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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

3012 - o pé de um na mão do outro


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O BISCOITO MOLHADO

 

Edição 5261L                                 Data:  02 de fevereiro de 2016

 

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BATENDO EM PORTA ERRADA


A noite já se fazia plena. Um ventinho fora da previsão sacodia a persiana da varanda da sala que, além de decorar o ambiente, serve para abrandar a entrada do sol, quando está inclemente.

Saio do quarto sonolento e vou até lá, a fim de arrumar a tal cortina e permitir que a aragem entre, como se fosse uma convidada bem vinda.

A casa é pequena - do quarto até a sala, basta meia dúzia de passos e, antes de terminar as passadas, me estatelo ao ver, sentado em meu sofá, nada menos que Stendhal!

Tremo, suo frio, fico gelado e ele, sem nenhuma apresentação, pergunta se sou o Carlos. Se não, onde poderia encontrá-lo.

Digo-lhe, gaguejando, que sou Carlos, mas que antes de Carlos, sou Luiz e, como Luiz Carlos, sou também Luca.

Stendhal me pede calma, percebe que estou com medo e diz que se refere ao Carlos, Carlão para uns, Carlinhos para outros e, para alguns íntimos, “Biscoito”.

Imediatamente, informo-lhe que meu amigo Carlinhos já não se encontra entre nós, infelizmente.

Espantado, o escritor observa que não dera conta disso – ainda não o havia encontrado, lá por cima.

Eu explico que foi coisa recente. Ele, assustado, parecia ainda não acreditar. Mais assustado estava eu, pois não me dera conta da importante visita de tão ilustre escritor que, com o vento, entrara em minha casa.

Informo-lhe, então, da veracidade da partida do Carlos e que já se sabia até de vários encontros dele com Paulo Fortes, Mr. Cole, Mr. Porter, Simonsen, a bichona do Freddie Mercury e a “trichona” do Farrokh Bulsara.

Disse-me que podia não ser íntimo dos citados, mas tinha a relação de todos os que, na Terra, tinham sido virtuosos, ou tiveram alguma representatividade  e que já moravam em outra dimensão.

Corrigiu-me, informando que o Sr. Cole e o Sr. Porter eram uma só pessoa. E que a “bi” e a “trichona” também eram o mesmo viadão.

Fiquei pasmo com a terminologia usada por Stendhal para se referir a Freddie Mercury e me desculpei pela confusão que fiz, atribuindo ao nervosismo de que estava tomado com sua presença.

Ele tentava não perder a viagem e quis saber quem eu era.

Tremendo, disse-lhe na cara:

- Sou Tricolor das Laranjeiras, não me venha com “O Vermelho e o Negro”, que esse é do Flamengo!

Sem entender bem porque eu misturava Fluminense e Flamengo com sua grande obra, “Le Rouge et Le Noir”, sugeriu que eu discorresse mais sobre mim mesmo. Então, falei-lhe que havia lido recentemente a sua “A Cartuxa de Parma”, presenteada por Rosa Grieco e que ela, sim, sabia tudo sobre ele. Disse-lhe, a seguir:

- Infelizmente, o endereço dela não lhe dou e lá, onde o Sr. tem sua morada fixa, não haverá de encontrá-la tão cedo. Ela ainda tem muito que fazer por aqui.

Bem, estava na hora de ele ir embora, mas haveria de encontrar o amigo Carlos. Contei-lhe sobre o atropelamento recente do Carlos, ocorrido lá pelas mais altas nuvens.

- Ah, deve ter sido por isso que não o localizei, exclamou ele!

Quis saber quem me contara tudo isso. Sobre o autor do atropelamento, ele não tinha dúvida de que fora Ayrton Senna.

Para que ele fosse logo embora, resolvi dedurar, sem nenhum privilégio legal pela delação premiada, que os que me deram essas informações foram Sergio Fortes e Roberto Dieckmann! (*)

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO acredita que Stendhal não irá largar do pé do Luca, visto que quem acredita nessas figuras mitológicas, sabidamente denegridas e denegridoras, deve ser espremido feito limão em caipirinha. Aliás, o Stendhal botar o Senna num Fiat 147, só coisa de quem se protege com pseudônimo, visto que no Céu não tem CPF.

 

 

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