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quarta-feira, 25 de junho de 2014

2636 - batina justa


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4886                               Data:  14  de  junho de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-”Furiosa, Carlos, era conhecida como Furiosa, acho que isso diz tudo. À frente, um carneirinho uniformizado.
Tinham, todos os integrantes da banda, conduzidos por um Sargento, a minha inveja, por saberem música e saberem fazê-la.” Elio Fischberg.
BM: Essa carta, ou melhor, mensagem eletrônica, do nosso remetente advém de uma pergunta da redação deste periódico motivada pela ida do maestro da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, Antônio Henrique Seixas, ao programa Rádio Memória. As gravações que foram tocadas, na ocasião, remexeram a nossa memória e trouxeram à tona as bandas escolares.
Citei a do colégio em que cursei o ginasial, que eu esperava que participasse do programa “Lira do Xopotó”, na Rádio Nacional”. A memória tem o condão de verdejar até as cores cinzentas do passado, e, provavelmente, a minha fértil imaginação está valorizando a banda do Visconde de Cairu. Então, quis saber, através do Elio, como era a do Colégio Militar, o que explica a mensagem acima reproduzida. Era a “Furiosa”, segundo ele. Será que diante de tanta “fúria”, ele se amansava como um “carneirinho”?
Quanto à inveja dos músicos, eu também sentia, embora nunca me atrevesse a soprar flautim, bombardino, tuba e muito menos a tocar tambor. Pura timidez.
Napoleão Bonaparte, musicalmente falando, gostava mesmo era das bandas, não de orquestras sinfônicas. Disseram alguns dos seus biógrafos que era uma estopada para ele ter de ir a um concerto, que não perdia o ar de enfado nem quando Paganini fazia pirotecnias alucinantes no violino. Ao ir a um concerto, certa vez, reclamou da demora da Josefina para se aprontar, dizendo-lhe que ela levava mais tempo para se vestir do que o compositor levou em criar a sinfonia que ouviriam, naquela noite, no teatro. Puro mau humor de quem queria mesmo era se deliciar com marchas militares executadas por uma boa banda.

-”Solidarizo-me com o redator do Biscoito Molhado nas suas queixas contra o barulho neste período de Copa do Mundo. Apenas as vaias aos políticos que fizeram por merecê-las soam como música aos meus ouvidos.” F.D.R.
BM: O remetente dessa carta preferiu se ocultar atrás de uma rubrica ou acrônimo; se ele não for o Fernando Dias Ramos, é o Franklin Delano Roosevelt.
Bem antes de soar o apito do juiz, dando início ao primeiro jogo desta Copa do Mundo, Brasil x Croácia, a barulheira já provocava danos nos nossos tímpanos. Falando nisso, o apito do juiz de futebol alcança 30 mil hertz, comparável ao dos guardas de trânsito, mas não o daqueles que apitam na Avenida Rio Branco, agora com mão nos dois sentidos, que deve atingir os 50 mil hertz.
Sim, a cidade do Rio de Janeiro, embora não seja a Capital Federal há mais de cinquenta anos, continua a ressoar por todo o país, não como um tambor, como teria dito Getúlio Vargas, mas como todos os instrumentos de uma orquestra infernal.
E eu imagino o poeta latino Marco Valério Marcial, viveu de 40 a 102 d.C., que declarou: “Não posso dormir porque tenho Roma nos pés da cama.” Ele não deve ter ficado ensurdecido como nós ficamos agora.
Os atuais governantes brasileiros, que também conseguem transformar, nos nossos ouvidos, vaias em belas melodias, tentaram impingir, mancomunados com o músico Carlinhos Brown, uma geringonça, denominada caxirola, como o instrumento oficial da Copa do Mundo no Brasil, e ela substituiria a vuvuzela da África do Sul.  Estava tudo acertado, a fabricação seria em escala industrial, entraria dinheiro a rodo nos bolsos de uns poucos, mas se esqueceram de combinar, antes, com os torcedores. As primeiras caxirolas a chegarem às mãos dos torcedores foram transformadas em objetos de agressão, que poderiam ser artefatos de guerra entre torcidas;  a polícia interveio para proibi-las nos estádios de futebol.
Grande prejuízo para uns poucos...
Veio, em seu lugar, a pedhuá, um apito que mal chega aos 3 mil hertz, mesmo que o torcedor sopre com a intensidade do Lobo Mau quando pretende derrubar a casa dos Três Porquinhos.
Como o pedhuá não faz muito estardalhaço e não serve para ferir um torcedor da Argentina ou de outro país que se coloque no nosso caminho para o hexa, não teve a aceitação popular que merecia. As cornetadas, como a música funk, para o nosso desespero, prevalecem absolutas.
Resta-nos o consolo de a vuvuzela da África do Sul não ter virado moda no Brasil.
Nem tudo está perdido.

