


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O BISCOITO MOLHADO
 

Edição 5264SX                                 Data: 12 de fevereiro de 2016

 

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXIII

 
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GÊNIO ATRAPALHADO


- Franz Peter Schubert! Extraordinário compositor!

- Perdão... Mas eu penso que não conheço o amigo...

-Certo... Certo... O senhor não me conhece... Permita que eu me apresente. Meu nome é Carlos Eduardo Nascimento. Muitos me conhecem pelo apelido de “Biscoito”. Isso porque sou o criador, diretor e redator - chefe de um jornal chamado “Biscoito Molhado”, que circula na Internet...

- Internet?

- Peço desculpas, Sr. Schubert, certamente o senhor não sabe o que é Internet...

-Realmente não sei, Sr. Biscoito. Posso chamá-lo por esse título que o senhor ostenta? Desconheço o que venha a ser essa tal de Internet. E ouso dizer que sou um sujeito bem informado. Afinal, durante muitos anos fui professor de uma escola que meu pai fundou nas proximidades de Viena. Essa matéria, que eu lembre, jamais foi lá estudada... A propósito, devo dizer que não gostaria de abordar esse período de minha vida. Eu só pensava em música... Dar aulas, para mim, significava um sacrifício terrível...

- Posso imaginar, Franz. Posso chamá-lo assim?

- Claro, Biscoito, fique à vontade. Mas, a que devo o entusiasmo do amigo? Frequentou minhas aulas?

- Não, Franz! Certamente não! Você nasceu em 1797. Minha passagem pelos bancos escolares só aconteceria século e meio depois!... Sou, na realidade, um ardoroso admirador de sua música! Eu e milhões de pessoas fascinadas por suas belíssimas composições.

- Biscoito, você me envaidece, mas ao mesmo tempo me surpreende. Confere-me um tratamento que só pode ser atribuído a um Mozart, um Beethoven...

- Extraordinários compositores, Franz! Certamente são dignos de minha imensa admiração. Mas o amigo também foi um dos grandes! Ainda que algumas circunstâncias tenham contribuído para que o reconhecimento de sua obra extraordinária tenha demorado a acontecer.

- Circunstâncias? Como assim?

- Por favor, Franz, não fique aborrecido comigo. Mas, já que você pergunta, permita-me comentar. Em primeiro lugar, vale observar que o amigo viveu muito pouco. Entre 1797 e 1828... São apenas 31 anos! É certo que, ainda assim, produziu uma obra vastíssima. Mas, o que teria feito se tivesse vivido 50, 60 anos?

- Não consigo nem imaginar... Lembrando que Mozart também teve uma vida breve. Morreu com 35 anos deidade...

- É certo que vivi pouco. Mas que culpa eu tenho?

- Nenhuma, Franz. É claro que... nenhuma. Mas os seus biógrafos apontam, além disso, mais uma série de problemas...
 
- De que tipo?

- Peço desculpas pela sinceridade, Franz. Mas os estudiosos consideram que durante muito tempo você foi subavaliado em relação à real dimensão do seu talento. O que teria decorrido da maneira descompromissada e até mesmo irresponsável com que o amigo teria conduzido sua atividade de compositor.

- Como assim?

- O que se diz é que você compunha como se estivesse em transe. Em qualquer lugar, a qualquer hora. Não dava a devida importância ao que produzia... Esquecia manuscritos em bancos de jardim, mesas de bares, casas de amigos...

- Excelentes amigos! Jamais permitiram que eu passasse dificuldades...

- Todos reconhecem isso, Franz. O problema é que essa falta de compromisso foi prejudicial ao reconhecimento de sua obra. Você tem conhecimento de que manuscritos importantíssimos de composições de sua autoria somente foram localizados muitos anos depois da sua morte? Dez anos depois do seu falecimento, o grande Robert Schumann encontrou em Viena o rascunho empoeirado da sua belíssima sinfonia em dó maior, conhecida como “A Grande”. Schumann levou essas anotações para Leipzig e a sinfonia foi estreada por Felix Mendelssohn. Sucesso extraordinário! Além disso, uma quantidade substancial de suas anotações foi localizada pelo grande pesquisador Sir George Grove, em 1867. Sem esse dedicado trabalho, jamais teríamos tomado conhecimento de um tesouro precioso!

- Biscoito, acho que em tudo isso existe certo exagero...

- Franz, vou provar que não existe exagero. O amigo ficaria chateado se eu descrevesse a situação de sua casa, por ocasião do seu falecimento?

- Prossiga...

- Pois muito bem. Os emissários da justiça que compareceram à sua modestíssima residência para fazer um levantamento dos seus bens calcularam que eles totalizavam míseros 63 florins! Uma enorme quantidade de preciosos manuscritos musicais foi avaliada em 10 florins. Alguns objetos domésticos e roupas muito usadas valeriam os demais 53 florins. Seu piano, Franz, não constou desse inventário. Ele era alugado, às expensas de um de seus dedicados amigos...

- Valores materiais... Valores materiais... Eu estava preocupado exclusivamente com minha música...

- Reconheço esse mérito, Franz. Mas você poderia ter tomado um pouco mais de cuidado! Por sorte temos acesso, nos dias de hoje, às mais de 600 canções que você compôs. Consta que oitenta delas colocavam música em textos de Goethe, a quem esse material foi encaminhado. Ele se pronunciou a respeito?

- Nada, Biscoito, nem uma palavra... Consta que teria feito umas poucas anotações à margem de alguns trabalhos... Meus amigos, sempre me prestigiando, atribuíram esse silêncio ao fato de Goethe não entender nada de música...

- Faz sentido, Franz, faz sentido. Mas esclareça, por favor, uma dúvida que sempre me atormentou. Qual a explicação para a sua “Sinfonia Inacabada”? Como você justifica não produzir o movimento que, segundo as convenções, deixaria a obra completa?

- Biscoito, finalmente você me propõe uma questão que estou apto a esclarecer! Fui diagnosticado com sífilis um mês depois de começar a trabalhar na sinfonia. Eu estava condenado! Não fazia sentido concluí-la...

- Bem entendido, Franz! Percebo que sua vida envolveu muitos problemas, muitas controvérsias. De qualquer forma, sinto-me agraciado com o conhecimento que tenho de sua obra. Seu ciclo de canções, por exemplo, mereceu gravações extraordinárias. Minhas favoritas envolvem o barítono Dietrich Fischer - Dieskau e o notável pianista Gerald Moore. Coisa dos deuses. Não canso de ouvir...

- Gravações? O que é isso?

 

2 comentários:

  1. FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO
    Psicografado por Sergio Fontes

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  2. Prezado Leitor, ainda que seu comentário não seja exatamente elogioso, nós do seu O BISCOITO MOLHADO, agradecemos a oportunidade de botar o gênio literário de Sergio Fortes no lugar e tamanho adequados.

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