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terça-feira, 17 de junho de 2014

2634 - estava à toa na vida


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4884                               Data:  10  de  junho de 2014
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A BANDA PASSA NO RÁDO MEMÓRIA

-E o dia de hoje, Sérgio?
-Travestido de Homem-Calendário, ele foi em frente. Citou o nascimento de dois grandes compositores, Albinoni e Schumann, mas antes aludiu ao dia 8 de junho de 1887, quando foi patenteado um invento por Herman Hollerith, que tem tudo a ver com o salário dos nossos avós.
Ao citar o nascimento, em 1913, do grande goleiro Roberto Gomes Pedrosa, descobrimos que o Homem-Calendário, não só é tricolor, como mordaz comentarista dos feitos botafoguenses.
-Ele foi tricampeão pelo Botafogo em 1934. Jonas, o Botafogo ganhou tricampeonato?
-Caro Homem-Calendário, o Botafogo foi o único tricampeão do profissionalismo no futebol carioca; lá vão os anos: 1932, 1933, 1934 e 1935.
Como o Jonas Vieira se acumpliciou a ele na gozação, Sérgio disse que recorreria ao Fernando Borer para dissipar essa dúvida. Caso o médico pesquisador do Rádio Memória seja botafoguense, escalará o escrete que vestiu a camisa da estrela solitária na época:
-Pedrosa, Octacílio e Nariz; Affonso, Martim e Canalli; Álvaro, Leônidas da Silva, Carvalho Leite, Russinho e Patesko.
E o Dieckmann ainda diz que o Botafogo é como o Elvis Presley: brilhou na década de 60 e, agora, está morto... (*)
Do futebol para a religião, embora os mais orelhudos confundam as duas coisas. Em 8 de junho de 632, faleceu Maomé. Ao ouvir isso, levei as mãos à cabeça, temendo que os dois continuassem com o humor sarcástico e fizessem piadas, arriscando-se a serem ameaçados de morte pelos aiatólás, como aconteceu com o escritor Salman Rushdie. Graças a Deus, ou a Alá, isso não se deu. Jonas Vieira afirmou, isso sim, que o Corão tem passagens de grande riqueza poética, e que Maomé, um comerciante, psicografou o livro, que ele era um médium. Creio que, assim, escapou da sentença de morte, ou não?
Deixou-nos a todos abismados  a informação que o dia 8 de junho é o Dia Mundial da Saudade. Como, se a palavra saudade é exclusiva da língua portuguesa?...
Quando chegaram as atrações musicais do programa, gravações de Orlando Silva e Jorge Goulart se impuseram, o que me surpreendeu. Há poucos dias, tendo como fonte o Sérgio Fortes, o Biscoito Molhado soube que participaria desse programa o maestro Antônio Henrique Seixas e toda a sua equipe foi mobilizada para cobrir esse evento. E até a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond, nada.
O cronista se reportou às orações dos torcedores mais fervorosos aos santos nesta época de Copa do Mundo. Nesse mesmo domingo, aliás, João Ubaldo Ribeiro tratou do mesmo tema, escrevendo que Santo Antônio, sendo um santo português, evocado também pelos fanáticos torcedores brasileiros, ficou numa “batina justa”. Ou Neymar ou Cristiano Ronaldo?
Hosana nas alturas, o maestro mais esperado do que Godot chegou! 
Esteve preso no trânsito ou em alguma passeata, deduzimos logo a razão da sua demora.
Sérgio Fortes fora incumbido, agora, de listar o currículo do convidado; trombonista da Orquestra Sinfônica Brasileira, professor de trombone, maestro da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro...
-Fundada em 2010 - frisou.
O maestro foi mais preciso do que o Sérgio Fortes: maio de 2010. Reuniram-se músicos de alto nível e surgiu a banda.
Instigado pelo titular do programa a anunciar a próxima atração musical, o maestro não decepcionou; seria o dobrado “Jubileu”, de Anacleto de Medeiros. Antes de ouvirmos o primeiro sopro dos instrumentos, ele verbalizou uma pequena introdução.  Tratava-se de uma composição, de 1896, que festejava os 50 anos da fundação do Corpo de Bombeiros; e assinalou que a banda do Corpo de Bombeiros, regida por Anacleto de Medeiros, gravou alguns dos primeiros discos, no Brasil, na Casa Edison.
Ouvido o “Jubileu”, de Anacleto de Medeiros, filho de uma escrava liberta, Jonas Vieira escandiu bem as sílabas:
-Sen-sa-ci-o-nal.
-Convidado meu. - disse o Sérgio com o orgulho de quem acertou no olho da mosca (metáfora de um amigo dele que tomamos emprestada).
-Eu, que gosto de bandas... - vibrava ainda o Jonas Vieira.
-O Antonio Henrique comentou que o Anacleto é o Phillip Sousa brasileiro. - revelou o Sérgio Fortes.
-Não deve nada a ele. - foi taxativo o Jonas Vieira.
Como Carlos Átila do Dieckmann, ou seja, porta-voz, Sérgio interveio :
-Dieckmann, que era para vir aqui e não veio (estava de ressaca, suspeitamos no Biscoito Molhado), pediu para falar com o maestro se é verdade que a maior ambição do John Phillip Sousa era compor valsas, mas que era péssimo, então lhe disseram: “isso aí dá uma boa marcha”, e ele resolveu a vida dele.
A versão do nosso amigo nórdico tornou o ambiente ainda mais descontraído.
Jonas Vieira assinalou que John Philip Sousa nasceu americano de pais portugueses, e fez alusão ao filme, de 1952, cujo título “Stars Stripes Forever”, foi tirado do seu maior sucesso.
O maestro falou, então, de discos seus de criações menos famosas do compositor americano, alguns deles musicais.
-Ele compôs até música para balé.
-Para balé?!... - reagiu o Sérgio Fortes, abismado com a informação do Jonas Vieira.
E veio a pergunta que não queria calar do titular do programa:
-E agora, maestro?
-Agora, outro estilo, um maxixe, também chamado de tango brasileiro.
E anunciou “Os Boêmios”, de Anacleto de Medeiros. 
Do primeiro ao último sopro da banda, todos se extasiaram, principalmente o Jonas Vieira que, no meio do encantamento, deu vazão a sua curiosidade:
-Você está envolvido com a banda desde o começo?
-Eu sou um dos fundadores.
-Quantos músicos?
-Sessenta.
-Maravilha! Isso no Brasil é um acontecimento. As orquestras no Brasil praticamente acabaram.
Com essas palavras do Jonas Vieira, fui conduzido à minha fase infanto-juvenil, quando, na companhia do meu pai, escutava a “Lira do Xopotó”, da Rádio Nacional. Alimentei, também a esperança de ouvir nesse programa a banda do meu colégio, Visconde de Cairu, que eu considerava o máximo.
-As bandas, os grupos de sopro, estão, hoje, restritas às formações militares; as da Marinha, Aeronáutica e Exército. As bandas civis estão em extinção. - constatou o maestro a triste realidade.
-Antigamente, as bandas estavam nas ruas.
Tinha razão o Jonas Vieira, até mesmo o Chico Buarque viu uma passar quando estava à toa na vida.
E foi lembrado o Élton Medeiros, também trombonista que, em Copacabana, ouvindo o Rádio Memória, ficaria melhor das mazelas que o incomodam.
-Já que falaram no Élton Medeiros, ele veio da banda.
E prosseguiu o maestro:
-As bandas forneceram grandes talentos: Altamiro Carrilho, Paulo Moura, Severino Araújo...
E a próxima gravação foi da autoria do Severino Araújo, “Um Chorinho Delicioso”, o solo, fez questão de realçar o convidado do programa, era do clarinetista Cristiano Costa, “um dos fundadores da banda”.
-Arranjo primoroso! - concordaram todos com o Jonas Vieira após a audição.
A descontração voltou a reinar quando aludiram ao tamanho gigantesco do convidado. Coube, então, a nós, ouvintes de rádio, imaginarmos um Gulliver em Lilliput à frente de uma banda.
Encerrado o recreio, voltamos à aula de música:
-A agora, maestro?
-Vamos seguir com o Hermeto Pascoal e uma das suas músicas mais famosas, “Bebê”.
E que bebê, de deixar os pais orgulhosos!
O tempo urgia e o titular do programa pediu mais banda.
-Agora, “Mas que nada”, do Jorge Ben, e o arranjo é de um japonês, Naoshiro Iwai. Vocês vão ver que ele faz uma releitura sem tirar as características da música.
E vieram, depois de soada a última nota, mais elogios à banda que nunca foram demais.
Antes do “demorado abraço” da dupla de apresentadores, o maestro comunicou o site da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro: www.bfrj.com.br.

(*) A cada menção, o direito de resposta. Dieckmann, não deu nem bom dia: - Distribuidor, não comparo! Elvis não morreu!

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