-O que pensa o redator do Biscoito Molhado sobre a ruidosa vaia, seguida de xingamentos, a presidente Dilma Rousseff”? - Zé da Silva.
BM: Eu penso que o filósofo, escritor e matemático alemão, Georg Christoph Lichtenberg, que viveu no século XVIII, estava  inteiramente certo ao dizer: “Quando os que comandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito.”

Sobre o Biscoito Molhado que cita o escritor Ubaldo Ribeiro, que escreveu que Santo Antônio ficou numa “batina justa” pelo fato de os torcedores brasileiros mais fanáticos o evocarem, quando ele, como português, tem de atender à torcida de Portugal, nesta Copa do Mundo, eu proponho a sua substituição pelo Padre José de Anchieta, que já é, praticamente, santo. Francisco.
BM: Caro Francisco, José de Anchieta também ficará numa “batina justa”, pois é espanhol, nasceu em Tenerife, nas Ilhas Canárias que, diga-se de passagem, nada tem a ver com as aves canoras e sim com os cães.

-”Li a ata de reunião de uma sessão de um Sabadoido em que o irmão do redator do Biscoito Molhado faz alusão às histórias do Ferreira Gullar com os gatos, que não foram narradas pelo poeta no dia em que ele foi ao programa dominical “Rádio Memória”. Ney Sérgio.
BM: Deparando-me com o nome Sérgio, ressurgiu na minha mente o Sérgio Britto, cujo programa “Arte”, na extinta TV Educativa, eu via todos os sábados.
Num desses programas, Sérgio Britto leu uma carta da Nise da Silveira. Ele não a tratou como a pioneira da psicologia Junguiana no Brasil, e sim como gatófila. E eram os gatos os assuntos dessa carta. Sérgio Britto, ao lè-la, com a sua percepção de grande artista, salientou as seguintes palavras dela: “os gatos e gatas são seres muito sensíveis”.
Repercuti isso para o meu irmão, que não assistira a tal programa, e ele concordou, imediatamente, citando casos que provam a afirmação da gatófila Nise da Silveira.
 Um desses casos aconteceu recentemente, dois anos atrás, precisamente. As duas gatas do seu vizinho, provavelmente aborrecidas com o batuque dos atabaques das sessões de umbanda que ele promovia em sua casa, mudaram-se, nessas horas de religiosidade, para a casa do meu irmão. No início, era assim, mas, com o passar do tempo, as gatas iam para lá mesmo que não houvesse evocações a Ogum, Oxóssim, Iansã e quaisquer outras entidades.
Irritada, porque as gatas se instalaram definitivamente na saua casa, minha cunhada enfiou as duas bichanas num carro e as levou para a SUIPA de Benfica.
Mais tarde, arrependida, trouxe elas de volta. Elas chegaram, porém, como uma misteriosa e fatal doença.
Disse-me, meu irmão, que, nos últimos dias vividos pelas duas gatas, elas jamais puseram as patinhas na sua casa.
-Sim, Carlinhos, os gatos e as gatas são muito sensíveis, como escreveu a Nise da Silveira.


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